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Libertários, Maquiavel e o poder do estado

À medida que o movimento libertário e as ideias associadas a ele vão ganhando maior proeminência ao redor do mundo, o surgimento de ataques, calúnias e caricaturas passa a ser inevitável.  Libertários, dizem nossos críticos, são antissociais e preferem o isolamento à interação com terceiros.  São gananciosos e indiferentes para com os pobres.  São ingênuos quanto a terroristas e inimigos externos, e se recusam a apoiar invasões de "países perigosos" (e a subsequente chacina de populações inocentes).

Estas caricaturas e concepções errôneas podem ser refutadas pela simples definição do próprio conceito de libertarianismo.  Todo o ideal libertário se baseia em um princípio moral fundamental: a não-agressão de inocentes.  Ninguém deve iniciar força física contra um inocente.  Muito radical.

É óbvio que, não apenas não há nada de antissocial nesta ideia, como também ela representa a própria negação de tudo o que é antissocial, pois a interação pacífica é justamente o cerne de uma sociedade civilizada.

À primeira vista, praticamente ninguém pode se opor ao princípio da não-agressão.  São poucas as pessoas que abertamente defendem atos de agressão contra pessoas pacíficas e inocentes.  A diferença é que os libertários são francos e eloquentes quanto a isso, e aplicam este princípio em todas as esferas da vida, para todas as pessoas.  Nossa visão vai muito além de meramente sugerir que o estado não pode incorrer em violações grosseiras das leis morais.  Nós afirmamos que o estado não pode efetuar nenhum ato que seria proibido a qualquer indivíduo.  Não há meio termo para as normas morais: ou elas existem ou não existem.

Exatamente por isso não podemos defender o sequestro estatal apenas porque o governo rotula esta prática de "alistamento militar obrigatório".  Não podemos defender o encarceramento de pessoas que ingeriram as substâncias erradas apenas porque o governo rotula esta prática de "guerra contra as drogas".  Não podemos defender o roubo e a espoliação apenas porque o governo rotula esta prática de "tributação".  Não podemos defender homicídios em massa só porque o governo rotula esta prática de "política externa".  Não podemos defender privilégios para grandes empresas só porque o governo rotula esta prática de "políticas de proteção à indústria".  Não podemos defender a destruição do poder de compra da moeda só porque o estado rotula esta prática de "política monetária".  Não podemos defender restrições à liberdade de empreendimento só porque o governo rotula esta prática de "regulamentação".  E não podemos defender o parasitismo só porque o governo rotula esta prática de "políticas de bem-estar social".

Murray Rothbard, que era Ph.D. pela Universidade de Columbia, NY, dizia que você pode descobrir qual é a posição libertária a respeito de qualquer questão ao simplesmente imaginar uma quadrilha de criminosos efetuando a ação analisada.

Em outras palavras, o libertarianismo pega certos critérios morais e políticos que são defendidos por todas as pessoas decentes, e simplesmente os aplica de forma consistente e inflexível.

Por exemplo, as pessoas se opõem a monopólios porque temem o aumento de preços, a redução na qualidade dos produtos e serviços, e toda a centralização de poder decorrentes deste arranjo.  O libertário apenas aplica esta preocupação em relação a monopólios ao próprio estado.  Afinal, empresas privadas operando no mercado — um arranjo que supostamente devemos temer — não podem simplesmente sair cobrando o quanto quiserem por bens e serviços.  Os consumidores podem simplesmente trocar de ofertante, ou deixar de usar um determinado produto e passar a usar um substituto mais próximo.  Da mesma maneira, empresas não podem reduzir a qualidade de seus produtos sem perder consumidores, os quais poderão encontrar concorrentes ofertando bens e serviços mais satisfatórios.

Já o estado pode, por definição, cobrar do público o quanto ele quiser pelos "serviços" que ele oferta.  Os cidadãos — os súditos do estado — têm de aceitar qualquer nível de qualidade que o estado se digne a ofertar.  E jamais pode existir, por definição, qualquer concorrente ao estado, uma vez que o estado é definido como o detentor do monopólio da compulsão e da coerção em seu território.

Com suas guerras, seus genocídios, suas atrocidades totalitárias e toda a miséria criada por suas políticas intervencionistas, o estado já demonstrou ser, de longe, a mais letal instituição da história.  Seus crimes menores incluem todo o seu endividamento, cujo pagamento dos juros ele impôs à população; as burocracias que se auto-perpetuam e se alimentam da fatia produtiva da população; e todo o desperdício de recursos escassos — os quais poderiam ter sido utilizados para melhorar o padrão de vida da população por meio da formação de capital — em obras e projetos arbitrários e de motivação política.

No entanto, o estado, apesar de todos os seus fracassos, consistentemente usufrui aquele benefício da dúvida que ninguém concederia a pessoas e empresas no setor privado.  Por exemplo, a educação estatal produziu resultados que, na mais complacente das hipóteses, podem ser classificados de deploráveis, não obstante o crescente volume de dinheiro direcionado para este setor.  Houvesse o setor privado gerado um desastre semelhante, a gritaria e as denúncias contra "os empresários ricos que estão tornando nossas crianças ignorantes" jamais acabariam.  Porém, quando é o setor público quem gera resultados medonhos, tudo o que ouvimos é o silêncio.  E o silêncio só é interrompido pelas demandas de que os pagadores de impostos deem ainda mais dinheiro e recursos para o estado.  Se uma empresa privada fracassa, ela vai à falência.  Se o estado fracassa, ele pede (e ganha) mais dinheiro.

Se uma empresa privada comete um erro grave, o mundo vem abaixo.  Investigações aprofundadas, reportagens histéricas da mídia e indignações públicas parecem não ter fim.  Já quando o estado faz lambança, não há absolutamente nenhum interesse na história, e quase ninguém ouve nada a respeito.

Da mesma forma, quando os tribunais estatais obrigam pessoas inocentes a ter de tolerar atrasos intermináveis e a arcar com gastos infindáveis, não há investigações, não há denúncias e não há apelos por justiça.  Quando os ricos e famosos são obviamente favorecidos pelo sistema, as pessoas resignadamente aceitam o fato como corriqueiro, uma inevitabilidade.  Enquanto isso, empresas de arbitragem privada, rápidas e eficientes, prosperam na surdina, silenciosamente preenchendo o vazio criado pelo péssimo sistema estatal — e dificilmente alguém nota ou se importa, muito menos aprecia estas melhoras geradas em nosso bem-estar.

Quando o estado fracassa abjetamente em cumprir com a mais mínima qualidade aceitável algum serviço que ele se propôs a fazer — como a segurança —, as pessoas veem isso como algo rotineiro.  Se pessoas morrem em decorrência da falta de segurança — inclusive na área de infraestrutura — gerada pelo estado, são apenas coisas da vida.  Mas quando uma empresa privada oferece um serviço que deixa a desejar, todos os tipos de impropérios e ameaças judiciais são proferidos por seus desapontados clientes.

No fundo, esta assombrosa diferença entre os padrões morais e éticos exigidos do estado e do setor privado tem suas raízes não apenas nos homens que compõem o aparato estatal, mas também naqueles que lhes dão sustentação intelectual e ideológica.

Os moralistas romanos da antiguidade, e os humanistas da Renascença que vieram depois, preconizavam abertamente que os governantes tinham de possuir um arranjo especial de virtudes morais.  Tais virtudes eram, acima de tudo, as quatro virtudes cardinais (cardinal vem do latim e significa "essencial"; logo, todas as outras virtudes dependiam destas quatro): coragem, justiça, temperança e sabedoria.  Embora todos os homens fossem exortados a cultivar estas virtudes, os príncipes, em particular, deveriam ir além e apresentar outras mais, como nobreza e generosidade.  Estes temas foram desenvolvidos por Cícero em seu ensaio De Officiis e por Sêneca em seus ensaios Sobre a Clemência e Sobre Benefícios.

Os humanistas anteciparam a tese que futuramente viria a ser defendida por Maquiavel: a de que tem de haver uma divisão entre, de um lado, a moralidade e, do outro, qualquer postura e atitude que seja conveniente para o príncipe.  Os humanistas responderam a esta tese alertando que, mesmo que a perversidade principesca não fosse punida em vida, a punição divina na próxima vida seria certa e cruel.

O que fez com que Maquiavel se destacasse tão incisivamente foi o seu radical rompimento com esta visão tradicional das obrigações morais do príncipe.  Como afirmou Quentin Skinner, o grande estudioso de Maquiavel, "É só quando analisamos detidamente O Príncipe que descobrimos como estes tradicionais aspectos da moralidade humanista foram violentamente subvertidos".

O príncipe, diz Maquiavel, tem sempre de "estar preparado para agir imoralmente sempre que for necessário".  E "para manter seu poder", ele — não apenas algumas vezes, mas sim frequentemente — será obrigado a "agir traiçoeiramente, cruelmente e impiedosamente".

Dado que a maioria das pessoas jamais irá interagir pessoalmente com o príncipe, Maquiavel forneceu o seguinte conselho ao governante: "Todo mundo vê aquilo que você aparenta ser", mas "poucos sabem diretamente quem você realmente é".  "Um habilidoso enganador", continuou Maquiavel, "sempre encontrará uma multidão de pessoas que se deixarão ser enganadas".  

Já dá para imaginar que tipo de pessoa o príncipe será.

A visão de Maquiavel frequentemente é resumida como "os fins justificam os meios".  Embora tal destilação não capture todos os aspectos do pensamento de Maquiavel, é fato que esta concisa descrição irrita os professores de teoria política.  Ademais, se o fim em questão é a preservação do poder do príncipe, então "os fins justificam os meios" não é uma caracterização injusta do conselho de Maquiavel.

E é exatamente a este princípio que o estado e seus ideólogos recorrem para justificar seu não cumprimento de todas aquelas práticas que as pessoas decentes consideram morais e boas.  Friedrich Hayek certa vez escreveu que,

Na ética individualista, o princípio de que o fim justifica os meios é considerado a negação de toda a moral.  Na ética coletivista, ele se torna a regra suprema; não há literalmente nada que o coletivista coerente não deva estar pronto para fazer, desde que contribua para o "bem da comunidade", porque o "bem da comunidade" é para ele o único critério que justifica a ação. A ética coletivista não conhece outros limites que não os da conveniência — a adequação do ato particular ao objetivo que se tem em vista.

Praticamente todas as pessoas hoje aceitam, ao menos implicitamente, a alegação de que o estado opera em uma dimensão moral paralela, na qual as regras morais tradicionais não são aplicáveis.  Outros vão além e afirmam que o estado está acima da moralidade que conhecemos.  Mesmo que tais pessoas não utilizem as formulações verbais de Maquiavel, de alguma forma elas creem ser desarrazoado exigir que o estado e seus funcionários se comportem da mesma maneira que o resto de nós.  O estado pode se defender e se preservar recorrendo a métodos que nenhuma empresa privada, nenhuma organização, nenhuma família e nenhum indivíduo poderiam utilizar para sua própria preservação.  E aceitamos isso como algo normal.

