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Alguns detalhes pouco conhecidos da crise financeira de 2008

Não demorou muito para que os detratores do mercado descarregassem seus ataques histéricos ao capitalismo logo após os eventos de 2008.  A crise financeira que resultou na quebra de vários bancos foi interpretada como sendo a prova cabal do quão destrutivo o "capitalismo desregulado" pode ser e do quão perigosos seus defensores são — afinal, os defensores do livre mercado se opuseram a todos os pacotes de socorro concedidos aos bancos, pacotes esses que supostamente salvaram os EUA de outra Grande Depressão.

Em seu livro The Great Deformation, David Stockman — ex-congressista e diretor da Secretaria de Administração e Orçamento do governo Reagan de 1981-85 — conta toda a história da recente crise, e ataca impiedosamente o senso comum que credita às políticas do governo e a Ben Bernanke o mérito de ter salvado os americanos de outra Grande Depressão.  Neste campo, a contribuição de Stockman é sem precedentes. 

O livro aborda todos aqueles argumentos que foram apresentados em defesa dos pacotes de socorro em 2008, os quais até hoje ainda representam o senso comum da mídia e da academia.  Tanto naquela época quanto hoje, o principal argumento sempre foi o de que, caso o governo não interviesse, um "efeito contágio" iria fazer a crise financeira se propagar para todos os setores da economia americana, indo para muito além de alguns poucos bancos e corretoras de Wall Street.  Sem os pacotes de socorro, as folhas de pagamentos de todas as empresas americanas não mais poderiam ser cumpridas.  Os caixas eletrônicos parariam de soltar dinheiro e ficariam paralisados.  Mas as sábias decisões políticas tomadas pelo Tesouro e pelo Federal Reserve impediram estes e outros cenários tenebrosos, e impediram a segunda Grande Depressão.

Peguemos o exemplo do socorro à gigante AIG [American International Group, corporação americana provedora de serviços financeiros e seguros nos EUA e em outros países].  A AIG era uma empresa que fornecia seguros contra calotes de hipotecas.  Os bancos concediam empréstimos para a aquisição de imóveis, e essas carteiras de empréstimos eram seguradas pela AIG.  Para fazer tal seguro, a AIG vendia para os bancos um instrumento chamado CDS [credit default swap], e os bancos faziam uma série de pagamentos periódicos para a AIG em troca destes CDS.  Caso os devedores dessem o calote nos empréstimos bancários, a AIG pagaria aos bancos. 

Porém, como os calotes foram vários, a AIG ficou completamente insolvente e foi socorrida pelo governo americano.  O socorro ocorreu sob um ambiente de total histeria.  Disseram ao público que a AIG tinha de ser socorrida pelo governo porque, caso contrário, todo o sistema bancário americano, cujas perdas estavam seguradas pela AIG, quebraria.  O problema é que praticamente nenhum dos CDS vendidos pela AIG estava em posse dos bancos convencionais, aqueles fora de Wall Street.  E mesmo em Wall Street os efeitos seriam confinados a apenas uma dúzia de bancos e corretoras, sendo que absolutamente todos eles possuíam um amplo colchão para absorver tais prejuízos.

No entanto, graças aos pacotes de socorro do governo, os barões não tiveram um dólar de prejuízo em suas hipotecas caloteadas.  No final, todo o socorro orquestrado pelo governo se resumiu a proteger os ganhos de curto prazo e os bônus dos executivos a serem pagos no final daquele ano.

Essa proteção do estado aos grandes não foi de modo algum uma medida inédita.  Dez anos antes, o Fed já havia emitido um sinal bastante claro de qual seria sua política futura: ele socorreu um hedge fund chamado Long Term Capital Management (LTCM).  Se aquela empresa foi socorrida, concluiu Wall Street, então não mais há limites para os tipos de loucura que o Fed socorreria com sua criação de dinheiro.

