quarta-feira, 11 jul 2012
Uma
das mais difíceis lições econômicas a ser ensinada aos neófitos desta área —
e, surpreendentemente, também a vários economistas bem treinados — é a ideia
de que a teoria econômica não pode dizer nada definitivo sobre declarações
subjetivas.
Ela não pode dizer se algo é
ótimo, bom, ruim ou péssimo. Permitam-me
alguns exemplos para esclarecer melhor este ponto.
O
vinho Cabernet Sauvignon é melhor do que o Fumé Blanc. Peru é melhor do que porco. Matéria no estado sólido é melhor do que no
estado de plasma. Cada uma destas
afirmações utiliza suas próprias premissas como prova das próprias afirmações,
o que nada mais é do que um raciocínio circular. Por isso, fica a pergunta: onde está a prova
de cada uma destas afirmações?
Sendo
declarações meramente subjetivas, discordâncias entre os debatedores podem se
prolongar ad infinitum. É tudo simplesmente uma questão de opinião
pessoal. A opinião de uma pessoa sobre o
que é melhor ou pior é tão válida quanto a opinião de outra pessoa.
Agora,
compare estas declarações a estas outras aqui: água é formada de moléculas
compostas por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Cientistas não podem dividir o átomo. A distância em graus do equador ao Pólo Norte
é de 90. Com afirmações positivas como
estas, se houver qualquer desacordo, existem fatos para os quais o proponente
destas ideias pode recorrer para resolver a contenda. Por exemplo, se um indivíduo diz que cientistas
podem dividir o átomo, mas outro diz que não, uma viagem ao acelerador linear
de Stanford para se observar átomos sendo divididos resolve a questão.
No entanto, se você disser que Fumé Blanc é
melhor do que Cabernet Sauvignon e eu disser que Cabernet Sauvignon é melhor,
nossa discordância pode se prolongar eternamente, pois não há fatos ou números
concretos para os quais podemos recorrer.
Uma
maneira sempre útil de saber se uma afirmação é subjetiva é observar o uso de
termos como 'deveria', 'tem de', 'melhor' e 'pior'. Sempre digo aos meus alunos que, embora seja
importante saber se uma afirmação é subjetiva ou não para se raciocinar
corretamente, de modo algum estou sugerindo que eles expurguem de seu
vocabulário afirmações subjetivas.
Afirmações subjetivas são muito úteis para confundir os outros e
levá-los a fazer exatamente aquilo que você quer que eles façam para você.
No entanto, no processo de enganar os outros,
o indivíduo não precisa se enganar a si próprio.
Por exemplo, um político diz que cursar
universidade gratuitamente "é um imperativo econômico que deve ser acessível a todas as
famílias da nação". Não há absolutamente
nenhuma evidência que confirme indiscutivelmente esta afirmação. Com efeito, há vários exemplos de pessoas
inteligentes e extremamente bem-sucedidas que sequer completaram o ensino
médio. Da mesma maneira, há vários
exemplos de pessoas com doutorado que não têm a mínima ideia do que fazem no
mundo. Não obstante, tal afirmativa é
uma ótima maneira de coagir os outros a pagar pela educação de alguém.
E
quanto à afirmação de que as pessoas não deveriam praticar discriminação de
raça ou sexo? Qualquer que seja a
validez emocional de tal afirmação,
ela é, acima de tudo, um mero juízo de valor. Ademais, se a interpretarmos
literalmente, concluiremos que ela é uma tolice sem absolutamente nenhum
sentido.
Pense a respeito. Discriminação nada mais é do que um simples
ato de escolha. Sempre que escolhemos
algo — ato este que fazemos várias vezes ao dia —, estamos
discriminando. Quando escolhemos uma
pessoa para ser nossa parceira para o resto da vida, estamos inevitavelmente discriminando
ou por raça ou por sexo ou por ambos.
Você gostaria de viver em uma sociedade em que houvesse punições por tal
discriminação? Gostaria que o governo
estipulasse com quem você deveria se casar?
Já
tive alunos que argumentaram que a discriminação por raça e sexo no que diz
respeito ao casamento é trivial e sem grandes consequências; mas, no que
concerne ao mercado de trabalho, tem de haver leis impondo a igualdade de
oportunidade. Mas o que é igualdade de
oportunidade, e como você pode afirmar que ela está sendo aplicada?
Sempre pergunto aos alunos que defendem esta
ideia se eles, ao se formarem, irão dar a cada empregador uma igualdade de
oportunidade para contratá-los; se eles irão se oferecer igualmente para as
grandes empresas que pagam bem e para o administrador do cemitério que precisa
de mais coveiros. E eles sempre me olham
com uma expressão atônita e dizem, um tanto constrangidos, que não. E então eu pergunto: "Se você não vai dar a
cada empregador a igualdade de oportunidade de lhe contratar, por que então
todos os empregadores deveriam ser forçados a lhe dar uma igualdade de
oportunidade para ser contratado?"
Sempre
que a discussão resvala para a lei da demanda, o termo "necessidade" sempre
surge. Um estudante pode dizer que um
carro, um celular e água encanada são necessidades essenciais. Minha resposta é que carros, celulares e água
encanada não podem ser necessidades essenciais, pois as pessoas conseguiram
viver sem estes itens por muito mais tempo do que vivem com eles. Não há nada sem o qual as pessoas não possam
viver; apenas as consequências é que podem não ser muito agradáveis.
E
você pode dizer, "Williams, mas este seu pensamento não é nada
misericordioso!". Correto. Creio que ser misericordioso para com um
semelhante é algo que requer análise isenta e raciocínio desapaixonado. Em outras palavras, temos de pensar com nosso
cérebro e não com nosso coração.