Esta é simplesmente uma formulação mais geral do fenômeno descrito anteriormente, que diz que poucas pessoas se espantam quando o estado incorre em um comportamento que seria considerado uma monstruosidade moral caso fosse efetuado por qualquer indivíduo ou entidade.

Por fim, algumas pessoas poderão discordar e contra-argumentar dizendo que o aparato coercivo do estado é essencial para manter a ordem na sociedade, de modo que não podemos insistir fortemente no purismo libertário ao analisarmos seu comportamento.  Afinal, algumas vezes o estado tem de fazer aquilo que ele tem de fazer.

Só que absolutamente todos os "serviços" que estado fornece já foram no passado ofertados de maneira não-coerciva.  A questão é que nós simplesmente não somos estimulados a estudar e a aprender esta história, e a estrutura de ensino que involuntariamente adotamos desde os nossos primeiros dias na escola tornou nossa imaginação estreita e tacanha demais para conceber essa possibilidade.

Maquiavel lançou uma revolução em prol do estado.  A nossa revolução é contra, mas sempre a favor da paz, da liberdade e da prosperidade.



autor

Lew Rockwell
é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.



  • Roberto Jargemboski  29/05/2013 13:38
    Leandro

    Essas avaliações morais e éticas dos principios libertários têm sido discutidas com frequência ultimamente, e isso parece causar uma certa tensão entre libertários e conservadores.
    Esse ponto é algo que ainda me causa um certo desconforto, já que eu reconheço a importância do arcabouço moral conservador na construção da civilização ocidental, mas ao mesmo tempo tenho dificuldade em compreender como seria possível uma amálgama com os ideais libertários, e de que forma a tradição moral pode ser defendida sem ferir o direito natural do indivíduo.
    Gostaria de saber a sua opinião(e dos demais colegas também) sobre esse aparente conflito, o qual aliás foi abordado nesse post do portal libertarianismo

    www.libertarianismo.org/index.php/academia/artigosnovo/1307-porque-nao-somos-conservadores

  • Leandro  29/05/2013 14:03
    Não entendi. Em que ponto o genuíno arcabouço moral conservador (não confundir com neoconservador) entra em conflito com os genuínos ideais libertários (não confundir com libertinagem)?

    Por que e como a tradição moral fere o direito natural do indivíduo?

    Eu nunca consegui ver nenhum conflito entre ambas as correntes.
  • Roberto Jargemboski  29/05/2013 14:16
    Talvez não exista um conflito basal entre as duas correntes, mas em temas pontuais, como aborto, por exemplo, ou legalização das drogas.
    Dificilmente libertários e conservadores irão concordar nesses temas.
    O libertario vai argumentar que o direito individual deve prevalecer, e o conservador vai argumentar que a tradição deve prevalecer.
    Você não acha que existe um conflito entre o libertarianismo e a tradição moral conservadora, se um conservador argumenta contra a legalização das drogas, por exemplo?
  • Leandro  29/05/2013 14:32
    Eu nunca consegui ver nenhum conflito entre ambas as correntes.

    Proibição das drogas é um fenômeno progressista. Durante toda a história do mundo, as drogas sempre foram descriminalizadas. Até o início do século XX você podia comprar cocaína, heroína e ópio em qualquer farmácia (quem hoje lê os livros de Sherlock Holmes certamente se espanta ao descobrir que ele era usuário esporádico de cocaína). Ao que me consta, não apenas isso não degenerou a sociedade, como também as famílias eram mais fortes e mais unidas, e a religião era bem mais presente na vida das pessoas.

    Proibição das drogas foi uma política estatal iniciada pelo governo americano apenas nos anos 1920 (que, não à toa, são chamados de "os anos progressistas"). A guerra contra a maconha só começou pra valer no final da década de 1970. Ou seja, são políticas recentes, totalmente progressistas.

    Ademais, eu concordo com o que disse o leitor "Conservador Reacionário" na seção de comentários deste artigo. Embora eu talvez não utilizasse as mesmas palavras dele, eu concordo com a essência do que ele disse. Segundo ele,

    Sempre haverá derrotados que recorrerão às drogas. Esses fracassados irão usar drogas de um jeito ou de outro. E irão morrer de qualquer jeito. Facilitar o acesso desses perdedores às drogas irá apenas tornar o processo mais expediente.

    Ademais, nunca entendi a tara de alguns conservadores com a proibição. Quando as drogas eram legais, ainda no início do século, as famílias eram mais fortes e mais unidas, e a religião era mais presente. A proibição é uma prática totalmente recente na história humana -- ou seja, é uma prática progressista. A proibição fez com que as famílias relaxassem e entregassem a segurança de seus filhos para o estado. Deu no que deu: uma geração de zumbis imbecis. E tem conservador aplaudindo.

    A única posição conservadora e reacionária coerente é a total liberação das drogas. Não apenas porque sua proibição foi uma política progressista, como também pelo fato de que a liberação irá despachar mais rapidamente todos os derrotados da sociedade. Isso irá liberar recursos escassos e tornará a economia mais próspera.


    É bem por aí.

    Sobre ser contra o aborto, não veja conflito algum. Não vejo como o aborto pode ser defendido utilizando princípios libertários. Afinal, e se o feto pudesse revidar? Será que ele não o faria? O fato de ele ser fisicamente incapaz não o torna menos humano.

    Isso é tudo o que tenho a dizer sobre esse assunto. Espero sinceramente que a seção de comentários deste artigo em específico não seja desviada para estes comentários, que absolutamente nada têm a ver com o artigo em questão. É um pedido.

    Abraços!
  • Francisco Seixas  29/05/2013 19:09
    "Sobre ser contra o aborto, não veja conflito algum. Não vejo como o aborto pode ser defendido utilizando princípios libertários. Afinal, e se o feto pudesse revidar? Será que ele não o faria? O fato de ele ser fisicamente incapaz não o torna menos humano."

    Leandro. Parabéns pela lucidez, assino embaixo.

    Em geral, quando tenho que me posicionar contra o aborto, eu costumo dizer que alguém precisa assumir o papel de "advogado do feto" que nunca tem vez nos debates e colocar a questão também sob essa ótica.

    Abraço.
  • Pedro  29/05/2013 21:00
    Só que tem um problema muito grave na questão do aborto (questão essa que ainda não tenho uma posição definitiva). Se você considera o embrião dentro do corpo da mulher um humano pleno com todos os seus direitos, então seria lógico tentar impedir a mãe de cometer aborto, ou melhor, "assassinato", não seria?

    Só que, ao usar a força contra a mãe, você coloca em risco a vida do bebê. Ao contrário do ato de matar um bandido que está apontando uma arma para outra pessoa, matar ou agredir a mãe (a agressora nesse caso) seria letal ao bebê.

    A única opção viável seria uma punição ex post, mas aí faria sentido punir a mãe que abortou com a mesma força que se puniria um criminoso que acabou de matar outra pessoa? Pela ética libertária, especialmente a de Rothbard, tal caso poderia resultar muito bem em pena de morte ao agressor.
  • Renato  28/01/2019 12:49
    Nesse sentido, basta uma simples pergunta, como "advogado do feto": O aborto é uma amputação? Se não for, como de fato não é, um libertário jamais poderia ser a favor, pois estaria renunciando uma liberdade individual que é o direito à própria vida do feto.
  • Xico  29/05/2013 20:32
    Aplausos.
  • Rip van Winkle  03/04/2019 06:09
    Eu sei que acabará desviando do assunto, mas acho importante fazer um adendo ao nobre usuário Leandro...Na verdade Leandro o Sherlock Holmes usava vários tipos de drogas, não somente a cocaína, mas também, ópio e morfina, no caso do ópio ele injetava frequentemente em momentos de tédio, mas não se deixava viciar. É bom lembrar que o ópio era uma droga comercializada pela Inglaterra em vários territórios, inclusive era usada como anestésico para cirurgias oculares, a droga movimentava tanto a economia que teve uma Guerra com a China, chamada Guerra do Ópio, onde Hong Kong foi tomada. Mas no século XIX e XX várias dessas drogas eram mais comercializadas para fins médicos, como a cocaína (excelente anestésico) do que para fins recreativos, não que não houvesse também esse intuito, mas não era o foco. Muitos remédios ao longo do século XX tinham poder letal e eram comercializados nas farmácias legalmente, mesmo tento já uma política de proibição das drogas, foi o caso do Veronal (primeiro sonífero do mercado onde uma dosagem errada podia ser a morte), não à toa, muitos suicídios na década de 30 eram cometidos com ele. E a questão é tão hipócrita nisso tudo que se você for pegar os principais anestésicos do mercado hoje, verá que na formulação tem opiáceos, caso da hidrocodona. O governo então para intervir mais ainda na vida dos outros, inventa as tais receitas controladas, mas a fórmula não engana ninguém; ora se possui tal droga, existe sim um mercado legal para a indústria farmacêutica utilizá-la.

    Uma outra questão é referente ao aborto. No comentário se coloca a questão como um pensamento unânime dos libertários, entretanto sabemos que isso não é assim. Pois têm libertários que são favoráveis ao aborto uma vez que não se tem consenso de que o feto possui consciência, isso é dito pelo lado da biologia. Existem correntes que alegam que o feto até 3 meses de vida não possui consciência, embora seja uma vida, mas amebas também são formas de vida; já outras alegam que no momento da fecundação já é considerado uma vida com consciência em formação. Se o feto não tem consciência até 3 meses (uma formação dela, como alega tal corrente) não pode ser considerado violação da propriedade privada, pois caso seja cabal tal afirmação, teríamos que deixar de consumir carnes e matar insetos. Então, gostaria de registrar isso, porque muita gente acha que libertários são contra o aborto, o que não é verdade, mediante ao fato de divergências ideológicas. Um abraço!



    Em relação ao artigo... A existência do estado já viola o axioma da não agressão.
  • Roberto Chiocca  29/05/2013 22:15
    Conservadores não querem conservar os "bons costumes" e a moral de não agredir os outros sem que estes tenham violando sua propriedade ou liberdade antes? O que há de moral em enjaular alguém só por que este alguém tomou uma substancia, vendeu ou comprou serviços de sexo ou falou blasfêmias?
    Ser libertário não é incompatível com ser conservador (não neoconservador), mas não necessariamente um libertário será conservador, e não há mal algum nisso.
  • Thayane Duarte   25/04/2019 19:43
    O aborto e a legalização ferem os direitos individuais, acredito que por isso não há esse choque. O direito individual só existe de FATO quando não fere diretamente o direito individual de outrem. No caso, o aborto fere o direito individual do feto e as drogas ferem o direito das pessoas que são roubados e assassinados para alimentar o vício.
  • Sol Moras Segabinaze  29/05/2013 14:07
    Ótimo.
  • Luciano  29/05/2013 14:09
    Tento explicar essa mesma visão para pessoas próximas, mas sempre ouço as mesmas respostas: "é melhor reformar o estado do que extinguí-lo" "o estado é garantidor dos direitos dos pobres" e toda a baboseira que existe.