Desde o início, o LTCM, diz Stockman, era "um flagrante desastre financeiro que havia acumulado taxas de alavancagem de 100 para 1 com o objetivo de financiar gigantescas apostas especulativas em moedas, ações, títulos e derivativos ao redor do globo.  A acentuada temeridade e a vultosa escala das especulações do LTCM não possuíam paralelo na história financeira americana . . . . O LTCM era algo explicitamente insolvente, e não tinha absolutamente nenhum direito de recorrer ao governo para utilizar recursos públicos para se safar."

Quando o índice S&P 500 disparou 50% ao longo dos quinze meses seguintes, isso não era um sinal de que as empresas americanas estavam vendo suas perspectivas de lucros aumentarem 50%.  Ao contrário, tal aumento indicava a confiança de Wall Street de que o Fed iria impedir que futuros investimentos errados recebessem as tradicionais punições impostas pelo livre mercado.  Sob este 'capitalismo de estado', o índice do mercado de ações passou a refletir "o estímulo monetário que era esperado do Banco Central, e não a expectativa de aumento dos lucros de empresas operando no livre mercado."

Não foram apenas algumas empresas específicas que usufruíram das benesses do Fed de Alan Greenspan e Ben Bernanke; todo o mercado de ações foi beneficiado.  As políticas do Fed passaram a se concentrar no "efeito riqueza" gerado pelo aumento dos preços das ações.  A ideia era que, se o Fed estimulasse os preços das ações, os americanos donos destas ações se sentiriam mais ricos e consequentemente estariam mais propensos a gastar mais e a se endividar mais para continuar consumindo, desta forma estimulando a atividade econômica.  E foi isso o que aconteceu.

Esta abordagem política, por sua vez, praticamente compeliu a implementação dos pacotes de socorro que inevitavelmente viriam.  Qualquer evento que pudesse derrubar os preços das ações iria frustrar esse efeito riqueza.  E isso não era tolerável.  Logo, o sistema teria de ser estimulados por todos os meios necessários.

Quais os resultados desta política?  Ela tem algo do que se gabar?  Stockman fornece a resposta:

Se os planejadores centrais do sistema monetário estavam tentando criar empregos por meio do sinuoso método do "efeito riqueza", então eles têm de estar profundamente constrangidos pela sua incompetência.  A única coisa que ocorreu no front da criação de empregos ao longo da última década foi uma maciça expansão das 'brigadas do urinol e do diploma' — isto é, os empregos foram criados apenas em hospitais, clínicas de repouso, agências de saúde domiciliar e faculdades.  Com efeito, o complexo educacional-hospitalar responde pela totalidade dos empregos criados desde o final da década de 1990 nos EUA.

Enquanto isso, o número de empregos realmente capazes de sustentar uma família de classe média não aumentou absolutamente nada entre janeiro de 2000 e janeiro de 2007, permanecendo em 71,8 milhões.  Toda a forte expansão ocorrida no mercado imobiliário, no mercado de ações e no consumo das famílias conseguiu, no final, produzir apenas esta amarga estatística.  E quando se considera todo o período de 12 anos desde 2000, houve uma criação líquida de 18.000 empregos por mês — um oitavo da taxa de crescimento da força de trabalho.

Abaixo, a evolução da taxa de emprego em relação ao total da população.

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Após o estouro da crise financeira, o Fed continuou criando dinheiro para irrigar o mercado de ações.  Em setembro de 2012, o S&P já havia subido 115% desde suas mínimas atingidas no pós-crise.  Dos 5,6 milhões de empregos capazes de sustentar uma família de classe média perdidos durante a recessão, somente 200.000 haviam sido restaurados até aquele mês.  E durante esta tão badalada "recuperação", o fato é que as famílias americanas gastaram, no terceiro trimestre de 2012, US$30 bilhões a menos em alimentos do que gastaram durante o mesmo período de 2007.

O repentino surgimento de enormes déficits orçamentários nos últimos anos, na casa de US$ 1 trilhão, simplesmente explicitou aquilo que a bolha dos anos Bush havia escondido.  A falsa riqueza gerada pela expansão do mercado imobiliário e do consumismo no período 2000-2008 conseguiu reduzir temporariamente a quantidade de dinheiro gasta em programas assistencialistas, e temporariamente aumentou a quantidade de receita tributária auferida pelo governo.  Porém, tão logo essa falsa prosperidade se arrefeceu, o verdadeiro déficit, o qual havia apenas sido suprimido por estes fatos temporários, começou a aparecer.

