segunda-feira, 23 jan 2012
No complicado
processo de escolha do candidato republicano que irá enfrentar o presidente
Obama nas eleições deste ano, todos os
austríacos
que conheço, americanos ou não, torcem por Ron Paul. Tenho lido e ouvido
algumas críticas a esse apoio, no sentido de que ao optarmos por Paul
estaríamos apenas olhando para os aspectos econômicos de seu programa de
governo, apenas porque seguem os ensinamentos da Escola Austríaca. E, por
extensão, que estaríamos deixando de considerar outros aspectos importantes,
entre os quais o da política externa e, ainda, que estaríamos apoiando um
candidato sem chances de vitória.
Nenhuma das três
críticas, a meu ver, é pertinente, como tentarei demonstrar neste pequeno
artigo. A primeira crítica — a de que olhamos apenas para os pontos positivos
do programa econômico de Ron Paul — é bem característica daqueles que Nelson
Rodrigues chamava de idiotas da
objetividade. Porque seu programa austríaco,
exatamente por ser austríaco,
transcende a economia, alcança fortemente a política e a ética e resgata o que
de mais caro os Estados Unidos sempre tiveram e que foi exatamente o que os
levou ao status de país mais
desenvolvido do mundo: as liberdades individuais e a libertação do indivíduo da
servidão ao estado a que vem sendo progressiva e subliminarmente submetido,
geração após geração. Com efeito, pouca gente percebe que a economia americana,
pouco a pouco, foi se transformando em algo como um socialismo democrático, tal
o peso do governo.
Não, senhores e
senhoras; não estamos olhando apenas para a economia de mercado que ele
pretende recuperar: estamos enxergando os valores econômicos, morais e
culturais que isso significa! Quando o estado avança sobre o indivíduo, ele não
está apenas agindo na esfera econômica; está estabelecendo novos padrões
morais, éticos e culturais, necessariamente inferiores aos que são gerados
pelas ordens espontâneas dos mercados. Os valores morais da economia de mercado
são sempre superiores aos de economias intervencionistas, como os chamados pós-escolásticos demonstraram
sobejamente, antecedendo os austríacos!
Quando um candidato
promete — e há nesse candidato toda uma história de coerência entre o que
sempre disse e o que sempre praticou! — por exemplo, acabar com o monopólio de
emissão de moeda do Fed, poucos conseguem perceber que uma medida dessas teria,
além de um alcance econômico muito salutar, efeitos morais e culturais também
bastante construtivos. O mesmo acontece quando ele diz que vai diminuir o
tamanho do estado ao estritamente essencial e vai cortar impostos e taxas, ou
que vai privatizar a saúde e a educação, que vai, enfim, abalar as estruturas
do chamado estado do bem-estar (welfare
state).
Com Ron Paul,
poupar voltará a ser uma virtude e gastar em excesso voltará a ser um vício,
porque esta é uma das premissas básicas da Teoria Austríaca dos Ciclos
Econômicos. Não haverá mais um Fed, dominado por políticos e por tecnocratas,
estabelecendo os valores das taxas de juros, não haverá mais keynesianismo ou monetarismo, a não ser em uma ou outra universidade... Isso, apenas
isso, já seria motivo para esse homem ser eleito presidente dos Estados Unidos,
porque os outros países, cedo ou tarde, acabariam instados a seguir esse bom
exemplo.
Mas não é só isso!
No plano da política externa, por exemplo, seus detratores o acusam de
pacifismo, de um pacifismo que seria descabido diante das ameaças terroristas
que apavoram o ocidente. A resposta é simples: há quantos anos os Estados
Unidos vêm se metendo em guerras e mais guerras, que nada mais têm feito do que
aumentar o ódio contra o país e fomentar as ações de extremistas terroristas?
Quantas famílias americanas choram seus filhos mortos em combates em países
remotos, a troco de nada, a não ser popularidade para políticos oportunistas? É
uma questão essencialmente prática e ética, pois o povo americano está farto de
guerras imorais lançadas deliberadamente sob falsos pretextos
Por fim, quanto a
Ron Paul ter poucas chances de vitória, primeiro, parece cedo para levarmos tal
afirmativa a sério e segundo, mesmo que isso seja verdade, vale a pena apoiar
algum outro candidato republicano acreditando que este, sim, terá chances de
vencer Obama? Diversas
pesquisas vêm apontando que o único republicano com reais possibilidades de
vencer Obama é exatamente Ron Paul, porque os outros são quase que cópias do
atual presidente, ou seja, mais do mesmo, assim como no Brasil tanto faz votar
em um candidato do PSDB ou em um do PT, porque ambos acreditam na
social-democracia. Rick Santorum, por exemplo, acaba de declarar que a economia
americana precisa de uma "pequena
inflação", o que, cá entre nós, é uma estupidez além da conta, digna de
certos economistas tupiniquins que estão no governo brasileiro. E Romney, em
que será diferente dos demais, no processo de degradação econômica e externa
que os EUA vêm sofrendo?
Não, gente, o que
posso afirmar com convicção é que lamento não poder contar com um candidato
como Ron Paul aqui no Brasil, e que essa convicção valeria mesmo se eu me
convencesse de que ele não tem chances de vitória. Esse homem é a esperança de
dias melhores na economia, na política e na ética. E não apenas para os Estados
Unidos. Para o mundo ocidental. Tomara que vença! Mas, mesmo se não conseguir,
já plantou muitas sementes para as gerações futuras!