    Como se fosse possível curar algo que já nasceu podre.

    Gostei da visão do Lew sobre O Príncipe. Sempre tive um ponto de vista semelhante quando li o livro. Não é à toa que alguns professores afirmam que ele só poder ser o livro de cabeceira dos políticos.
  • Pobre paulista  29/05/2013 14:25
    Eu gosto muito desse livro. Mas na minha humilde e particular visão, lembrando que ele era essencialmente um dramaturgo, e não um cientista político, e sabendo do contexto em que ele foi escrito, eu tendo a acreditar que esse livro é exatamente uma tremenda ironia, uma risada na cara dos regentes da época. Uma sutil tiração de sarro. Exatamente um manual de "como ser um cretino".

    Posso estar redondamente enganado, mas dificilmente vou me convencer do contrário.
  • Getulio Malveira  29/05/2013 15:41
    Maquiavel, dramaturgo? Donde saiu isso? Quanto à interpretação de que O príncipe seja uma "sátira", ela não é nova, mas certamente não é das melhores, quase tão ruim quanto aquela de Rousseau, reapropriada pro Gramisci, que vê "conselhos ao povo" no Príncipe. Compare Maquiavel ao seu contemporâneo Erasmo ou a Voltaire, pensadores chegados à sátira, e verás que nada há de satírico n'O Príncipe.

    Desculpe, Pobre Paulista, minha impertinência, mas se contesto tua visão, a que tens certamente direito, é porque essa reabilitação de Maquiavel não parece consistente. Melhor seria encarar o Príncipe como um relatório dos "custos" do poder político: se há algo que se possa aprender com o realismo de Maquiavel é que a conquista e manutenção do poder político tem um custo em moralidade que é justamente contrário aos ideais humanistas.

    Dito de outro modo: maiores que sejam nossas admirações pelos humanistas (e quem pode ler Cícero sem admirá-lo?) é preciso confessar que a ideia da perfeita república esbarra num dilema impossível de ser resolvido: a aceitação do poder político parte da exigência de virtudes hipermorais dos governantes, mas a natureza do poder político requisita ações inframorais.

    Por isso, esse artigo de Rockwell me parece tão pertinente. Ele nos faz vez - através do contraste de Maquiavel com o pensamento humanista, que a figura do "governo excelente", que nos veio da antiguidade clássica repousa numa incoerência: ou se é "bom político" o se é um "político bom", mas no último caso não serás príncipe (político), ou não o serás por muito tempo, pois não conquistarás ou não poderás manter seu poder. É a mesma ideia que se encontra em Henrique VI de Shakespeare, onde a fraqueza de um rei "carola" favorece a pretensão ao trono de Ricardo de York e resulta na guerra das rosas.

    Podemos aprender muitas coisas com um livro que não passavam pela cabeça do autor, mas é muito temerário atribuir a um livro uma finalidade contra sua intenção explicita. Maquiavel afirma explicitamente que o livro consiste em uma descrição de como conquistar e manter o poder político e não há nenhuma razão para duvidarmos de sua palavra.
  • Pobre Paulista  31/05/2013 01:25
    Não precisa me refutar, não é nenhuma teoria, é apenas uma opinião :)

    Maquiavel, além de diplomata, escreveu algumas peças de teatro, sendo uma delas, "A Mandrágora", um marco na história do teatro. Veja um resumo na wikipedia: pt.wikipedia.org/wiki/A_Mandrágora

    Não conheço a fundo outras obras teatrais dele, mas já convivi com um pessoal de teatro que manjava bastante. Essa minha opinião veio daí, do pessoal que estudou esse "outro lado" dele.




  • Jeferson  29/05/2013 15:54
    Engraçado que eu também fazia essa leitura do "O Príncipe". Sempre achei que fosse uma maneira sarcástica de denunciar a merda que é o estado.
  • Mohamed Attcka Todomundo  29/05/2013 20:15
    " tendo a acreditar que esse livro é exatamente uma tremenda ironia, uma risada na cara dos regentes da época. Uma sutil tiração de sarro. Exatamente um manual de "como ser um cretino"."

    maneirissima essa interpretaçao!!!!!!! assino em baixo. como ñ dá p/ provar nem refutar, vale sustentar como uma narrativa/versao sobre o fato, e transformar um epitome da desgraça e corrupçao no maior sarro de todos os tempos. D+++++++++
  • Renato Souza  31/05/2013 12:00
    A vida e os outros escritos de Maquiavel desmentem essa interpretação. O livro foi dedicado a Lourenço de Médici, que realmente era um principe com as características elogiadas na obra, e era benfeitor de Maquiavel, e dele recebia apoio. Então, analisando do ponto de vista histórico, a tese da "satira" não tem o menor sentido. Além disso, a personalidade de Maquiavel, conforme percebido em suas correspondencias pessoais, é compatível com alguém que realmente escreveria o livro como algo que ele apoia, e não como uma sátira.
  • Emerson Luis  29/05/2013 14:21
    "O primeiro papel do líder é ser um exemplo"

    Stephen Covey

    * * *
  • Andre Cavalcante  29/05/2013 15:41
    "O primeiro papel do líder é ser um exemplo"

    Stephen Covey


    Gostei. Mas governo não tem quase nada de liderança. Liderança pressupõe mérito do líder. Governo pressupõe enganação das massas...
  • Quentin Skinner  29/05/2013 14:41
    ...Mas o que seria do capitalismo se o estado não garantisse a propriedade? Vocês realmente acham que o estado opera contra vós mesmo ao permitir a sua posse dos meios de produção?

    Ninguém garantiria privadamente os serviços de defesa à propriedade, estradas e igualitarismo jurídico.
  • Mauro  29/05/2013 14:57
    Ninguém garantiria privadamente os serviços de defesa à propriedade, estradas e igualitarismo jurídico.

    Penúltimo parágrafo do artigo:

    Só que absolutamente todos os "serviços" que estado fornece já foram no passado ofertados de maneira não-coerciva. A questão é que nós simplesmente não somos estimulados a estudar e a aprender esta história, e a estrutura de ensino que involuntariamente adotamos desde os nossos primeiros dias na escola tornou nossa imaginação estreita e tacanha demais para conceber essa possibilidade.


    O analfabetismo funcional dos fakes é cada vez maior.
  • Mohamed Attcka Todomundo  29/05/2013 20:23
    "o estado opera contra vós mesmo ao permitir a sua posse dos meios de produção" - estado nem 'garante' nem 'permite' a posse dos meios de produçao ou de qq outra coisa. se duvida leia Por que não existe propriedade privada de imóveis no Brasil q vai entender

  • David  29/05/2013 14:57
    Excelente artigo!

    A ler os comentários fiquei com uma duvida.
    Os libertário em geral são a favor ou contra o aborto?

    E adorei este excerto na parte dos comentários "Ademais, nunca entendi a tara de alguns conservadores com a proibição. Quando as drogas eram legais, ainda no início do século, as famílias eram mais fortes e mais unidas, e a religião era mais presente. A proibição é uma prática totalmente recente na história humana -- ou seja, é uma prática progressista. A proibição fez com que as famílias relaxassem e entregassem a segurança de seus filhos para o estado. Deu no que deu: uma geração de zumbis imbecis. E tem conservador aplaudindo."
  • Andre Cavalcante  29/05/2013 16:00
    "Ao ler os comentários fiquei com uma duvida.
    Os libertário em geral são a favor ou contra o aborto? "

    Usando um termo bem conservador: "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém" (São Paulo, I Carta ao Coríntios, cap. 6, vv. 12).

    Eu particularmente acho que o aborto deve ser considerado crime, e meu critério não tem nada de religioso. Explico-me:

    Atualmente usamos como critério para morte a morte cerebral, então nada mais natural que se use o mesmo critério, i.e., o nascimento cerebral, para dizer que um ser humano está vivo. Como o sistema nervoso central é formado entre as semanas 4 e 6 de gestação, então temos um "ser humano" após esta fase e o aborto torna-se crime, pois estaríamos matando uma pessoa.

    Como a maioria absoluta das gestações a mulher (ou o casal) somente sabem da gravidez após estas datas (praticamente somente em casos de gestação assistida, que em geral não se pensa em aborto, ou geração de embriões para fins médicos, se sabe da gravidez antes de 4 semanas), para todos os efeitos práticos, o aborto, em minha concepção é um crime, assim como o assassinato de um pessoa fora do útero, usando o mesmo critério, se bem que pode ter vários atenuantes.

    Mas como disse o comentarista acima, o fato de ser crime não impede que algumas pessoas o pratiquem. Resta saber como a sociedade vai lidar com os contraventores.
  • Alexandre M. R. Filho  29/05/2013 16:18
    Libertários podem ser a favor ou contra o aborto, tanto faz.

    O que eles não podem é obrigar pessoas a não abortarem usando para isso do instrumento estatal de coerção.

    Esse raciocínio vale pra tudo. Desde corte de cabelos a homicídio.
  • Gilberto  29/05/2013 16:59
    O Principio da não-agressão contra o feto humano não é valido? E se a mãe que for abortar o próprio filho não puder ser impedida o mesmo raciocínio valeria para outros tipos de agressão que ferem o PNA ?
  • Andre  29/05/2013 17:43
    PNA serve o tempo todo, até ir contra as vontades do bonitão. Quando atrapalha a sua "liberdade sexual" e "planejamento familiar" aí não se aplica mais o PNA.
    (dá até coceira escrever tanta expressão esquerdista, parece a Dilma falando)
  • Gilberto  29/05/2013 15:32
    "A diferença é que os libertários são francos e eloquentes quanto a isso (PNA), e aplicar este princípio em todas as esferas da vida, para todas as pessoas. "

    É exatamente daí que saem as maiores idiotices do libertarianismo.
  • Pedro  29/05/2013 17:19
    Não sei a que idiotices você se refere, mas concordo que a idéia da passagem pode originar comportamentos e idéias da pior qualidade, por tentar simplificar demais o que é complexo. É como se sugerisse que o manual de instruções da vida coubesse em uma página. Pode induzir um desavisado a deixar de lado a razão, em alguns momentos, para seguir uma suposta "coerência de princípios", transformando-se em um autômato ou, até mesmo, num completo idiota.

    A filosofia libertária, se me permitem chamar assim, é muito bonita e elegante. Mas seu pecado reside em um dos aspectos de sua beleza: a simplicidade. O libertarianismo será sempre um sonho, uma luta inglória, pois é incompatível com a natureza humana. Não passou pela crivo implacável da evolução natural. Talvez em uma sociedade de super humanos tenha mais chances. Nesse ponto, a obra de Maquiavel é muito mais realista que o libertarianismo. Talvez até mesmo mais virtuosa!, apesar das imoralidades: aquela não comete auto-engano - é mais honesta -; resta "pesar" as virtudes.