Durante todo este período de bonança artificial, o Fed havia garantido aos americanos que os EUA estavam vivenciando uma genuína prosperidade.  Ao inundar Wall Street com dinheiro criado do nada, o Fed viu o valor das ações e dos imóveis disparar e anunciou que estava contente com o "efeito riqueza" assim gerado.  As pessoas passaram a utilizar a contínua valorização de seus imóveis como colateral para refinanciar suas dívidas e conseguir mais empréstimos junto aos bancos, aumentando continuamente seu consumo e seu endividamento.  Ao testemunhar esta farra consumista, o Fed maravilhou-se com o fato de que os dados macroeconômicos eram ainda melhores do que o esperado. 

Que estas deformações tenham sido confundidas com prosperidade e crescimento econômico sustentável é uma boa prova da insensatez sem fim das doutrinas monetárias hoje em voga no meio monetário.

Stockman também discute em seu livro as condições fiscais do governo americano.  Parte dessa história nos remete aos gastos militares dos anos Reagan.  A história narrada por Stockman, que foi membro daquele governo, não é a mesma que se ouve da boca dos políticos.  A verdadeira história é exatamente aquela da qual todo mundo suspeitava: um frenesi de programas irrelevantes e arbitrários, os quais, uma vez iniciados, não mais eram interrompidos, dado que vários empregos passaram a depender deles.

Mas pelo menos esta escalada dos gastos militares gerou o colapso da União Soviética, certo?  Stockman não acredita nisso.  "Os US$3,5 trilhões (em dólares de 2005) gastos em defesa durante os anos Reagan não fizeram com que o Kremlin erguesse a bandeira branca da rendição.  Praticamente nenhum dólar foi gasto em programas que de fato ameaçassem a segurança soviética ou debilitassem sua estratégia de intimidação nuclear."

No cerne do programa de gastos militares do governo Reagan . . . havia um paradoxo.  Os tambores da guerra rufavam uma estratégica ameaça nuclear que virtualmente ameaçou a civilização americana.  No entanto, o dinheiro estava sendo realmente gasto em tanques, barcaças de desembarque anfíbio, helicópteros de apoio aéreo aproximado, e uma vasta armada convencional de navios e aviões.

Estas armas seriam de pouco valor na eventualidade de um embate nuclear, mas eram muito adequadas a missões imperialistas de invasão e ocupação de outros países.  Ironicamente, portanto, a corrida armamentista do governo Reagan foi justificada por um Império do Mal (como ele se referia à URSS) que estava rapidamente desaparecendo, mas, no final, foi utilizada para iniciar guerras eletivas contra um Eixo do Mal que nem sequer existia.

O que realmente viria a derrubar a União Soviética era a sua própria economia centralizada — um ponto que, observa Stockman, os economistas libertários já vinham anunciando havia algum tempo.  Os neoconservadores, por outro lado, faziam ridículas alegações sobre as capacidades soviéticas e sobre sua 'portentosa' economia exatamente em uma época em que sua decrepitude já deveria estar óbvia para todos.  Estas asserções inflamadas sobre os inimigos do regime continuaram a ser o procedimento padrão dos neoconservadores até muito tempo depois do fim dos anos Reagan.

No final, o objetivo do livro de Stockman é mostrar como todos os intelectuais da mídia e do meio político enganaram e manipularam os americanos.  Acima de tudo, seu objetivo é mostrar que as tentativas de culpar os atuais problemas econômicos dos EUA no "capitalismo" são ilógicas e absurdas, e revelam uma completa falta de entendimento sobre como a economia tem sido deformada ao longo das últimas décadas.

