Não
é nenhuma coincidência que os governos de todos os países do mundo queiram estar
no controle da educação das crianças. Os
serviços de educação fornecidos pelo aparato estatal supostamente devem ser vistos
como uma evidência da bondade do estado e da preocupação de seus burocratas
para com nosso bem-estar.
Mas o real objetivo
é bem menos bajulador, e muito fácil de entender: se toda a propaganda
governamental inculcada nas salas de aula conseguir criar raízes dentro das
crianças à medida que elas crescem e se tornam adultas, estas crianças não
serão nenhuma ameaça ao aparato estatal.
Elas mesmas irão prender os grilhões aos seus próprios tornozelos.
H.L.
Mencken certa vez disse que o estado não quer apenas fazer com que você obedeça
às suas ordens inquestionavelmente. O
estado quer fazer com que você queira
obedecê-lo voluntariamente. E isso é
algo que a educação controlada pelo estado — não importa muito se as escolas são
públicas ou privadas, desde que seja o estado quem esteja ditando os currículos
— faz muito bem.
Um
pensador político há muito esquecido, Étienne de la Boétie,
nunca deixava de se questionar por que as pessoas sempre toleravam regimes
opressivos. Afinal, os governados estão
em maioria esmagadora em relação aos governantes. Sendo assim, as pessoas poderiam pôr um fim a
todo o autoritarismo se elas realmente quisessem. E, no entanto, isso raramente acontecia.
Por ora, gostaria apenas de entender como pode ser que
tantos homens, tantos burgos, tantas cidades, tantas nações suportam às vezes
um tirano só, que tem apenas o poderio que eles lhe dão, que não tem o poder de
prejudicá-los senão enquanto eles têm vontade de suportá-lo, que não poderia
fazer-lhes mal algum senão quando preferem tolerá-lo a contradizê-lo.
Coisa extraordinária, por certo; e, porém, tão comum que se deve mais
lastimar-se do que espantar-se ao ver um milhão de homens servir
miseravelmente, com o pescoço sob o jugo, não obrigados por uma força maior,
mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiçados apenas pelo nome de
um...
Chamaremos isso de covardia? ... Se cem, se mil aguentam os
caprichos de um único homem, não deveríamos dizer que eles não querem e que não
ousam atacá-lo, e que não se trata de covardia e sim de desprezo ou
desdém? Se não vemos cem, mil homens, mas cem países, mil cidades, um
milhão de homens se recusarem a atacar um só, de quem o melhor tratamento
fornecido é a imposição da escravidão e da servidão, como poderemos nomear
isso? Será covardia? ... Quando mil ou um milhão de homens, ou mil
cidades, não se defendem da dominação de um homem, isso não pode ser chamado de
covardia, pois a covardia não chega a tamanha ignomínia. . . Logo, que monstro
de vício é esse que ainda não merece o título de covardia, que não encontra um
nome feio o bastante . . . ?
De
la Boétie
concluiu que a única maneira pela qual qualquer regime poderia sobreviver seria
se o público lhe desse seu consentimento.
Tal consentimento poderia ser tanto um apoio entusiasmado quanto uma
resignação estóica. Mas se tal
consentimento desaparecesse, os dias do regime estariam contados.
E,
de fato, é necessário um sistema educacional enormemente distorcido para fazer
com que as pessoas emprestem seu consentimento a qualquer arranjo estatal. Afinal, o que é o estado? É um grupo dentro da sociedade que clama para
si o direito exclusivo de controlar e espoliar a vida de todos. Para isso, ele utiliza um arranjo especial de
leis que permite a ele fazer com os outros tudo aquilo que esses outros são
corretamente proibidos de fazer: atacar a vida, a liberdade e a propriedade.
Por
que uma sociedade, qualquer sociedade, permitiria que tal quadrilha desfrutasse
incontestavelmente desse privilégio?
Mais ainda: por que uma sociedade consideraria legítimo esse
privilégio? É aqui que o controle da
mente entra em cena. A realidade do estado é
inquestionável: trata-se de uma máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo
— tudo isso em larga escala. Sendo
assim, por que tantas pessoas clamam por sua expansão? Aliás, por que sequer toleramos sua
existência? A própria ideia da
instituição estado é tão implausível por si só que é preciso que ele, o estado,
coloque sobre si um manto de santidade para que consiga apoio popular
E
é por isso que a educação autônoma — a verdadeira educação — é uma enorme
ameaça para qualquer regime. É por isso
que ela é combatida tão veementemente pelo estado e seus burocratas. Se o estado perder o controle daquilo que
entra em sua mente, ele perde o segredo de sua própria sobrevivência.
E
o estado já está começando a perder este controle. A mídia tradicional, aquela que sempre se
esforçou disciplinadamente para carregar água na peneira pelo estado desde
tempos imemoriais, já está se sentindo ameaçada por vozes independentes na
internet. Não creio que hoje qualquer
pessoa com menos de 25 anos leia algum jornal.