    Alguma das realidades implacáveis que Maquiavel não ignora, ao contrário do libertarianismo:

    - A maioria das pessoas é idiota, e PRECISA de um príncipe. Já ponderei a possibilidade de a idiotice ser hereditária, mas, no momento, acredito que esse "equilíbrio de idiotice" seja "quasi-divino", uma espécie de equilíbrio estável natural. Se desaparecessem todos os idiotas nesse exato momento, instantaneamente grande parte dos antes não idiotas seriam os novos idiotas. A idiotice é relativa e absoluta ao mesmo tempo, e infinita.

    - A luta contra o estado. O que dizer da luta contra o estado? Na minha concepção, o estado nada mais é que um meme, conforme definido por Dawkins. E dos mais poderosos. Vive enquanto a humanidade existir e só pode ser superado por um meme mais poderoso - o que o libertarianismo não é. Assim, os políticos e os beneficiários do estado não são tão maus assim, já que também são fantoches do Estado (acho que agora posso escrever em maiúscula) São o meio pelo qual o Estado se manifesta.

    Claro que o exposto não pretende invalidar as idéias (que eu aprecio muito) pregadas pelo libertarianismo. Só acho que é importante evitarmos ao máximo sermos pegos pela praga da idiotice, que está sempre à espreita, esperando por hospedeiros.
  • Andre Cavalcante  29/05/2013 20:00
    "... mas concordo que a idéia da passagem pode originar comportamentos e idéias da pior qualidade, por tentar simplificar demais o que é complexo. É como se sugerisse que o manual de instruções da vida coubesse em uma página..."

    E cabe! Do ponto de vista biológico, na verdade cabe dentro de uma única célula.
    Do ponto de vista moral cabe em pouquíssimas linhas, tão poucas que consigo colocar tudo aqui em um comentário:

    "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas" (Mateus,7,vv.12)

    Ao se postular a moral cristã como algo que parte do indivíduo, Jesus não deixa dúvidas de onde deve partir qualquer análise: do indivíduo. E mais, ele reconhece que "a lei e os profetas" (até então: não matar, não mentir, não roubar, etc.) para o bom comportamento social está justamente nesta simples regra.

    "A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas, tão-somente, união, concórdia e benevolência mútua."
  • Pedro  29/05/2013 21:33
    Andre, permita-me discordar de alguns pontos colocados por você, de modo a reforçar o exposto por mim anteriormente:

    1. Você diz que uma célula cabe numa página, e cabe mesmo, mas apenas por seu tamanho diminuto. Agora, tente escrever, em linguagem humana (que foi o que eu quis dizer anteriormente), as instruções que vão no DNA de qualquer ser vivente conhecido. Você pode até conseguir transcrever o que vai ali usando as letras que costumam usar para esse fim, mas isso é apenas uma transcrição, não uma tradução. Ouso dizer que aquela linguagem "sobrenatural" jamais será traduzida por humanos. Menos ainda que, caso traduzida, caberá numa página .

    2. Voltando ao ponto de vista moral, você diz que isso basta:

    "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas" (Mateus,7,vv.12)

    Ora, mas não é daí que surgem grande parte dos conflitos humanos? Se ainda fosse "não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a você", eu até diria que é um bom começo. Mas o que essa frase propõe é enxergar o mundo apenas com sua própria lente e impor ao próximo o seu ponto de vista. Não é isso que fazem os *radicais e incômodos* (apenas esses) comunistas, "gayzistas", vegetarianistas, cachorristas, feministas e outros "istas", incluindo aí os "libertarianistas"? Isso viola até mesmo o PNA descrito aqui, porque fazer ao outro o que você acha que é o certo pode ser considerado agressão. Não, não cabem numa página princípios morais universais. Mal cabem numa vida de intensa observação e meditação, pela mais ponderada alma sobre este planeta. Foi apenas isso o que quis dizer quando disse que uma regra universal de comportamento, em caso de abuso, ou não, pode e vai te tornar um idiota completo, em algum momento.

    Não se defende aqui que a economia é fortemente relacionada às ações humanas? Como, então, o indivíduo se trancar em si próprio e aplicar por aí regras de relacionamento como um robô? Na prática, não daria e não dá certo.

  • Andre Cavalcante  29/05/2013 22:35
    Pedro.

    1. Seu ponto simplesmente é irrelevante à discussão. Somente mostrei que a vida como a conhecemos está completamente descrita num DNA - não dá pra ignorar isso. E esses seus conceitos de tradução e transcrição só confundem, porque não são nem os cotidianos, nem os da genética.

    2. Boa! O princípio evangélico é simples: quer dizer que se você não se ofende em alguém lhe matar, estuprar, fraudar, impor suas ideias a você etc., então você pode fazer essas coisas com os outros. Se você se ofende com essas coisas, então não o faça ao seu semelhante. Se você aprova a caridade, as trocas voluntárias, a não coerção, então faça exatamente essas coisas com os outros. Se você se ofende com essas coisas, não as faça com o seu semelhante. Não sei se posso ser mais claro que isso. A propósito, a psicologia já mostrou que qualquer coisa que você enxergue será com "a sua própria lente" (mesmo que você esteja fazendo um espelho).

    Eu me ofendo em um homem ou mulher vir me impor seu padrão sexual, logo não tento impor o meu padrão aos outros.

  • anônimo  30/05/2013 12:29
    "Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas" (Mateus,7,vv.12)

    Isso leva a mais um ponto em que o libertarianismo é simplista. Vários psiquiatras que defendem a internação compulsória seriam realmente gratos se fossem eles os viciados em crack, que não conseguem viver sem aquilo, e alguém, que não precisa ser o governo, um familiar por ex, o internasse e o desintoxicasse.
    Todos são unânimes em falar que quando voltam ao juízo perfeito, a primeira coisa que o ex viciado faz é agradecer.

    Mas óbvio, como a realidade é bem diferente do mundo da imaginação do pessoal que elegeu o PNA como dogma, é só uma questão de tempo pra alguém falar que um ato desses é uma coisa negativa.É ruim porque o PNA é contra, e o PNA é contra porque é ruim.Isso se chama lógica circular, BTW.
  • Pupilo  29/05/2013 17:29
    Sim claro... Agressão contra inocentes devem ser proibidas a um certo numero de pessoas.. não todas...
  • Jeferson  29/05/2013 15:53
    David, aborto é uma questão complicada que divide os libertários. Há aqueles rotulados de "pró-vida", que são contra o aborto, e os rotulados de "pró-escolha", que são a favor por entenderem que a mãe do feto não pode ser obrigada a abrigar alguém em seu corpo contra sua própria vontade. Há ainda uma nova concepção chamada de "eviccionismo" (ou qualquer coisa assim), que defende que, o "aborto" é legítimo a partir do momento que for possível remover o feto do corpo da mãe e mantê-lo vivo fora deste. Pelo menos é a versão TL;DR do que eu consegui captar lendo o que li a respeito. Que me corrijam os mais esclarecidos.

    A questão do aborto sempre vai ser complexa e polêmica. No momento eu estou do lado dos pró-escolha, especialmente por existir uma coisa chamada "estupro" que tem tanto potencial de gerar filhos quanto qualquer ato sexual consentido, e às vezes tem mais sucesso do que estes.
  • anonimo  29/05/2013 17:34
    Boa tarde.

    Discordo do 1° parágrafo (ou talvez esteja admitindo certa ignorância):"À medida que o movimento libertário e as ideias associadas a ele vão ganhando maior proeminência ao redor do mundo[...]".

    Não é isso que vejo, parece-me que a social democracia, socialismo, progressistas, estão mais fortes do que nunca, não vejo um aumento do movimento libertário.

    E em relação ao penúltimo parágrafo:"Só que absolutamente todos os "serviços" que estado fornece já foram no passado ofertados de maneira não-coerciva. A questão..."

    Tento imaginar uma forma de um presídio particular, talvez obrigar os presos a trabalhar para pagar, ou permitir que empresas patrocinem presídios como fazem com serviços que são fornecidos gratuitamente, com propaganda de empresas.

    Mas confesso que todas essas formas trazem certos "furos" que não consigo preencher e a "privatização" prevista no Brasil é como toda privatização que existe por aqui, escolhe-se vencedores que são pagos com dinheiro de impostos...

    Ao longo da história não sei como funcionou fora do Estado.

    Então se alguém tiver algum comentário sobre minhas duas dúvidas (1° e penúltimos parágrafos).

    Obrigado.

  • Pupilo  29/05/2013 17:55
    Não vê aumento do movimento libertário? EPL, IMB, Ordem Livre, Liber, etc. E isso, só aqui no Brasil. Sem falar de vlogs, blogs, etc.

  • Wagner  29/05/2013 18:06
    Provavelmente ao cometer um crime a pessoa ou pagaria uma indenização a vítima.

    O que poderia acontecer é, caso a pessoa que cometeu o crime não tenha condições de ressarcir a vítima, ela poderia ser forçada a trabalhar até efetuar o pagamento... nesse caso o "presídio" seria mais como uma empresa que usaria os detentos como mão de obra, eles teriam sua liberdade restrita e seriam forçados a viver dentro do "presídio" até pagarem toda a sua dívida. Nesse tempo eles teriam que trabalhar também para pagar pelo abrigo, comida, roupas etc.
  • Tano   06/11/2014 00:25
    Não me parece muito a uma política de não agressão gerar escravidão
  • LG  24/11/2014 21:23
    Tano,

    Penso que o correto seria dizer que em uma nação onde as prisões fossem privadas e competissem entre si, nós eliminaríamos vários arranjos até chegar a um arranjo melhor.

    Exemplo de prisões que provavelmente faliriam:

    Prisões onde muitas pessoas conseguem fugir;
    Prisões onde há uma lei moral sendo quebrada, como por exemplo prisões em que os presos trabalham forçadamente (escravidão).

    Exemplos de prisões que talvez funcionassem:

    O preso deve pagar pelos custos ao sair da prisão, vendendo bens não roubados que ele tenha;
    A comunidade paga uma taxa para mantê-los na prisão.


    Como você pode ver acima, a competição entre as empresas geraria um arranjo mais eficiente e mais moralmente correto. Coisas que não são muito estimuladas em monopólios.


    De qualquer forma, eu sou da opinião que somente a violência pode parar a violência, então sou mais a favor do princípio da não-agressão a não quer que seja para parar uma agressão.
    Para parar a violência causada por criminosos, precisamos cometer uma violência contra eles (encarceramento).

    Eu gostaria de saber se alguém consegue um contra-exemplo da minha conjectura de que somente a violência pode parar a violência.
  • anônimo  24/11/2014 21:33
    Campo de concentração ?

    Quem decide o que é crime ?

    Libertários são doidos ou muito burros tá louco.
  • José  24/11/2014 21:42
    E quem é que tá defendendo campos de concentração, ô caluniador anônimo? Aponte!
  • LG  24/11/2014 21:50
    Não, anônimo. O que haverá é competição entre prisões até o ponto em que elas tornem-se eficientes e moralmente corretas.