Stockman bate com gosto nos formadores de opinião progressistas — defensores do cidadão comum, como gostam de se autointitular — que defenderam os pacotes de socorro aos bancos e naqueles pretensos "livre-mercadistas" que defenderam o TARP (Troubled Asset Relief Program — Programa de Alívio para Ativos Problemáticos), como praticamente todos os candidatos republicanos de 2012, com a exceção de Ron Paul.  Ambos os lados, em uníssono com a mídia convencional, repetiram continuamente estórias assustadoras sobre o quão grande seria a tragédia caso o governo não tomasse dinheiro dos pequenos para dar para os grandes.  E ambos os lados só tinha coisas boas a dizer sobre como o Fed gerenciou a economia americana nos últimos 25 anos.

O livro de Stockman mostra com dados, argumentos e uma sólida teoria por que o livre mercado tem de ser exonerado das acusações violentamente proferidas por burocratas, políticos e seus aliados, todos ávidos para encontrar um bode expiatório que os livrasse das consequências trágicas de suas próprias políticas.



autor

Lew Rockwell
é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.



  • Andre Cavalcante  13/03/2013 12:23
    O pior de tudo é que a mídia acaba acertando quando diz que a culpa foi do "capitalismo", pois, para essa gente, o capitalismo de mercado, ou seja, o mercantilismo, ou como dizia Musolini, o fascismo, é que é o "verdadeiro capitalismo". Na boa, precisamos inventar outro nome para o livre-mercado. É só uma questão de marketing mesmo, mas deveras importante.

    Abraços
  • Bruno  13/03/2013 16:29
    André Cavalcante, já existe outro nome e é Catalaxia. Cf. Capítulo 14 do "Ação Humana".
  • Wagner  13/03/2013 17:23
    Catalaxia? Parece doença terminal isso... a gente bem que podia fazer uma vaquinha e arrumar um pessoal capacitado pra divulgar as ideias de direita.
  • Cesar Massimo  14/03/2013 00:27
    Excelente artigo.
    Ron Paul vem denunciando há anos esta situação. Faça bobagem, mas das grandes, que o estado ajuda.
    Não é difícil entender que, quanto maior a esperança de socorro do estado, mais os empreendedores arriscarão.
    Mas para o cidadão é difícil entender a complexidade do mercado, se sente fraco e pequeno e vem a esperança que um ser supremo chamado estado resolverá tudo. Como se este mesmo estado não fosse composto por pessoas iguais ou piores que a média da sociedade.
  • Melanie Schwartz  13/03/2013 14:21
    Muito bom o texto e a tradução, parabéns.
    Assim que eu tiver tempo, pretendo ler o livro do David Stockman.
  • Julio Heitor  13/03/2013 14:24
    Acredito que o Brasil está exatamente neste tipo de beco sem saída:

    Inflação alta às vésperas de eleições gerada pela oferta de crédito por meio de impressão de papel moeda, desonerações pontuais para reduzir a mesma mas que aumentam o déficit fiscal, que por sua vez "obriga" o governo a imprimir mais papel moeda. Banco central fazendo de tudo para não aumentar os juros pois isso aceleraria a inevitável e já às portas recessão brasileira.

    www.valor.com.br/valor-investe/casa-das-caldeiras/3041208/governo-abranda-ipca-e-amplia-inseguranca-do-investidor

    Alguém poderia dar uma previsão, mesmo que com uma alta margem de erro, sobre quando a recessão vai estar oficialmente nos noticiários e consequentemente na cabeça da população?

    Podem me chamar de sadomasoquista, mas nao vejo a hora da recessão aparecer para que esta inflação parar de corroer meu salário.
  • Anonimo  13/03/2013 17:13
    Como posso entrar em contato com alguém do Mises Brasil que esteja em são paulo capital ? Eu vou fazer faculdade de economia (tenho certeza absoluta que é isso que eu quero estudar) e ficaria muito feliz se consguisse umas dicas. Obrigado
  • Leandro  13/03/2013 17:28
    É melhor dialogar aqui mesmo com os leitores. Pessoalmente, não recomendo fazer economia. É preciso ter um preparo intelectual muito alto, senão seu QI despenca. O ambiente universitário brasileiro, na área de humanas, é fecal.
  • Julio Heitor  13/03/2013 18:10
    Leandro,

    pela última palavra que voce usou no seu comentário já dá para saber o nível intelectual dos professores de economia do Brasil. HEHEHEHE.

