segunda-feira, 31 out 2011
A
atual onda anticapitalista que varre o mundo comprova, mais uma vez, que a
ideologia anticapitalista, independente da época e do local, sempre confunde
tragicamente o alvo da fúria. A atual
exigência é que se coloque "as pessoas antes dos lucros", como se a busca pelo
lucro fosse a origem dos problemas da humanidade. O problema é que, na realidade, é justamente
a ausência da busca por lucros a causa da grande miséria encontrada nas partes
mais atrasadas do mundo.
Primeiro,
um esclarecimento sobre lucros. Lucros
nada mais são do que uma fatia que um empreendedor consegue reter de toda a sua
da receita, após ele ter quitado todas as suas obrigações. O lucro é aquilo que resta após os custos de
produção — tais como salários, aluguel, juros e demais despesas — terem sido
pagos. Lucros são a recompensa pela
inovação, pelo risco assumido e pelas decisões tomadas. Como tal, eles são um custo empreendedorial,
assim como o são os pagamentos de salários, juros e aluguéis. Se estes pagamentos não forem feitos, a
mão-de-obra, a terra e o capital não irão oferecer seus serviços. Similarmente, se não houver lucro,
empreendedores não irão oferecer os seus.
Historicamente, o lucro sempre foi muito mais baixo do que os gastos com
mão-de-obra. Nos EUA, por exemplo, os
lucros corporativos estão entre 5 e 8 cents para cada dólar, ao passo que os
salários estão entre 50 e 60 cents de cada dólar.
Muito
mais importante do que simples estatísticas sobre a magnitude dos lucros é a
função exercida pelos lucros — qual seja, obrigar os produtores a satisfazerem
as necessidades e desejos do cidadão comum.
Quando foi a última vez que ouvimos reclamações generalizadas em relação
a lojas de departamento, supermercados, lojas de informática, lojas de
ferramenta ou lojas de eletrodomésticos?
Tais empreendimentos operam em um ambiente de mercado relativamente
livre e concorrencial, o que significa que elas têm de se desdobrar para
agradar seus consumidores e não perdê-los para a concorrência. Agora compare os serviços prestados por tais
empreendimentos aos serviços que nos são agraciados por "empreendimentos"
estatais como Correios, DETRAN, polícia, ministério da educação e várias
agências governamentais. Qual dos dois
tipos de serviços gera reclamações generalizadas? A diferença fundamental entre as áreas de
satisfação geral e as áreas de descontentamento generalizado é que a busca por
lucros está presente em uma e não está na outra.
A
busca por lucros força os empreendedores a se manterem atentos aos desejos de
seus clientes. Se, por exemplo, o
cliente de um supermercado não estiver satisfeito com os serviços ali
prestados, ele poderá simplesmente nunca mais voltar ali, recorrendo à concorrência
para ter seus desejos mais bem atendidos.
O dono do supermercado terá prejuízos.
E a função precípua do empreendedor, além de obter lucros, é evitar
prejuízos. Por outro lado, se o DETRAN
ou os Correios ofertarem serviços para lá de insatisfatórios, não será muito
fácil para o descontente consumidor tomar alguma medida contra tais
burocracias. Se um empreendimento
privado possuísse a mesma quantidade de clientes insatisfeitos que possui, por
exemplo, a educação estatal, ele já estaria há muito falido.
Se
um empreendimento privado é insatisfatório, seus clientes o abandonam e ele
perde dinheiro até eventualmente ir à falência.
Se um empreendimento estatal é insatisfatório, os cidadãos, mesmo que
não queiram utilizá-lo, são obrigados pelo governo a dar mais dinheiro para
ele, pois só assim o serviço poderá ser "aperfeiçoado". A diferença moral entre os dois arranjos é
indescritível.
O
capitalismo de livre mercado é implacável.
Ou os empreendedores descobrem novas maneiras de agradar a seus
clientes, continuamente melhorando seus produtos e serviços ao mesmo tempo em
que têm de descobrir novas maneiras de cortar custos e, com isso, obter lucros,
ou eles sofrem prejuízos e vão à falência.
E é exatamente esta rígida disciplina imposta pelo mercado o que assusta
várias empresas, fazendo com que elas recorram ao governo em busca de regulamentações
e de proteção contra a concorrência. É
daí que surge o capitalismo de estado ou o capitalismo clientelista que vemos
hoje ao redor do mundo, com pacotes de resgate, subsídios e privilégios
especiais. Essas empresas que recorrem
ao estado desejam simplesmente reduzir o poder dos consumidores e de seus
acionistas, os quais têm pouca simpatia por erros crassos e tendem a
abandoná-las ao menor sinal de ineficiência.
Ter
o governo ao seu lado — por meio de regulamentações especiais, protecionismo,
subsídios ou pacotes de socorro — significa que uma empresa pode ser muito
menos dedicada aos desejos dos consumidores.
O governo poderá mantê-la operante mesmo que isso vá contra a vontade
dos consumidores. Um explícito exemplo
recente ocorreu nos EUA com a General Motors e com a Chrysler, quando o governo
americano salvou as duas empresas da falência concedendo-lhes pacote de resgate
sob a justificativa de que ambas eram "grandes demais para falir". Balela!
Se a GM e Chrysler tivessem ido à falência, isso não significa que seus
ativos produtivos, como as linhas de montagem e todo o seu maquinário,
magicamente virariam pó e desapareceriam no ar.
A falência teria levado a uma mudança na propriedade destes ativos,
fazendo com que eles fossem entregues a outros empreendedores com melhores
capacidades gerenciais. A intervenção do
governo não apenas impediu que o mercado corretamente punisse tais empresas,
como também acabou por recompensá-las por seus erros grosseiros.
Por
fim, uma observação adicional sobre lucros: frequentemente ouvimos pessoas
dizerem, com um inevitável tom de santidade, que pertencem a organizações "sem
fins lucrativos", como se apenas esse fato por si só já automaticamente se
traduzisse em decência, objetividade e abnegação. Tais pessoas querem nos fazer crer que estão
visando unicamente ao bem da sociedade, e que de maneira algum estão atrás do
"satânico" lucro. Se pararmos um pouco
para pensar no assunto e nos perguntarmos qual tipo de organização, ao longo de
toda a história da humanidade, foi a maior responsável pelo sofrimento desta, a
resposta não será o livre mercado e nem suas empresas privadas que buscam o
lucro; a resposta será 'o governo', a maior organização sem fins lucrativos de
qualquer economia.
Todos
os intelectuais anticapitalistas e todos os críticos da economia de mercado, os
quais frequentemente pedem mais estado e menos mercado, estão seguindo o
caminho previsto pelo grande filósofo-economista Frédéric Bastiat, que em seu
livro A Lei disse que "Em
vez de extirpar as injustiças encontradas na sociedade, eles se esforçam para
generalizá-las." Em outras palavras,
tais pessoas não querem acabar com o capitalismo clientelista, com suas
proteções e favorecimentos governamentais; elas querem é participar dele.