    A propósito, não sou libertario, mas busco entender a posição dos outros antes de julgar algo. Esta é uma ótima lição.

    Outra boa lição é evitar chamar os outros de loucos, pois isto pode irritá-los e fazê-los perder a racionalidade, assim você perde a oportunidade de aprender algo, pois pode aprender coisas com qualquer pessoa, mas esta é uma tática muito eficiente para quem não quer descobrir a verdade mas sim ganhar discussões ou se iludir.
  • Camarada Friedman  29/05/2013 19:43
    "A diferença é que os libertários são francos e eloquentes quanto a isso (PNA), e aplicar este princípio em todas as esferas da vida, para todas as pessoas. "

    O PNA justifica violencia contra o estado ?

    dailyanarchist.com/2011/06/26/a-natural-law-justification-for-certain-forms-of-anarchist-violence/
  • Hueber  30/05/2013 00:25
    Acho que há uma certa confusão com a aplicação do PNA e as definições de libertarianismo. A base do libertarianismo é o direito de "self-ownership" (auto-propriedade?), ou seja, eu(e somente eu) tenho domínio(posse e controle) sobre o meu próprio corpo. O PNA e toda a cadeia lógica do pensamento libertário(direito ao produto do meu trabalho, direito de me defender) é derivado do "self-ownership" e não o contrário. O PNA não é suficiente para derivar todo o libertarianismo. O direito de propriedade é o que mais importa.

    Pare quem sabe ler em inglês:
    mises.org/daily/3660


    PS: Só postei isso, pq parece que existe uma certa confusão sobre a aplicação do PNA. Não é minha intenção desvirtuar o tópico, desde já peço desculpas.
  • Maurício.  30/05/2013 02:58
    Olhem o que eu acabei de ler no Radar, da Veja: Médico no quartel veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/judiciario/exercito-convoca-e-stj-obriga-medico-a-prestar-o-servico-militar-onze-anos-apos-dispensa/
  • Immc25  30/05/2013 17:37
    Eu não aceito as imoralidades cometidas pelo governo como algo normal, sempre que converso com alguma pessoa, procuro alertá-la sobre as malandragens do governo e digo a elas para serem autodidatas. Na minha opinião o Estado é corrupto e imoral, e não quer que os cidadãos estudem. O Estado recorre a métodos que outros indivíduos não recorreriam, porque não há ninguém superior para julgá-los, por isso abusam de suas imoralidades. E se houver alguém para julgar o Estado, esse juiz será a favor do Estado.
  • Francisco Costa  04/06/2013 14:50
    Estamos todos de acordo que não devemos nos preocupar com o Irã e com a Coréia do Norte porque o "princípio" de não agressão resolve tudo?
  • Leandro  04/06/2013 15:15
    Eu estou de acordo que não devemos nos preocupar com a Coréia do Norte simplesmente porque uma economia comunista cuja população literalmente está morrendo de fome não tem a mínima capacidade -- nem muito menos recursos -- para construir foguetes teleguiados. Não é à toa que todos os seus foguetes despencam alguns metros após terem sido lançados. Quem teme a Coréia do Norte não tem o mais mínimo conhecimento de economia.

    "Ah, mas a China financia a Coréia do Norte!" Beleza. E o que ela ganha com isso? Por que os chineses comprariam mais de um trilhão de dólares em títulos do governo americano se a real intenção é destruir o país com um míssil? Chinês por acaso é burro?

    Quanto ao Irã, qual seria o perigo? Bomba atômica? Nem a CIA diz ser factível. No que mais, o keynesianismo já destruiu o Irã. A atual preocupação do governo é alimentar sua população para evitar revoltas. A grande discussão do momento no Irã é quem será o próximo ministro da economia do novo governo.
  • Andre Cavalcante  04/06/2013 19:13
    Caraca, semana sim, semana não vem alguém aqui com essa de Irão e Coreia do Norte.

    Olha só: esses países somente são "uma ameaça à segurança nacional" nos EUA porque o governo americano escolheu eles (justamente porque parecem perigosos, mas não são) como o inimigo. O governo precisa de "inimigos da nação" para fomentar o patriotismo e a manutenção de seu rebanho de cordeiros...

    No mais, o princípio da não agressão resolve sim tudo: se você sair gritando pros quatro ventos que vai roubar a minha casa, e eu achar que isso não é piada, é claro que vou tomar todas as medidas que achar cabível para evitar isso. Da mesma forma, entre nações. Se a Coreia do Norte resolver ir pro tapa, vai perder, é claro, mas se o governo americano se cansar da lorota, pode muito bem ir às vias de fato.

    Em uma sociedade sem estado, inclusive, tais eventos seriam remotíssimos justamente por causa do custo associado a uma guerra e, principalmente, sem estados você iria guerrear contra quem? Se quisesse um recurso de uma região, principalmente as mais pobres, bastaria um acordo comercial vantajoso. De novo guerras entre nações, historicamente, somente são criadas por causa dos estados e quase nunca (a excessão são os problemas étinicos justamente criados pelo estado) por causa do seu povo.

  • Felipe  04/11/2014 14:59
    O Francisco Costa só esqueceu de dizer que o "terrível e poderoso" Irã foi invadido no século XX por, entre outros, Reino Unido, União Soviética(que quis implantar uma república popular no norte do Irã após a segunda guerra mundial) e Iraque. Agora, por obséquio, eu queria ver uma lista de países a quem o Irã invadiu, para constatar tal periculosidade tão afirmada pelo honesto e confiável estado americano.
  • Francisco Costa  04/06/2013 20:14
    Olha só: esses países somente são "uma ameaça à segurança nacional" nos EUA porque o governo americano escolheu eles (justamente porque parecem perigosos, mas não são) como o inimigo. O governo precisa de "inimigos da nação" para fomentar o patriotismo e a manutenção de seu rebanho de cordeiros...

    Tu vives em qual mundo? O ditador do Irã disse que limparia Israel do mapa, simples. Por um acaso ele falou isso só pra agradar o governo americano? Ah, cresça!

    A não-agressão só seria válida num mundo de pessoas sensatas, que não é o nosso. E quando falo mundo, falo MUNDO INTEIRO, pois bastaria um país ignorar isso para tornar todos os demais servos.
    Toda essa doutrina anarco-capitalista é maravilhosa, tanto quanto o mundo sem classes. Mas temos que olhar para o mundo real, onde pessoas furam filas e pulam catracas de ônibus.
  • Malthus  04/06/2013 20:28
    Um político do Irã fala uma coisa qualquer -- sem a mínima condição de fazê-lo -- e você acha que o sensato e equilibrado é mandar bombardear o país e dizimar toda a população?! Só porque um político fez uma provocação?! E você se acha humano?

    Outra coisa: os EUA vivem ameaçando bombardear as instalações do Irã. Pela sua lógica, perante esta ameaça explícita, as forças aéreas iranianas estariam plenamente justificadas em atacar os EUA para se defender. Ou para você a agressão só vale se partir de um dos lados?

    Desprezo qualquer coisa ligada a persas e árabes, mas meu desprezo não justifica nenhum genocídio. Se a sua peleja é com o Ahmadinejad -- que, diga-se de passagem, não é o chefe das forças armadas --, então vire homem, entre clandestinamente no Irã e o mate com um tiro na cabeça. Se não for homem para isso, contrate os serviços do Chacal. E deixe de ser um covardão que defende que um burocrata, do conforto de seu gabinete, envia jatos para fazerem um "carpet bombing" em uma população faminta e desprotegida.
  • anônimo  05/06/2013 14:27
    'Um político do Irã fala uma coisa qualquer -- sem a mínima condição de fazê-lo -- e você acha que o sensato e equilibrado é mandar bombardear o país e dizimar toda a população?! '

    Isso se chama a falácia do espantalho.Hora nenhuma o cara falou em dizimar toda a população. Com argumentos desse nível os libertários só confirmam que são um bando de lunáticos com pouca noção do mundo real.
  • Malthus  05/06/2013 14:55
    "Hora nenhuma o cara falou em dizimar toda a população."

    Que bom! Seria interessante então ele ser mais explícito no que ele defende. Aliás, você também. O Francisco ao menos é homem de colocar nome e sobrenome. Já você é um covardão que não tem sequer o tutano de se identificar em público, mas se acha moralmente superior a ponto de sair distribuindo atestados de lunatismo e de real noção de mundo. Cresça e apareça!
  • Francisco Costa  05/06/2013 15:40
    Calma galera...

    Ora, não fui "mais explicito" porque imaginei que não seria tão distorcido o que falei.

    Resumindo: afirmei que temos de nos proteger, uma vez que existem malucos por aí. Obviamente, essa proteção contra agentes externos, e mesmo interno, só pode vir do estado.
  • Andre Cavalcante  05/06/2013 14:13
    Ô Francisco Costa,

    Isso não se faz!

    "Tu vives em qual mundo? O ditador do Irã disse que limparia Israel do mapa, simples. Por um acaso ele falou isso só pra agradar o governo americano? Ah, cresça!"

    Você replica uma passagem minha e oculta justamente a resposta para a tua ingênua pergunta, como se eu não tivesse levado em consideração isso. O nome disso é falácia do espantalho. Você cria um espantalho, como um Judas na quarta-feira de cinzas, bate nele, como se estivesse atacando o meu argumento e depois aplica uma outra falácia, a falácia ad hominen, que é atacar a pessoa e não a ideia.

    Eu sim, agora com bons motivos, posso dizer-te: cresça!

    Saia desse seu horizonte de pensamento mesquinho e se abra para a vida e a liberdade. Ao fim e ao cabo verás quantos erros tomaste por verdade e quantas verdades negastes por preconceito.
  • Francisco Costa   05/06/2013 14:59
    Imagino que todo seu conhecimento sobre falácias tenha vindo de meses de estudo sistemático do tivium.

    Não usei nenhuma das falácias que disseste, creio que a lei de gowdin deva ser aplicável também para falácia. Leia novamente!
  • Malthus  05/06/2013 15:55
    Caro Franscisco, desculpe-me, mas continua ambíguo. O que exatamente você está defendendo? Dizer que o governo deve proteger o país é algo pra lá de básico. A questão é: se o governo deve proteger o país, onde entra o Irã nessa história? O que explicitamente você defende que deve ser feito contra o povo do Irã (uma vez que é impossível fazer algo apenas contra os governantes)?
  • Marcelo Henrique  04/11/2014 15:02
    Francisco Costa, você está esquecendo do detalhe de que é justamente o estado que cria as guerras. Por quê diabos a população do Irã iria querer destruir a Indonésia por exemplo? Se há uma briguinha entre o Irá e o EUA é justamente por causa da política externa americana, o mesmo raciocínio é válido para as Coreias do Sul e do Norte, quem alimenta essa briguinha tosca são seus respectivos governos, principalmente o norte-coreano. Eu tenho certeza de que se dependesse dos habitantes desses países essa guerrinha não existiria.
  • Pobre Paulista  04/11/2014 16:49
    Mas temos que olhar para o mundo real, onde pessoas furam filas e pulam catracas de ônibus.