    Se não me engano o Arminio Fraga se formou na PUC-RJ em economia e me parece que ele entende um pouco como as coisas funcionam. Não foi ele que "arrumou um pouco da bagunça" durante o governo FHC?

  • Leandro  13/03/2013 18:18
    Em minha opinião, ele foi o segundo pior presidente do BC da época do real. O pior é o atual. O melhor foi Gustavo Franco.
  • Anonimo  13/03/2013 17:53
    Leandro,
    Hahahahahahahahaah
    Aposto que despenca mesmo!
    Mas eu to acostumado! Estudo em um desses "colégios chieques de esquerda", para usar a expressão do Pondé. Hoje mesmo tive uma aula sobre a crise de 29, com os especuladores malvados, os capitalistas malvados e os outros personagens das estórias que os professores de estória adoram contar. Sou muito grato por estudar em um colégio de ideologia tão retrógrada, pois foi o incomodo que surgiu dai que me levou a encontrar o IMB, e a partir daqui meu amigo, não corro mais esse risco.
    Economia e Ética são assuntos muito caros ao meu coração, como se fossem questões pessoais minhas, e vou pensar nelas até o dia de minha morte. Eu tenho interesse em publicar trabalhos acadêmicos no futuro e de entender profundamente economia, mesmo a mainstream, por isso quero fazer uma faculdade de economia, mesmo que eu aprende muita coisa errada, gostaria de saber se em alguma existe ao menos 1 austríaco para me orientar em TCC e etc...
    Não que eu queira fazer disso meu ganha pão, quero ser empresário e investidor(provavelmente não no Brasil). Desde criança eu trocava coisas com meus coleguinhas de escola, eu ia com um iogurte, trocava por uma carta, dai por um carrinho e acabava voltando pra casa com três carrinhos, até que minha mãe disse que eu não poderia mais fazer isso porque ficaria sem amigos. Nunca entendi o dilema das pessoas entre fazer o que gosta e fazer dinheiro. Em se tratando de um emprego, o que me diverte e me realiza é a arte de fazer dinheiro onde ou como ninguém mais pensou em fazer. Se tem uma coisa que me imagino fazendo todos os dias, é isso.
    Mas enfim, queria saber se, para um maluco que decide fazer economia, em qual das faculdades posso encontrar um austríaco?
  • Rudson  14/03/2013 15:52
    Se não me engano, o professor Ubiratan Jorge Iorio - que publicou as 10 lições de economia aqui no site e tem excelentes obras como a "Ação, Tempo e Conhecimento" - dá aulas de economia na UERJ. Acho que é o único professor universitário no Brasil que segue, ou sequer conhece, a Escola Austríaca, ao menos que eu saiba.
  • zanforlin  13/03/2013 19:04
    Hoje, passando pela parte central de brasília, onde funcionava o Touring, vi uma placa onde se lia: "SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E TRANSFERÊNCIA DE RENDA".

    Céus (como diria o Tavares do Chico Anísio), o que é isso? A que visa isso? Como se promovem o "desenvolvimento social" e a "transferência de renda" por meio do Estado?
  • Wagner  13/03/2013 19:53
    Quando li o "TRANSFERÊNCIA DE RENDA" eu achei que você tava de sacanagem, ai procurei no google:

