segunda-feira, 26 ago 2013
Por
que o gás natural é vendido dentro dos EUA a US$0,139 o metro cúbico ao passo
que, na Europa e no Japão, ele é vendido a US$0,409 e US$0,600 respectivamente?
Parte
da resposta está na enorme oferta existente nos EUA. Com métodos de extração altamente
tecnológicos e com a recente descoberta de vastos depósitos ricos em gás de xisto,
as reservas estimadas dos EUA são de aproximadamente 6,8 trilhões de metros
cúbicos. Considerando-se as atuais taxas
de uso, isso se traduz em uma oferta de gás natural de mais de 100 anos. O que parcialmente explica os altos preços
europeus e japoneses é o fato de que os mercados globais de gás natural não são
integrados. O governo americano impôs
severas restrições à exportação de gás natural do país.
E
isso, naturalmente, nos leva à próxima pergunta: por que há restrições à
exportação de gás natural dos EUA? A
resposta é a de sempre: basta seguir o dinheiro. De acordo com o site OpenSecrets.org, a
empresa The Dow Chemical "apresentou despesas recordes com atividades lobistas
no ano de 2012, gastando aproximadamente US$12 milhões. E, pelo atual ritmo, irá superar esta quantia
neste ano." A empresa também gastou
centenas de milhares de dólares em contribuições para campanhas de políticos
que apóiam as restrições às exportações de gás natural.
O
gás natural é utilizado pela Dow como matéria-prima. A empresa se beneficia financeiramente dos
baixos preços do gás, os quais aumentariam caso o Congresso americano revogasse
as restrições às exportações, pois isso elevaria a demanda externa e,
consequentemente, diminuiria a oferta interna.
A Dow argumenta que "todo o atual otimismo da indústria americana está
fundamentado nas perspectivas de uma oferta adequada, confiável e a preços
sensatos de gás natural." É óbvio que a
Dow e outros grandes usuários de gás natural contam com o apoio de poderosos
grupos ambientalistas americanos que são contrários às atividades de prospecção
e extração de gás de xisto, e que sabem que as restrições às exportações servirão à
sua causa.
Adicionalmente,
os grandes usuários de gás natural e os grandes grupos ambientalistas contam
com poderosos aliados estrangeiros, algo que perceptível na declaração feita
pelo príncipe saudita Alwaleed bin Talal, que disse ao ministro das energias da
Arábia Saudita, Ali al-Naimi, que a crescente produção de gás de xisto americano
representa "uma
inevitável ameaça" para aquele país.
A ministra das energias da Nigéria, Diezani Alison-Madueke, concorda e
complementa dizendo que o xisto petrolífero dos EUA representa uma "grave
preocupação". À luz destas
"preocupações" estrangeiras em relação à produção energética americana, é de
imaginar se estes países forneceram contribuições financeiras para políticos,
ambientalistas e outros grupos americanos que atualmente estão combatendo
ferozmente a prospecção e extração de petróleo e gás natural.
Certamente
seria do interesse deles fazer todo o possível para manter o Ocidente
dependente dos países da OPEP no que diz respeito a petróleo e gás.
Os
produtores americanos de gás natural certamente gostariam de exportar seu
produto para Europa e Japão para se beneficiarem dos preços mais altos ali
praticados. Um efeito dessas exportações
seria o aumento dos preços do gás natural nos EUA e uma redução dos preços do
gás natural nos países importadores.
Gigantes industriais como Dow, Alcoa, Celanese e Nucor são membros da America's
Energy Advantage, um grupo lobista que diz ser anti-patriótico permitir a
ilimitada exportação de gás natural. O
grupo argumenta que restrições às exportações ajudam a manter os preços do gás
natural baixos nos EUA e fornece às indústrias americanas uma vantagem em
termos de matéria-prima, o que permite que elas possam produzir bens a preços
menores.
Gostaria
de perguntar à Dow, à Alcoa e às outras empresas que fazem lobby contra as
exportações de gás natural se este mesmo argumento se aplica a elas. Afinal, estas empresas exportam vários de
seus produtos domésticos. Por exemplo, a
Alcoa exporta toneladas de alumínio. Uma
restrição à exportação de alumínio reduziria os preços do alumínio dentro dos
EUA, desta forma beneficiando a indústria aeronáutica e automotiva, bem como
fazendo com que todas as outras indústrias que utilizam alumínio se tornassem
mais competitivas. Duvido que a Alcoa
pense assim. Sempre será insensato
adotar uma política econômica que estimule a indústria nacional por meio de
métodos custosos e ineficientes, tais como restrições às exportações.
Porém,
há um outro efeito indesejado das restrições às exportações de gás
natural. A enorme oferta e os
consequentes baixos preços já começaram a atuar como um desestímulo para a
futura exploração e produção de energia nos EUA. De acordo com um artigo no The Wall Street Journal escrito por
Thomas Tunstall, diretor de pesquisa do Institute for Economic Development, da
Universidade do Texas, intitulado "Exporting
Natural Gas Will Stabilize U.S. Prices" [Exportar gás natural irá estabilizar os preços nos EUA], a produção
de gás natural nos três maiores campos de xisto petrolífero do Texas já
rescindiu e voltou aos níveis de 2012.
Tunstall
conclui dizendo que "No longo prazo, a dinâmica do livre mercado — o que
inclui a liberdade de exportar sem restrições ou incertezas artificiais — é a
melhor forma de gerenciar as curvas de oferta e demanda globais de gás natural". Quem entende de economia concorda.