    Furam filas dos órgãos públicos de atendimento e pulam catracas do transporte público.

    Vai num shopping e veja se vc fica 5 minutos esperando para ser atendido.
    Instala o Ubber ou um App de taxi e veja se vc fica 5 minutos esperando por transporte.

    Vc é tão cego que não percebe que está atacando seus próprios argumentos pró-estado.
  • Silvio  04/11/2014 19:36
    Seu comentário me fez lembrar dessa citação de Harry Browne:

    "O Governo é bom em uma coisa. Ele sabe como quebrar as suas pernas apenas para depois lhe dar uma muleta e dizer: 'veja, se não fosse pelo governo, você não seria capaz de andar!'"

    Mesmo sem ter plena consciência disso, ele defende o estado como a solução para os problemas que o próprio estado criou em primeiro lugar. Ele quer as muletas estatais e não quer ver o fato óbvio de que foi esse mesmo estado quem lhe quebrou as pernas. Depois de tudo o que foi dito, só nos resta torcer para que ele consiga se libertar dessa prisão mental.
  • Rodrigo  04/06/2013 20:57
    Não a um ataque ao Irã!
  • Anarco-Individualista  05/06/2013 01:33
    ESQUERDA = DIREITA = LIXO AUTORITÁRIO!!!
  • Marcelo Werlang de Assis  11/06/2013 00:29
    De antemão já digo que concordo plenamente com o posicionamento manifestado por LEW ROCKWELL nesse artigo –- o qual, de acordo com a minha opinião, resume-se nesta citação:

    "Praticamente todas as pessoas hoje aceitam, ao menos implicitamente, a alegação de que o estado opera em uma dimensão moral paralela, na qual as regras morais tradicionais não são aplicáveis. Outros vão além e afirmam que o estado está acima da moralidade que conhecemos."

    Abaixo, reproduzo sete trechos do livro "O Príncipe", de MACHIAVELLI, com a finalidade de mostrar que existem, sim, algumas passagens cuja leitura realmente vale a pena. Sob o meu ponto de vista, trata-se de conselhos dos quais o particular pode extrair auxílio para enfrentar acontecimentos que porventura ocorram na sua vida privada, adaptando-se o sentido deles às situações, obviamente.

    [Bibliografia -- MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008.]

    "Nesses casos, com efeito, os romanos fizeram o que devem fazer todos os príncipes sábios, atentando não só para as disputas do momento, mas também para as futuras, e protegendo-se cuidadosamente contra elas. Se tais discórdias são previstas, podem ser facilmente controladas; se espera-se a sua ocorrência, o remédio deixará de ser oportuno, tornando-se a moléstia incurável.
    Passa-se algo parecido com a tísica, que, conforme os médicos, no princípio é fácil de curar, mas difícil de diagnosticar, e que, com o tempo, quando não é desde logo reconhecida e tratada, torna-se fácil de ser reconhecida e difícil de ser tratada. É o que ocorre com os negócios do Estado: pois a antevisão (o que só é dado ao homem prudente) dos males que advirão torna possível curá-los facilmente. Porém, quando esses males se avolumam, por falta de tal previsão, de modo que todos já podem reconhecê-los, não há mais remédio que possa controlá-los. Por isso, os romanos, prevendo as desordens quando ainda remotas, podiam sempre encontrar-lhes solução; e jamais permitiam que elas crescessem com o propósito de evitar uma guerra. Sabiam eles que as guerras não podem ser evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo. Foi assim que declararam guerra contra Antíoco e Filipe, na Grécia, para não precisar combatê-los em território italiano. Embora tivessem podido evitar a ambos, preferiram não fazê-lo, ignorando o conselho tão ouvido hoje, o da protelação, e preferindo confiar no seu próprio valor e na sua própria prudência, já que o tempo traz consigo todas as coisas, indiferentemente: o bem e o mal." (p. 39 e 40)

    "Os príncipes, por conseguinte, não deveriam ter outro objetivo ou outro pensamento além da guerra, suas leis e sua disciplina, nem estudar qualquer outro assunto; pois esta é a única arte que se espera de quem comanda. Tal é a sua importância, que ela não só mantém no poder os que nasceram príncipes, mas torna possível a homens comuns galgar a posição de soberano. Observemos que, quando os príncipes se interessam mais pelas coisas amenas do que pelas armas, perdem os seus domínios. A causa principal da perda dos Estados é a negligência da arte da guerra; e a maneira de conquistá-los é ser nela bem-versado." (p. 94)

    "Os príncipes nunca devem permitir, portanto, que os seus pensamentos se afastem dos exercícios bélicos; exercícios que devem praticar na paz mais ainda do que na guerra, de duas formas: pela ação física e pelo estudo. Quanto à ação física, além de manterem os seus homens bem disciplinados e exercitados, devem praticar sempre a caça, que habitua o corpo às agruras. A caça ensina a natureza das regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, a extensão das planícies; ensina a compreender a natureza dos rios e dos pântanos, o que requer muita atenção." (p. 95)

    "Filopêmene, príncipe dos aqueus, entre outros elogios que lhe foram feitos, é louvado porque em tempo de paz sempre se preocupou com os métodos da guerra; quando passeava pelos campos com os amigos, muitas vezes se detinha e argumentava: 'Se o inimigo estivesse ocupando aquela elevação, se nós estivéssemos neste ponto com um exército, quem teria a posição mais vantajosa? Como seria possível chegar até ele, mantendo a nossa ordem de combate? Se quiséssemos recuar, como o faríamos? Se o inimigo se afastasse, de que forma deveríamos persegui-lo?' À medida que avançavam, expunha todas as contingências com que um exército poderia se deparar, ouvia opiniões e dizia aos seus soldados o que pensava. Assim, graças a essas constantes reflexões, quando conduzia de fato as suas tropas nenhum incidente podia ocorrer para o qual não estivesse preparado." (p. 96)

    "Sendo obrigado a saber agir como um animal, deve o príncipe valer-se das qualidades da raposa e do leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não consegue defender-se dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para reconhecer as armadilhas e ser leão para afugentar os lobos." (p. 109)

    "É também muito estimado o príncipe que age como verdadeiro amigo ou como inimigo declarado; isto é, que se declara sem reservas em favor de uns e contra outros, política que é sempre mais útil do que a da neutralidade." (p. 134)

    "Há três tipos diferentes de mente: a primeira compreende as coisas por si só; a segunda compreende as coisas demonstradas por outrem; a terceira nada consegue discernir –- nem sozinha, nem com a ajuda dos outros. A primeira espécie é a melhor de todas; a segunda é também muito boa; mas a terceira é inútil." (p. 138)

    Abaixo, reproduzo seis trechos que se encontram no lado eminentemente político do livro. As quatro primeiras passagens revelam um MACHIAVELLI mais comprometido com a moralidade (ou menos indiferente em relação a ela); após cada uma dessas quatro citações, eu realizo um comentário.

    "Por esses motivos, o príncipe não deve se incomodar de ser tido como miserável, para não ter de onerar demais os súditos, para poder defender-se, para não tornar-se pobre e desprezado e para não ser obrigado a ter uma conduta rapace (...)." (p. 101)

    Aqui, MACHIAVELLI aconselha o príncipe a adotar uma conduta parcimoniosa no tocante às finanças públicas –- o autor diz que ele deve ser "miserável" (na conotação de "parcimonioso") em vez de "liberal" (no sentido de "gastador", de "perdulário").

    "Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer de modo que, mesmo não ganhando o amor dos súditos, pelo menos evite o seu ódio. O temor e a ausência de ódio podem coexistir –- isso é conseguido por aquele que se abstiver de atentar contra o patrimônio dos súditos e dos cidadãos e contra as suas mulheres. Quando for preciso executar um cidadão, que haja uma justificativa e uma razão manifesta. E, principalmente, que o príncipe se abstenha de tomar os bens, pois os homens se esquecem mais facilmente da morte do pai do que da perda do patrimônio. Por outro lado, sempre há pretextos para tomar os bens alheios, e quem começa a viver de rapina encontrará sempre algum motivo para tomar o que não é seu, enquanto que os motivos para tomar a vida alheia são mais raros e menos duradouros." (p. 105)

    MACHIAVELLI, ao aconselhar o príncipe acerca do modo como os súditos e os cidadãos o veem, disserta que é melhor ser temido do que amado, mas que é importante evitar que o ódio seja fomentado entre a população –- o que, no entendimento de MACHIAVELLI, será obtido respeitando-se a propriedade material dos súditos e dos cidadãos e a dignidade (sexual) das suas mulheres.

    "Quem se torna o senhor de uma cidade livre, mas não a aniquila pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para rebelião em nome da liberdade perdida e das eventuais tradições, que nem o curso do tempo nem os benefícios recebidos conseguem apagar." (p. 50)

    Aqui, MACHIAVELLI diz que é bastante complicado dominar uma localidade habituada a viver em liberdade, sem uma opressão estatal de fato operante, e que a solução para a verdadeira conquista de tal localidade é, na prática, a sua destruição. O autor, assim, demonstra estar ciente de que a liberdade, sim, possui respeitável poder.

    "Os príncipes devem demonstrar apreço às virtudes, dar oportunidades aos mais capazes e honrar os excelentes em cada arte. Devem, além disso, incentivar os cidadãos a praticar pacificamente a sua atividade –- no comércio, na agricultura ou em qualquer outro ramo profissional. Assim, que uns não deixem de aumentar o seu patrimônio pelo temor de que lhes seja retirado o que possuem, que outros não deixem de iniciar um comércio por causa do medo dos tributos; devem os príncipes, ao contrário, instituir prêmios para quem é ativo e procurar de um modo ou de outro melhorar a sua cidade ou o seu Estado." (p. 136)

    MACHIAVELLI, de certa forma, transpõe no papel ideias semelhantes àquelas defendidas pelos liberais clássicos (minarquistas).