    www.sedest.df.gov.br

    Parece nome criado pela mafia pra não falar na cara dura os crimes que comete, ai tenta maquiar um pouco com palavras mais bonitas.
  • Dw  13/03/2013 19:24
    Prezados, sempre que leio os artigos deste site, percebo os mais esclarecidos comentarem sobre a desregulamentação estatal, na qual os mentores destes, sempre detêm coerência e visão aguçada ao abordarem tal assunto. Tentando observar o mundo e a econômia pelo mesmo prisma, me surgiu uma dúvida que gostaria de compartilhar com a equipe:
    Muitas vezes vejo que para lançar um produto no mercado, por exemplo remédios, ou algum cosmético com algum marketing envolvido (propriedades específicas como antiaging), estes materiais tem, por regulamentações da Anvisa, de passarem por diversos testes que muitas vezes são onerosos para a empresa. Pergunto, o mises sugeriria a desregulamentação em casos como no exemplo, onde estamos lidando com a saúde humana? Existe uma alternativa a regulamentação? Penso no caso dos cosméticos, que a empresa não precise comprovar a eficácia, pois caso o produto não funcione, o mercado não mais comprará o produto, pelo motivo de o mesmo não funcionar. Já no caso dos remédios, não consigo imaginar o livre mercado, pois as pessoas não tem como avaliar um medicamento, se ele realmente funciona, aí entra a Anvisa, mas em um livre mercado, a mesma não existiria, como ficaria tal situação?
  • Wagner  13/03/2013 20:38
    Uma empresa privada pode garantir que o remédio funcione e você como consumidor não iria comprar um medicamento não avaliado por esta empresa.
    Pense em quantos selos de qualidade oferecidos por empresas privadas existem, e mesmo sendo onerosos as empresas buscam por estas certificações para atrair mais clientes. O mesmo ocorreria em um livre mercado com os medicamentos, as fabricantes iriam buscar alguém para certificar que o seu remédio não causa danos à saúde e nós como consumidores não iríamos comprar um remédio duvidoso.

    Na outra ponta os médicos só recomendariam medicamentos que eles, como estudiosos da área, pudessem garantir... e assim por diante.

  • Rafael  13/03/2013 21:33
    Complementando o comentário do Wagner:

    A grande diferença desse arranjo para o atual é que as empresas que certificassem remédios ineficazes - ou que demorassem para emitir o certificado - seriam superadas pela concorrência ou iriam até a falência. Além disso, o consumidor estaria livre para utilizar remédios sem nenhum certificado de qualidade, sob sua conta em risco. Já atualmente, se o governo demorar para liberar a comercialização de um remédio - ou liberar um remédio que não funciona -, o consumidor poderá ter complicações de saúde, enquanto o governo continuará atuando.
  • Thales  13/03/2013 21:18
    Recomendaria também este aqui:

    Quatro medidas para melhorar o sistema de saúde
  • Dw  14/03/2013 10:28
    Obrigado pelos esclarecimentos pessoal..
    Thales vou ler os artigos sugeridos.
    Att,
  • Vinicius Costa  13/03/2013 23:53
    Novamente está sendo comemorado nos EUA o sétimo dia seguido de recorde do Dow Jones. É impressionante como as pessoas não aprendem.
    Uma dúvida que eu tenho: Quando esses projetos de estimulo a economia são criados pelo governo, eles dizem que a intenção é enganar as pessoas e assim incentivar o consumo ou no papel o argumento é outro?
  • Leandro  14/03/2013 00:21
    Obviamente, eles não dizem que a intenção é enganar. O argumento é o keynesianismo de sempre: o governo estimula os gastos, e os gastos magicamente "põem a economia para circular". Nada de poupança prévia, nada de prévia acumulação de capital prévia, nada de investimentos prévios. O simples estímulo aos gastos cuida de tudo. Se todo mundo começar a gastar, as coisas surgirão do nada, sem nenhum distúrbio.
  • João Paulo Carvalho  14/03/2013 01:27
    Olá, membros do Instituto Mises Brasil! Tenho 15 anos e gosto muito do seu trabalho, sendo um grande entusiasta do liberalismo econômico. Hoje tive aulas sobre o tratado de Eden-Rayneval (1786) e, sabendo que os princípios deste eram baseados no livre mercado, na livre concorrencia e no fim das barreiras alfandegárias entre França e Inglaterra, gostaria de saber porque este não deu certo, afinal de contas a concorrência dos produtos britanicos na França deveria ter levado a uma melhora dos produtos franceses para concorrer, e não a falência das empresas. Como creio no liberalismo econômico e sei que há alguma explicação para a falha deste tratado, gostaria de saber qual é. Muito obrigado

    Se quiserem informar-se sobre o tratado, aqui está um link: pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Eden

    Espero que respondam.
  • Leandro  14/03/2013 01:52
    Prezado João Paulo, você diz que "afinal de contas a concorrência dos produtos britanicos na França deveria ter levado a uma melhora dos produtos franceses para concorrer, e não a falência das empresas."