Algumas escolas públicas nos EUA já estão implementando um programa
abertamente despótico, mas necessário para sua sobrevivência: as crianças têm
de usar braceletes eletrônicos que monitoram sua exata localização durante os
horários de aula. A intenção clara é se
certificar de que as crianças estão comparecendo regularmente à escola para ouvir
o que o estado tem a lhes dizer.
[E tal medida já está também operante no Brasil]
Como
tudo isso irá acabar? Impossível saber
de antemão, mas os prospectos da liberdade são animadores. Por mais que a mídia e a classe política
operem em conjunto para sustentar a santidade do estado, tal blindagem já foi
rompida. E esta tendência é
irreversível.
É
por isso que o nosso desafio é o mais radical que já foi apresentado ao
estado. Nossa intenção não é tornar o
estado mais "eficiente" ou dar ideias de como ele pode aumentar suas receitas. Tampouco queremos mudar seu padrão de
protecionismo, de privilégios e de redistribuição de riqueza. Nossa intenção não é dizer qual programa de
subsídio é o melhor e qual deve ser alterado, ou qual tipo de imposto faria com
que o sistema fosse gerido mais harmoniosamente. Não queremos alterações pontuais no
estado. Rejeitamos o atual sistema por
completo.
E
não nos opomos a essa máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo que é o
estado por ele ser 'ineficiente' ou 'improdutivo'. Nós nos opomos ao estado porque extorsão,
pilhagem e autoritarismo nunca podem ser medidas moralmente aceitáveis.
O
estado moderno nada mais é do que uma disputa de poder entre quadrilhas, cada
qual visando seus próprios interesses e os de sua base de apoio. Quem está interessado apenas em liberdade,
não apenas está sem representação como também é obrigado a sustentar ambos os
grupos. Por isso, não imploramos pelas
migalhas que eventualmente caem da mesa do banquete totalitário. Tampouco queremos um assento a esta
mesa. O que queremos é derrubar a mesa
totalmente.
Há
muito trabalho a ser feito. Um número
incontável de indivíduos foi persuadido de que é do interesse deles ser roubado,
proibido de adquirir bens estrangeiros, ter seu poder de compra destruído e ter
de obedecer a todas as ordens ditadas por uma elite governamental que na
realidade não está nem aí para nosso bem-estar e cujo único objetivo é aumentar
seu poder e sua riqueza à custa do nosso padrão de vida.
A
mais letal e antissocial instituição da história da humanidade continua a se autodescrever
como sendo a fonte essencial de toda a civilização. A partir do momento em que o governo assumiu
o controle da educação, as pessoas aprenderam que o estado está ali para
protegê-las da pobreza, dos remédios estragados e até dos dias chuvosos; para dar
estímulos quando a economia estiver ruim e para nos defender de todos aqueles
elementos perigosos ou gananciosos que estão fora da máquina estatal (pois
dentro dela eles não existem). Esta
visão, por sua vez, é diariamente reforçada e intensificada pela mídia impressa
e eletrônica, os porta-vozes do regime.
Se
o público foi iludido, cabe a nós a imprescindível tarefa de desiludi-lo. É necessário rasgar o manto de santidade sob
o qual o estado se esconde. Esta é a
tarefa mais crucial de nossa época. E
qualquer um pode fazer sua parte.
Comece
consigo próprio. Eduque-se. Aprenda tudo o que puder sobre uma sociedade
livre. Leia os grandes, como Frédéric
Bastiat, Ludwig
von Mises, Murray
Rothbard, Henry
Hazlitt, Hans
Sennholz, George
Reisman, Tom
Woods, Thomas
DiLorenzo e Jesús
Huerta de Soto. À medida que você
for aprofundando seus conhecimentos, compartilhe o que você está lendo e
aprendendo. Crie um blog. Crie um canal no YouTube. Organize um grupo de estudos. O que quer que faça, aprenda e espalhe seu
conhecimento. Jamais pare.
Se
foi por meio da propaganda que as pessoas irrefletida e insensatamente
aceitaram as alegações do estado, então será por meio da educação que elas
serão trazidas de volta ao seu juízo.
Com
a mídia — o suporte indispensável do estado — em franca decadência, será cada
vez mais difícil para o aparato estatal fazer com que suas alegações sejam
prontamente aceitas; será difícil o estado continuar persuadindo as pessoas a
aceitarem suas mentiras e propagandas.
Você
certamente já ouviu dizer que a pena é mais poderosa que a espada. Pense na espada como se ela fosse o
estado. Pense na pena como se ela fosse
você divulgando as ideias da liberdade.
Qual, no final, terá mais chances de ganhar os corações e a mente das
pessoas?
Tenha
sempre em mente esta constatação de Étienne de la Boétie: todo e qualquer
governo depende do consentimento das pessoas; tão logo o público retirar seu
consentimento, qualquer regime estará condenado.
É
por isso que o regime ora nos ridiculariza, ora nos teme. E é por isso que, não obstante todos os
horrores que lemos diariamente, podemos ter a ousadia de olhar para o futuro
com alguma esperança.