    "Os mais capazes de imitar a raposa lograram maior êxito. Mas é necessário saber disfarçar bem essa natureza e dissimular perfeitamente; os homens são tão pouco argutos –- e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas –- que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar." (p. 109)

    "O príncipe, portanto, precisa ter a mente apta a se modificar conforme os ventos que sopram, seguindo as variações da sorte –- evitando desviar-se do bem se for possível, mas guardando a capacidade de praticar o mal, se forçado pela necessidade.
    Deve o príncipe ter muito cuidado, para que as suas palavras nunca deixem de aparentar estar ele repleto das cinco qualidades acima indicadas, de forma que quem o veja e ouça pense ser todo ele piedade, fé, integridade, humanidade e religião. (...) De modo geral, os homens julgam mais com os olhos do que com o tato; todos podem ver, mas poucos são capazes de sentir. Todos veem a nossa aparência, mas poucos sentem o que realmente somos –- e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a majestade do Estado a defendê-la. Na conduta dos homens, especialmente na dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como honrosos e elogiados por todos, pois o vulgo atenta sempre para a aparência e os resultados; o mundo se compõe só de pessoas de vulgo e de umas poucas que, não sendo vulgares, ficam sem oportunidade quando a multidão se reúne em torno do soberano." (p. 111)
  • Marcelo Werlang de Assis  11/06/2013 23:12
    Abaixo, reproduzo mais dois bons trechos do livro "O Príncipe":

    "Só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós e de nosso próprio valor." (p. 146)

    "Será preciso, contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer e com aquilo em que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra e que aja com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso de confiança não o torne incauto e de modo que a desconfiança excessiva não o faça intolerante." (p. 104)


  • Marcelo Werlang de Assis  17/06/2013 00:10
    Transcrevo algumas interessantes citações de Napoleão Bonaparte (livro "Como fazer a guerra -- máximas e pensamentos", da editora L&PM POCKET), cujos comentários à obra O Príncipe foram publicados na edição da Martin Claret.

    "Com o tempo, poder em excesso acaba por depravar o homem mais honesto."

    "A política, que não pode ser moral, deve fazer triunfar a moral."

    "Há somente duas classes na Europa: a que quer privilégios e a que os execra."

    "As leis da maioria dos países são feitas para oprimir o infortunado e para proteger o homem poderoso."

    "Bem analisada, a liberdade política é uma convenção fingida, imaginada pelos governantes para adormecer os governados."

    "Todos os partidos são jacobinos."

    "A ambição de dominar sobre os espíritos é a mais forte de todas as paixões."

    "A maior parte dos que não querem que os oprimam quer oprimir."

    "A neutralidade consiste em considerar cada um com o mesmo peso e com a mesma medida. Na política, ela é um contrassenso, pois sempre se tem interesse no triunfo de alguém."

    "É muito difícil saber onde termina a polidez e onde começa a adulação."

    "O melhor meio de manter a palavra é nunca dá-la."

    "Um soberano só deve prometer aquilo que quer cumprir."

    "Desde a descoberta da imprensa, as luzes são chamadas para reinar; e reina-se apenas para subjugá-las."

    "Há revoluções inevitáveis; para preveni-las, deve-se vigiar o movimento das ideias."

    "Um soberano deve sempre confiscar a publicidade para o seu proveito."

    "Se a obediência é o resultado do instinto das massas, a revolta é o da sua reflexão."

    "Os jovens cumprem as revoluções que os velhos prepararam."

    "Uma revolução é um ciclo vicioso: parte do excesso para voltar a ele."

    "As multidões precisam de festas estrepitosas; os tolos gostam do barulho –- e os tolos são a multidão."

    "As pessoas só acreditam no que é agradável acreditar."

    "O meio de ser acreditado é tornar a verdade inacreditável."

    "É bem mais seguro ocupar os homens por coisas absurdas do que por ideias justas."

    "Habituar-se aos fatos mais violentos consome menos o coração do que as abstrações; os militares valem mais do que os advogados."

    "As leis, claras em teoria, são um caos na aplicação."

    "Interpretar uma lei é corrompê-la; os advogados matam as leis."

    "A lei social pode dar aos homens os mesmos direitos, mas a natureza jamais lhes dará faculdades iguais."

    "A monarquia está fundada sobre a desigualdade das condições que existe na natureza, e a república, sobre a igualdade que é impossível de existir."

    "A igualdade existe apenas em teoria."

    "A arte da guerra consiste, com um exército inferior, em ter mais força nos pontos em que se ataca ou se é atacado."

    "O segredo das grandes batalhas consiste em saber estender-se ou concentrar-se no momento oportuno."

    "Um exército deve estar a todo instante pronto a opor toda a resistência de que é capaz."

    "Os princípios de César foram os de Aníbal, e os de Aníbal, os de Alexandre: manter as forças sempre reunidas; não ser vulnerável em nenhum ponto; dirigir com rapidez todas as forças a um determinado objetivo."

    "Tem-se todo o valor quando se substituem a turbulência pelos princípios, a vaidade pelo orgulho e o amor aos cargos pelo amor às instituições."

    "Nada funciona em um sistema político em que as palavras não combinam com as coisas."

    "No Egito, com uma boa administração, o Nilo vence o deserto; com uma má, o deserto vence o Nilo; o gênio do bem e o do mal estão sempre frente a frente: todo o Egito está aí."

    "O nome e a forma de governo nada significam, contanto que os cidadãos sejam iguais em direitos e que a justiça seja bem praticada."

    "O que chamam de lei natural não é senão a do interesse e da razão."

    "Só se faz bem aquilo que a gente mesmo faz."

    "O homem superior é impassível: enaltecido ou reprovado, segue sempre."

    "Há somente duas alavancas para mover os homens: o temor ou o interesse."

    "O que caracteriza a demência é a desproporção entre as ideias e os meios."

    "Uma nação em que todos querem cargos importantes está vendida de antemão."

    "Muitas coisas se frustram quando fingimos não vê-las."

    "Nas questões do mundo, não é a fé que salva, é a desconfiança."

    "As faculdades físicas se aguçam e se desenvolvem em meio aos perigos e às necessidades; os marinheiros e os beduínos têm a visão do lince, e os selvagens das florestas, o faro dos animais."

    "A coragem não se finge; ela é uma virtude que escapa à hipocrisia."

    Abraços!
  • Marcelo Werlang de Assis  19/06/2013 15:50
    Refiz a formatação dos meus comentários anteriores:

    De antemão, já digo que concordo plenamente com o posicionamento manifestado por LEW ROCKWELL nesse artigo — o qual, de acordo com a minha opinião, resume-se nesta citação:

    Praticamente todas as pessoas hoje aceitam, ao menos implicitamente, a alegação de que o estado opera em uma dimensão moral paralela, na qual as regras morais tradicionais não são aplicáveis. Outros vão além e afirmam que o estado está acima da moralidade que conhecemos.

    Abaixo, reproduzo sete trechos do livro O Príncipe, de MACHIAVELLI, com a finalidade de mostrar que existem, sim, algumas passagens cuja leitura realmente vale a pena. Sob o meu ponto de vista, trata-se de conselhos dos quais o particular pode extrair auxílio para enfrentar acontecimentos que porventura ocorram na sua vida privada, adaptando-se o sentido deles às situações, obviamente.

    [Bibliografia — MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Editora Martin Claret, 2008.]

    Nesses casos, com efeito, os romanos fizeram o que devem fazer todos os príncipes sábios, atentando não só para as disputas do momento, mas também para as futuras, e protegendo-se cuidadosamente contra elas. Se tais discórdias são previstas, podem ser facilmente controladas; se espera-se a sua ocorrência, o remédio deixará de ser oportuno, tornando-se a moléstia incurável.
    Passa-se algo parecido com a tísica, que, conforme os médicos, no princípio é fácil de curar, mas difícil de diagnosticar, e que, com o tempo, quando não é desde logo reconhecida e tratada, torna-se fácil de ser reconhecida e difícil de ser tratada. É o que ocorre com os negócios do Estado: pois a antevisão (o que só é dado ao homem prudente) dos males que advirão torna possível curá-los facilmente. Porém, quando esses males se avolumam, por falta de tal previsão, de modo que todos já podem reconhecê-los, não há mais remédio que possa controlá-los. Por isso, os romanos, prevendo as desordens quando ainda remotas, podiam sempre encontrar-lhes solução; e jamais permitiam que elas crescessem com o propósito de evitar uma guerra. Sabiam eles que as guerras não podem ser evitadas e que, quando adiadas, só trazem benefícios para o inimigo. Foi assim que declararam guerra contra Antíoco e Filipe, na Grécia, para não precisar combatê-los em território italiano. Embora tivessem podido evitar a ambos, preferiram não fazê-lo, ignorando o conselho tão ouvido hoje, o da protelação, e preferindo confiar no seu próprio valor e na sua própria prudência, já que o tempo traz consigo todas as coisas, indiferentemente: o bem e o mal. (p. 39 e 40)

    Os príncipes, por conseguinte, não deveriam ter outro objetivo ou outro pensamento além da guerra, suas leis e sua disciplina, nem estudar qualquer outro assunto; pois esta é a única arte que se espera de quem comanda. Tal é a sua importância, que ela não só mantém no poder os que nasceram príncipes, mas torna possível a homens comuns galgar a posição de soberano. Observemos que, quando os príncipes se interessam mais pelas coisas amenas do que pelas armas, perdem os seus domínios. A causa principal da perda dos Estados é a negligência da arte da guerra; e a maneira de conquistá-los é ser nela bem-versado. (p. 94)

    Os príncipes nunca devem permitir, portanto, que os seus pensamentos se afastem dos exercícios bélicos; exercícios que devem praticar na paz mais ainda do que na guerra, de duas formas: pela ação física e pelo estudo. Quanto à ação física, além de manterem os seus homens bem disciplinados e exercitados, devem praticar sempre a caça, que habitua o corpo às agruras. A caça ensina a natureza das regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, a extensão das planícies; ensina a compreender a natureza dos rios e dos pântanos, o que requer muita atenção. (p. 95)
    Filopêmene, príncipe dos aqueus, entre outros elogios que lhe foram feitos, é louvado porque em tempo de paz sempre se preocupou com os métodos da guerra; quando passeava pelos campos com os amigos, muitas vezes se detinha e argumentava: "Se o inimigo estivesse ocupando aquela elevação, se nós estivéssemos neste ponto com um exército, quem teria a posição mais vantajosa? Como seria possível chegar até ele, mantendo a nossa ordem de combate? Se quiséssemos recuar, como o faríamos? Se o inimigo se afastasse, de que forma deveríamos persegui-lo?" À medida que avançavam, expunha todas as contingências com que um exército poderia se deparar, ouvia opiniões e dizia aos seus soldados o que pensava. Assim, graças a essas constantes reflexões, quando conduzia de fato as suas tropas nenhum incidente podia ocorrer para o qual não estivesse preparado. (p. 96)

    Sendo obrigado a saber agir como um animal, deve o príncipe valer-se das qualidades da raposa e do leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não consegue defender-se dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para reconhecer as armadilhas e ser leão para afugentar os lobos. (p. 109)

    É também muito estimado o príncipe que age como verdadeiro amigo ou como inimigo declarado; isto é, que se declara sem reservas em favor de uns e contra outros, política que é sempre mais útil do que a da neutralidade. (p. 134)

    Há três tipos diferentes de mente: a primeira compreende as coisas por si só; a segunda compreende as coisas demonstradas por outrem; a terceira nada consegue discernir — nem sozinha, nem com a ajuda dos outros. A primeira espécie é a melhor de todas; a segunda é também muito boa; mas a terceira é inútil. (p. 138)


    Abaixo, reproduzo seis trechos que se encontram no lado eminentemente político do livro. As quatro primeiras passagens revelam um MACHIAVELLI mais comprometido com a moralidade (ou menos indiferente em relação a ela); após cada uma dessas quatro citações, eu realizo um comentário.