    Isso não é verdade. A teoria em momento algum afirma que a concorrência não irá levar à falência os incompetentes. Muito pelo contrário: a vantagem da concorrência está justamente no fato de que ela depura os ruins, retirando-os do mercado, consequentemente liberando recursos para serem utilizados pelos melhores.

    Em qualquer situação, a abertura da economia irá acabar com aqueles empregos nas indústrias menos competitivas. E isso é positivo. Ao contrário do que o senso comum apregoa, a função de uma economia capitalista não é gerar empregos. A função de uma economia capitalista é aumentar o padrão de vida as pessoas. Empregos em indústrias ineficientes nada mais são do que um desperdício de recursos escassos. Essa mão-de-obra poderia estar sendo mais bem aproveitada no setor de serviços, e o maquinário imobilizado nessa indústria ineficiente seria mais bem aproveitado em outras linhas de produção. David Ricardo e sua teoria das vantagens comparativas já havia explicado isso ainda no século XVIII.

    A concorrência (seja nacional ou estrangeira) sempre será um estímulo à melhoria e à maior eficiência, mas ela de modo algum garante que não haverá falência de empresas. O que impede falência de incompetentes é protecionismo e subsídios; livre comércio acaba com os incompetentes.

    Especificamente sobre o Tratado de Éden, ele foi abolido em 1793, quatro anos depois da Revolução Francesa. Não aguentaram o tranco e recuaram. O objetivo foi o mercantilismo de sempre: proteger os ruins. Não há absolutamente nada de diferente neste exemplo. Medidas idênticas seguem ocorrendo até hoje, principalmente no Brasil, que vive aumentando as tarifas de importação para proteger empresas ineficientes que são as favoritas do governo.

    Abraço!
  • Rafael George  14/03/2013 12:50
    @João Paulo Carvalho,

    Bem vindo. É bom ver uma pessoa tão jovem se interessando pelo livre-mercado e pela Economia Austríaca. Na sua jornada pela vida, você verá coisas de arrepiar e isso graças a essa lente de ver o mundo que você começa a adquirir. Mas não se preocupe, ver essas coisas servirão ao seu crescimento e diferenciação e farão de você uma pessoa mais esclarecida. Provavelmente você já é uma pessoa esclarecida no meio de um mar de ignorância. E isso vai piorar.

    Quanto a sua questão, o Leandro já respondeu... Gostaria de, apenas, me aproveitando da juventude do interlocutor, expandir a explicação do cenário para que esse tenha argumentos quando confrontato pelo seu professor de História (provavelmente de esquerda e anti-livre-mercado):

    Veja que se os Franceses não tivessem abolido o Tratado de Éden, logo as pessoas desempregadas oriundas dos setores insolventes e ineficientes iriam buscar emprego em setores eficientes e produtivos; os empreendedores falidos seriam substituídos por empreendedores com ideias novas. Talvez muitos produtos fossem produzidos inevitavelmente na Inglaterra, já que para esses produtos o arranjo inglês pudesse ser mais eficiente, no entanto o mesmo aconteceria na França que teria o domínio de alguns produtos em que fossem mais eficientes; a mão-de-obra, agora livre dos setores ineficientes, ajudaria a baratear ainda mais os custos dos empreendimentos eficientes, que prosperariam.

