quarta-feira, 15 jul 2015
Bolhas
sempre explodem muito mais rapidamente do que são infladas. E, após
inflarem
159% em um ano, as ações chinesas
despencaram
35% em três semanas.
Tudo
isso ocorreu enquanto a economia e as exportações chinesas continuavam em forte
desaceleração. E dois
terços dessas movimentações na bolsa foram feitas por investidores chineses que
não têm nem sequer formação escolar.
Quão insano é isso?
O
governo chinês tomou todas as medidas imagináveis
(e desesperadas) para tentar conter o declínio da bolsa: começou a comprar
ações de todos os tipos para conter o declínio; baniu da bolsa aqueles fundos
de pensão que estavam vendendo ações; ameaçou mandar para a cadeia investidores
que estavam fazendo vendas a descoberto; permitiu
que 1.350 de 2.900 grandes empresas interrompessem, por um período de tempo
indefinido, as transações com suas ações (que estavam em queda); cancelou as
transações de outras 750 empresas cujas ações haviam caído 10% ou mais.
Insano!
Essa
segunda e última bolha nas ações chinesas ocorreu precisamente porque o mercado
imobiliário parou de crescer. Ao
longo do último ano, aliás, o mercado imobiliário chinês declinou.
Ou
seja, após décadas de
especulação no mercado imobiliário, os ganhos acabaram. Consequentemente, tanto os investidores
pobres quanto os ricos foram para a bolsa de valores tentar manter suas
receitas.
O
gráfico a seguir mostra a evolução do índice da bolsa da Xangai desde 1990.
Foram duas bolhas:

Mas o mais interessante sobre os chineses é que eles não colocam a maior
fatia de seu dinheiro em ações. Apenas
7% dos investidores urbanos detêm ações.
E metade desses que detêm ações não investiram mais do que US$ 15
mil. Com efeito, estima-se que os
chineses colocam apenas 15% de seus ativos na bolsa — e tal estimativa talvez
ainda esteja exagerada.
O que é realmente atípico nos chineses é que eles poupam
mais da metade de sua renda. Mais ainda:
os 10% mais ricos da população poupam acima de dois terços da sua renda.
E para onde vai toda essa poupança? É investida no mercado imobiliário.
A porcentagem de famílias chinesas proprietárias de imóveis chega
a 90%. Para efeitos comparativos,
nos EUA, essa taxa é de apenas 64%,
mesmo com os americanos sendo muito mais ricos que os chineses e,
consequentemente, com uma melhor capacidade de receber crédito.
E é assim porque, na China, ser dono do próprio imóvel é uma característica
inerente à cultura deles. Um homem
chinês não
terá nenhuma chance de arrumar uma namorada ou mesmo de usufruir um rápido
encontro sexual caso ele não seja o proprietário de um imóvel — não importa o
quão pequeno seja o imóvel.
O gráfico abaixo mostra a porcentagem que os imóveis representam da riqueza total
da população americana e da população chinesa.

Ou seja, 74,7% das riquezas das famílias chinesas estão na forma de
imóveis. Nos EUA, essa cifra é de
27,9%. Isso ajuda a explicar por que a
bolha imobiliária chinesa é uma das maiores da história moderna.
Mas a questão principal é essa: quando essa bolha estourar e os valores dos
imóveis despencarem, isso irá causar uma inimaginável implosão na riqueza dos
chineses. De uma só vez, 75% (três
quartos) dos ativos das famílias chinesas serão destroçados.
Quão grande é essa bolha? Só
em Xangai, os preços dos imóveis mais do que sextuplicaram desde 2000, aumentando
6,6 vezes. Isso representa um aumento de
560%.
Só que, atualmente,
27% dos imóveis chineses em áreas urbanas estão desabitados.
Houve maciços e esbanjadores projetos de construção na China, os quais
envolveram a construção de basicamente qualquer coisa que você seja capaz de
imaginar. Como explicado neste artigo:
Durante um período de apenas dois
anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada "agressiva
política de estímulos" do governo chinês em resposta à recessão do mundo
desenvolvido, a
China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!
Esse fato insano tem de ser
corretamente digerido. Eis uma maneira de colocar as coisas em suas
devidas proporções.
Pense em todo o processo de
urbanização ocorrido nos EUA ao longo dos últimos 100 anos. Pense na
construção de todos os edifícios comerciais, de todos os prédios residenciais,
de todas as casas, de todos os arranha-céus, e de todos os shoppings que
adornam as milhares de cidades americanas da costa leste à oeste. Pense
também na construção de toda a infraestrutura do país, desde as simples ruas e
avenidas das cidades até as grandiosas represas Hoover, TVA e Grande Coulee,
passando por toda a malha de rodovias, aeroportos, portos, rodoviárias,
estações de trem, de metrô. Pense em todos os estádios de futebol
americano, de beisebol, de basquete, de hóquei; em todos os auditórios e
estacionamentos que já foram construídos no país.
Todo o volume de cimento gasto nesse
processo de 100 anos foi o mesmo que a China gastou em dois anos.
Essa bolha inevitavelmente irá estourar.
E, não importa quão intensos sejam os esforços do governo para evitar
essa correção, o pouso será brusco.
Enquanto os Bancos Centrais mundiais inflaram suas respectivas bolhas de
1995 a 2007, o governo chinês começou a inflar a sua bem antes e ainda não
interrompeu o processo. A minha
estimativa é que a infraestrutura, os imóveis e a capacidade industrial da China estão de 12 a 15 anos a frente da demanda. E isso se o atual processo de urbanização se
mantiver às atuais e impressionantes taxas.
Com a economia mundial se desacelerando, o atual processo de urbanização
chinês terá de ser afetado. E aí esse
descasamento entre oferta e demanda ficará ainda mais acentuado, o que
inevitavelmente provocará uma pressão baixista nos preços.
Os chineses fizeram essa maciça reestruturação da sua economia com o intuito
de criar empregos para meio bilhão de
pessoas que saíram das planícies rurais do interior do país e foram para os
grandes centros urbanos em busca de uma melhor qualidade de vida. Esse maciço êxodo rural já dura três décadas. Foi tão intenso que, apenas nos últimos 12
anos, 220
milhões de chineses migraram, mas ainda não se tornaram cidadãos legais nas
cidades em que vivem. (Veja mais sobre isso aqui).
Agora, essa ambição chinesa está cobrando seu preço. Caso a correção da bolsa de valores prossiga,
a economia e o setor imobiliário serão os próximos. E, como dito, isso irá destruir uma maciça
quantidade de riqueza, e o processo levará anos para ser superado.
E irá para muito além da China. As
ondas de choque propagar-se-ão pelo setor imobiliário de vários países. Afinal, quem são atualmente os principais compradores
de imóveis em cidades como Sydney, Cingapura, Los Angeles, San Francisco, Nova
York, Vancouver e Londres? Exatamente,
os chineses. Apenas em 2014, eles
representaram 24% do total de imóveis comprados nos EUA, em um valor que chegou
a US$ 22 bilhões.
Igualmente, países exportadores de commodities para a China, os quais vinham
saciando o aparentemente insaciável apetite chinês por minério de ferro para
suas aparentemente infindáveis construções, sofrerão com a inevitável queda da
demanda que ocorrerá.
Não é necessário ser nenhum Einstein para entender o que acontece quando
compradores estrangeiros com toda essa potência repentinamente pisam no freio
com força.
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Leia também:
Por que a China vai
implodir
A bolha imobiliária chinesa
e o espectro de uma grande recessão