    Por esses motivos, o príncipe não deve se incomodar de ser tido como miserável, para não ter de onerar demais os súditos, para poder defender-se, para não tornar-se pobre e desprezado e para não ser obrigado a ter uma conduta rapace (...). (p. 101)

    (1) Aqui, MACHIAVELLI aconselha o príncipe a adotar uma conduta parcimoniosa no tocante às finanças públicas — o autor diz que ele deve ser "miserável" (na conotação de "parcimonioso") em vez de "liberal" (no sentido de "gastador", de "perdulário").

    Não obstante, o príncipe deve fazer-se temer de modo que, mesmo não ganhando o amor dos súditos, pelo menos evite o seu ódio. O temor e a ausência de ódio podem coexistir — isso é conseguido por aquele que se abstiver de atentar contra o patrimônio dos súditos e dos cidadãos e contra as suas mulheres. Quando for preciso executar um cidadão, que haja uma justificativa e uma razão manifesta. E, principalmente, que o príncipe se abstenha de tomar os bens, pois os homens se esquecem mais facilmente da morte do pai do que da perda do patrimônio. Por outro lado, sempre há pretextos para tomar os bens alheios, e quem começa a viver de rapina encontrará sempre algum motivo para tomar o que não é seu, enquanto que os motivos para tomar a vida alheia são mais raros e menos duradouros. (p. 105)

    (2) MACHIAVELLI, ao aconselhar o príncipe acerca do modo como os súditos e os cidadãos o veem, disserta que é melhor ser temido do que amado, mas que é importante evitar que o ódio seja fomentado entre a população — o que, no entendimento de MACHIAVELLI, será obtido respeitando-se a propriedade material dos súditos e dos cidadãos e a dignidade (sexual) das suas mulheres.

    Quem se torna o senhor de uma cidade livre, mas não a aniquila pode esperar ser destruído por ela, pois sempre haverá motivo para rebelião em nome da liberdade perdida e das eventuais tradições, que nem o curso do tempo nem os benefícios recebidos conseguem apagar. (p. 50)

    (3) Aqui, MACHIAVELLI diz que é bastante complicado dominar uma localidade habituada a viver em liberdade, sem uma opressão estatal de fato operante, e que a solução para a verdadeira conquista de tal localidade é, na prática, a sua destruição. O autor, assim, demonstra estar ciente de que a liberdade, sim, possui respeitável poder.

    Os príncipes devem demonstrar apreço às virtudes, dar oportunidades aos mais capazes e honrar os excelentes em cada arte. Devem, além disso, incentivar os cidadãos a praticar pacificamente a sua atividade — no comércio, na agricultura ou em qualquer outro ramo profissional. Assim, que uns não deixem de aumentar o seu patrimônio pelo temor de que lhes seja retirado o que possuem, que outros não deixem de iniciar um comércio por causa do medo dos tributos; devem os príncipes, ao contrário, instituir prêmios para quem é ativo e procurar de um modo ou de outro melhorar a sua cidade ou o seu Estado. (p. 136)

    (4) MACHIAVELLI, de certa forma, transpõe no papel ideias semelhantes àquelas defendidas pelos liberais clássicos (minarquistas).

    Os mais capazes de imitar a raposa lograram maior êxito. Mas é necessário saber disfarçar bem essa natureza e dissimular perfeitamente; os homens são tão pouco argutos — e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas — que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar. (p. 109)

    O príncipe, portanto, precisa ter a mente apta a se modificar conforme os ventos que sopram, seguindo as variações da sorte — evitando desviar-se do bem se for possível, mas guardando a capacidade de praticar o mal, se forçado pela necessidade.
    Deve o príncipe ter muito cuidado, para que as suas palavras nunca deixem de aparentar estar ele repleto das cinco qualidades acima indicadas, de forma que quem o veja e ouça pense ser todo ele piedade, fé, integridade, humanidade e religião. (...) De modo geral, os homens julgam mais com os olhos do que com o tato; todos podem ver, mas poucos são capazes de sentir. Todos veem a nossa aparência, mas poucos sentem o que realmente somos — e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a majestade do Estado a defendê-la. Na conduta dos homens, especialmente na dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende conquistar e manter o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como honrosos e elogiados por todos, pois o vulgo atenta sempre para a aparência e os resultados; o mundo se compõe só de pessoas de vulgo e de umas poucas que, não sendo vulgares, ficam sem oportunidade quando a multidão se reúne em torno do soberano. (p. 111)


    Abaixo, mais duas boas citações de MACHIAVELLI:

    Só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós e de nosso próprio valor. (p. 146)

    Será preciso, contudo, ser cauteloso com aquilo que fizer e com aquilo em que acreditar; é necessário que não tenha medo da própria sombra e que aja com equilíbrio, prudência e humanidade, de modo que o excesso de confiança não o torne incauto e de modo que a desconfiança excessiva não o faça intolerante. (p. 104)


    Abraços!
  • Francisco Costa  19/06/2013 16:20
    Putz, sério que tu compras livro da Martin Claret? Ler Maquiavel já não é fácil, imagina quando a tradução é uma colcha de retalhos...

    naogostodeplagio.blogspot.com.br/search/label/martin%20claret
  • Estagiário de Direito  04/11/2014 16:12
    "Só que absolutamente todos os "serviços" que estado fornece já foram no passado ofertados de maneira não-coerciva. A questão é que nós simplesmente não somos estimulados a estudar e a aprender esta história, e a estrutura de ensino que involuntariamente adotamos desde os nossos primeiros dias na escola tornou nossa imaginação estreita e tacanha demais para conceber essa possibilidade."

    Nunca obtive informações consistentes a respeito do serviço de jurisdição ofertado de maneira não-coercitiva, apesar de inúmeras pesquisas a respeito. Há algum artigo do IMB que (ainda que indiretamente) aborde esse tema?
  • Tio Patinhas  04/11/2014 17:25
    A arbitragem é bastante usada em vários países, acho que entraria nessa categoria. No Brasil quando a arbitragem começou a ser usada com mais frequência, o governo logo fez o possível para acabar com isso, não conseguiu, mas vem dificultando.
  • Andre Cavalcante  04/11/2014 19:45
    Isso sem falar do argumento histórico, em que os Hebreus foram governados, por um tempo, por juízes, sendo cada qual líder na sua tribo/clã. Em caso de guerra um juiz guerreiro era eleito por aqueloutros (Sansão, Josué etc.). As Leis de Moisés balizavam as decisões, mas os juízes surgiram naturalmente na sociedade por serem reconhecidos como pessoas honradas e que podiam, por isso mesmo, mediar as situações e conflitos no meio do povo.

    Não era perfeito, nem totalmente privado, mas mostra claramente que outros arranjos são possíveis.



  • mauricio barbosa  05/11/2014 01:11
    Os juízes foram instituídos por Moisés.
  • mauricio barbosa  05/11/2014 14:58
    No livro de Êxodo 18:24 especifica a instituição dos juízes entre o povo hebreu.
  • Silvio  05/11/2014 15:57
    E em 1 Samuel 11:15, o povo escolhe um rei para lhes oprimir, digo, governar.
  • Vagner  04/11/2014 16:58
    Taca le pau, Rockwell!
  • Jônatas  04/11/2014 20:07
    Eu gostei muito do texto, a única ressalva que acho relevante e não foi feita é a respeito de distinguir as idéias expressas em "O Príncipe" e as idéias do homem republicano Nicolau Maquiavel. É sabido que este conselheiro florentino era um republicano, o que pode ser notado no livro "Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio". Ao escrever o infame e genial livro referência, se encontrava condenado ao ostracismo, pois foi conveniente aos príncipes contemporâneos dele mantê-lo assim, o próprio livro é dedicado a um. Aconselho a todo mundo que tem a opinião de Maquiavel ser um defensor dos "tiranos e imorais" a reler o livro conhecendo essa outra face, a do homem assaz à frente de seu tempo, que elogiava a República e idealizava um governo humano baseado na virtude. Quando se lê a obra com esse contexto, o livro se torna muito interessante...

    É como ler outro "O Príncipe" um tratado de desdém e ironia de um homem que tinha repulsa pela tirania, e assim, é muito fácil entender porque foi mantido no ostracismo, afinal de contas, as pessoas que o conheciam poderiam tomar suas palavras de conselho no seu sentido original, com o tom de sarcasmo que o fez falar em alto e bom som como aqueles governantes eram imorais e perversos.
  • Neto  04/11/2014 20:42
    Off topic.
    Pessoal, como faço para comprar a Revista Mises, 2ª edição??? Não achei na loja.
    Obrigado
  • Zara  04/11/2014 21:27
    Na época de Maquiavel existia uma corrente de pensamento libertário? Ou algo próximo do que hoje conhecemos?...

    Caso não existisse, então é pertinente reavaliar os argumentos que tentam desmontar o posicionamento maquiavélico analisando apenas caminhos conhecidos centenas de anos mais tarde, no caso, agora.
    Uma visão paralaxe é de suma importância para desmontarmos pensamentos clássicos.

    Maquiavel (usando de ironia ou não) se vislumbrasse para o futuro algo parecido como afronta libertaria ao Príncipe, faria parte do grupo de gênios que enxergam alem dos comuns.
  • Silvio  05/11/2014 06:42
    Em resposta a seu questionamento, leia:

    1) esses artigos do Professor Ubiratan Jorge Iorio:
    a) www.mises.org.br/Article.aspx?id=1694
    b) www.mises.org.br/Article.aspx?id=1699
    c) www.mises.org.br/Article.aspx?id=1703

    2) um artigo do Rothbard sobre Étienne de La Boétie: www.mises.org.br/Article.aspx?id=1197

    Em suma, a resposta à sua pergunta, a grosso modo, é SIM. Mas não deixe de ler os artigos, são muito interessantes.
  • Zara  05/11/2014 16:13
    Obrigado Silvio, vou ler todos os artigos.
  • anônimo  05/11/2014 12:58
    Não sei se sou libertário, odeio o governo com todas as forças (até o ponto de se extinguir) mas não é por causa de PNA nenhum.
    Aliás acho até que PNA não é princípio de nada, o princípio é ser uma pessoa decente e o resto é consequência, incluindo não agredir ninguém.
    Também não consigo aceitar como o libertarianismo é ambíguo em assuntos como aborto ou pedofilia.
    Talvez um dia algum intelectual invente uma filosofia alinhada com meu tipo de pensamento, até lá fico do lado dos libertários mas apenas por pragmatismo.
  • Emerson Luis, um Psicologo  09/11/2014 18:22

    Voltando a citar Stephen Covey, ele ensinou que nossos valores determinam nossas decisões, mas as leis naturais determinam as consequências dessas decisões.

    Isso vale para todos, inclusive para os mais poderosos líderes.

    * * *


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