"Mas a economia brasileira apresenta altíssima ociosidade e elevado desemprego."
Correto. A alta ociosidade é resultado de investimentos errôneos feitos na época do boom, investimentos esses que foram estimulados por manipulações de juros e inflação da moeda. Várias indústrias se expandiram acreditando que a renda continuaria aumentando indefinidamente, algo que não aconteceu (a renda estagnou e começou a cair em 2014; tudo era ilusório).
Empreendedores — por vários motivos, dentre os principais juros manipulados, crédito estatal subsidiado e moeda continuamente inflacionada — imaginaram que os consumidores atribuiriam a seus bens e serviços valores maiores do que aquele que de fato foi atribuído. Não houve um 'excesso de produção'; houve, isso sim, um erro de cálculo quanto ao futuro
valor de mercado dessa produção.
Tão logo essa expansão do crédito é interrompida, todo o cenário de aumento da renda se revela fictício e artificial, mostrando que nunca houve realmente um aumento da renda da população. Houve apenas inflação da moeda e endividamento. Consequentemente, seus bens e serviços não poderão ser vendidos pelo maior preço antecipado pelos empreendedores.
(
Veja como toda essa teoria de fato ocorreu na prática no Brasil da última década.)
Já o desemprego é consequência direta dessa constatação de que os investimentos foram errados. Tão logo se constata que vários investimentos errados foram feitos (investimentos para os quais nunca houve uma demanda genuína), ocorre a suspensão (ou mesmo a abolição) de determinadas linhas de produção (o que causa o fechamento de empresas e fábricas) e a mão-de-obra destes empreendimentos é demitida
"Isso não é falta de demanda?"
A ociosidade e o desemprego são consequência de erros do passado, os quais devem ser liquidados. O governo deve remover ao máximo os obstáculos burocráticos e regulatórios para que os empreendedores possam rapidamente corrigir seus erros e descobrir quais bens e serviços os consumidores realmente querem (e podem comprar). Dado que o mecanismo de preços é a principal fonte de informação dos empreendedores, uma flexibilidade nos preços de mercado é essencial para uma rápida recuperação.
Uma vez liquidados e corrigidos os erros, aí sim a produção pode ser retomada, e agora mais em linha com a realidade da economia (e não com o cenário fictício que existia no passado). À medida que essa produção for sendo retomada, a renda irá voltar a aumentar. A velocidade da retomada desta produção irá depender diretamente de quão rapidamente as barreiras governamentais à produção forem sendo removidas.
"Com a crise fiscal, o setor público passou a conter fortemente gastos,"
Eis a evolução dos gastos
mensais do governo.
d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/brazil-government-spending.png?s=brazilgovspe&v=201912031233V20191105&d1=19200107
"fora que o BNDES saiu de cena, e o setor privado não preencheu o espaço deixado por aquele.
Esta é a única parte correta. Quando o estado se retrai, o setor privado só entra se houver, dentre outras coisas, segurança jurídica e perspectivas econômicas positivas. Nos últimos anos, não tivemos nada disso.
"Sem pessoas demandando não tem economia... vai pra produzir pra quem ? quem vai consumir se não tem dinheiro ? Primeiro vem as pessoas, depois vem o dinheiro e a lógica fria do mercado."
Frase inócua.
Para consumir, tem de ter renda. Para ter renda, tem de ter produção. Para ter produção, tem de ter investimento. Para ter investimento, tem de ter segurança jurídica, institucional e, acima de tudo, econômica. Ou seja, é necessário remover as barreiras governamentais à produção, começando pela instabilidade da moeda e pelo próprio orçamento bagunçado do governo.
Dica: não há investimentos produtivos em países de dívida alta e crescente porque os investidores temem que esta dívida será quitada com aumentos futuros de impostos. Impostos são custos. Se os investidores acreditam que os impostos aumentarão no futuro (para quitar a dívida), eles obviamente não investirão aqui.
Igualmente, se a moeda é instável, investimentos de longo prazo (que são os que mais criam riqueza e produtividade) não são feitos.
Não há como fazer mágica e abolir esta realidade.
Se nada disso for atacado, aí de fato não haverá renda. E aí realmente ninguém comprará nada. No entanto, observe: a causa de tudo está na
ausência de produção. Sem ela, não há renda.
No final, o fato é que o
crescimento econômico só ocorre quando indivíduos assumem riscos ao investirem o capital próprio (ou emprestado por terceiros) em uma idéia, a qual eles esperam irá agradar terceiros (consumidores) que voluntariamente irão pagar por ela. Não há crescimento econômico sem a tomada de risco. Não há prosperidade sem indivíduos assumindo riscos em investimentos incertos. Por isso,
as barreiras a esses investimentos devem ser abolidas ao máximo possível, caso o intuito seja uma rápida recuperação econômica.
De novo: não é possível contornar e abolir esta realidade.