    Isso levaria a uma redução dos preços de produtos Franceses e Ingleses (pela simples lei da oferta e da procura: aumentou a oferta com a eficiência, logo o preço cai), levando a uma diversificação do mercado (agora existem mais bens de diferentes marcas, modelos disponíveis) a um menor custo, o que significa que pessoas com mais baixa renda agora conseguem adquirir um desses produtos outrora caros. Pense no operário inglês que não conseguia comprar um queijo frances por conta do preço e das barreiras alfandegárias e que agora tem queijo frances todos os dias em sua mesa. Pense no fabricante artesanal de queijos frances que agora pode comprar um equipamento produzido nas fábricas inglesas que outrora custava muito caro e era privilégio da elite.

    Aqui vemos o objetivo do capitalismo: a melhora do padrão de vida de todos os participantes do Mercado. Se alguém argumentar que "agora o operário inglês está ganhando menos por causa da concorrência com os produtos franceses" pergunte a esse operário se ele prefere granhar mais mas não conseguir comprar o "queijo nosso de cada dia" ou se ele prefere ganhar menos mas poder comprar o queijo francês que quiser. Veja que maiores salários só aumentam o padrão de vida de alguém se as coisas puderem ser compradas com ele. Se os salários aumentam e os preços também, ninguém melhorou de padrão de vida... (exceto o burocrata dono da máquina de imprimir dinheiro e seus comparsas).

    O que acontece com tratados semelhantes em todo o mundo é que ninguém quer mudança. O empresário quer continuar na sua vidinha pacata, vivendo dos lucros de sua empresa ineficiente protegida por barreiras alfandegárias; os empregados não querem aprender uma nova função já que estão acomodados na atual; o governo não quer perder a receita de impostos advinda dessas indústrias e dessas barreiras alfandegárias em troca da incerta receita de novos setores mais eficientes.

    O sucesso de tais tratados, no final das contas, é justamente o motivo de seu "fracasso". Isso acontece pela tendência de acomodação das pessoas e dos povos envolvidos, pela sedução que a inércia do status quo exerce. Toda a vez que você vê um povo vencendo a inércia, você vê fenômenos de crescimento econômico (veja Japão pós-guerra, veja Alemanha pós-guerra, veja Chile, veja Coréia-do-Sul, etc).
  • Breno  14/03/2013 18:01
    Eu li alguns livros que tocaram no assunto LTCM e em nenhum momento afirmaram que houve injeção de recursos públicos ou dinheiro do FED, Tesouro, etc, na jogada.

    O que de fato houve foi que o FED coordenou a "solução" da quebra do fundo com os outros bancos, que absorveram o portfólio do LTCM.
  • Leandro  14/03/2013 18:22
    E você esperava que falassem?

    Neste ponto, palmas para a Wikipédia, que cita o fato duas vezes já no primeiro parágrafo.
  • Javan  14/03/2013 19:07
    É melhor dialogar aqui mesmo com os leitores. Pessoalmente, não recomendo fazer economia. É preciso ter um preparo intelectual muito alto, senão seu QI despenca. O ambiente universitário brasileiro, na área de humanas, é fecal.

    E pensar que larguei da Engenharia para fazer Economia. Seria inacreditável se eu afirmasse que em 4 anos de curso jamais ouvira falar da EA? Este ano me graduo e meu tema de TCC será a regulamentação das drogas, pra delírio dos esquerdopatas.

  • Erick Skrabe  15/03/2013 01:49
    Não é inacreditável. Primeiro porque ensina-se Macroeconomia fosse a única corrente de estudo da economia.

    Se você estiver em uma escola muito, mas muito boa, talvez escute algo da EA em alguma aula de história do pensamento economico. Talvez.
  • Julio  19/03/2013 22:04
    Faco Economia e nao arrependo nenhum pouco.

    Na verdade eh ate melhor, depois que vc conhece a EA e especialmente os pensamentos do Mises, fica engracado algumas aulas de besteiras de professores pro Keynes.

    Mas eu nao faco Economia pra ir no meio academico, quero mercado de trabalho mesmo, e aqui em SP mesmo que engenharia seja mais facil para achar emprego, economia continua sendo bom.
  • anônimo  17/03/2013 04:02

    Vejam só, Paul krugman (o defensor de déficits) declara falência pessoal:


    dailycurrant.com/2013/03/06/paul-krugman-declares-personal-bankruptcy/


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