É
possível as coisas piorarem ainda mais no Brasil? Na semana passada, o governo brasileiro
reduziu,
de maneira oficial, as projeções para o crescimento da economia do país em
2015: segundo o próprio governo, haverá uma contração de 1,49%. Enquanto isso, o mercado
projeta
um encolhimento maior, de 1,80%.
Ao
mesmo tempo, a previsão para a inflação de preços se mantém persistentemente
alta, em quase 10%.
Já
o desemprego, sem dúvida subestimado, está
em 8,1%, com tendência de alta.
Dilma
Rousseff, a presidente do país, que em seu primeiro mandato se revelou adepta
da gastança incontida, ensaia uma guinada e agora pretende segurar os
gastos para que o governo não perca o
selo de bom pagador concedido pela agência de classificação de risco
Standard & Poor's.
Mas,
até agora, isso de quase nada adiantou.
Ela está em rota de colisão com o Congresso, que quer aumentar
salários do judiciário, aumentar
as aposentadorias e gastar ainda mais.
Simultaneamente, sindicatos continuamente ameaçam fazer
greves.
De
nada ajudou o fato de a Standard & Poor's ter, na terça-feira da semana
passada, rebaixado
a classificação de risco do país para apenas um degrau acima da condição de
"especulativo", em uma clara advertência de que a agência está se preparando
para reduzir em definitivo a classificação de risco dos títulos públicos do
país, o que retiraria o selo de bom pagador do governo.
Consequentemente,
o valor do real no mercado de câmbio desabou, e está hoje no menor valor em 12 anos. Já o índice da bolsa de valores, o Ibovespa, vem
se mantendo no mesmo
nível em que estava em meados de 2009.
Como
se não bastasse, há crescentes rumores de impeachment da senhora Rousseff e há
várias investigações simultâneas sobre vários esquemas de corrupção operados
tanto pelo partido da presidente quanto por sua base aliada. O principal deles envolve um gigantesco esquema
de propinas na estatal Petrobras.
Tudo isso pode se degenerar em uma crise política prolongada e demorada.
Crescimento
negativo, desequilíbrios orçamentários, inquietação sindical, investigações de
corrupção, crise política sem fim.
Isso
gera sérias implicações para o crescimento global. O Brasil, com um PIB de aproximadamente US$
2,4 trilhões [N. do E.: aqui, o americano está considerando um câmbio de 2,30,
que foi a média do câmbio em 2014], é a maior economia da América Latina. Suas empreiteiras, todas elas envolvidas em
esquemas de corrupção junto ao governo e suas principais estatais, estão
presentes em várias dezenas de grandes projetos de infraestrutura ao longo de
todo o continente.
Tudo
isso está gerando um enorme fardo para a economia do país, algo que pode ser
claramente visto nos balanços divulgados recentemente por várias
multinacionais:
1)
A Bunge, uma gigante do
agronegócio, relatou
que seu setor de óleos e azeites foi impactado pela forte queda nas margens e
volumes da sucursal brasileira. Segundo
a empresa: "os consumidores brasileiros reduziram os gastos e passaram a
consumir produtos mais baratos em resposta à economia recessiva".
Note
que estamos falando de óleo de cozinha.
Os brasileiros estão deixando de adquirir óleo para fazer
alimentos. Isso é coisa séria.
E
o mesmo está ocorrendo com o processamento de grãos: os volumes caíram à medida
que os consumidores brasileiros (do setor alimentício) cortaram gastos. E também houve queda no consumo de
fertilizantes. O volume de vendas está menor.
2)
A Owens Illinois,
uma das maiores fabricantes de garrafas de vidro do mundo, relatou uma queda no
volume de vendas no Brasil em decorrência de uma acentuada redução
na venda de cervejas.
3)
A Goodyear relatou
que as vendas de pneus na América Latina caíram 20% em relação ao mesmo período
no ano passado em decorrência da desvalorização da moeda brasileira e também a
uma queda no volume de vendas.
4)
A fabricante de gás industrial Praxair
disse que suas receitas de vendas caíram
em relação ao ano passado em decorrência das atividades industriais mais fracas
no Brasil e na China.
5)
A Whirlpool, dona das marcas
Brastemp, Consul e KitchenAid, obtém 16% de suas receitas com o Brasil, seu
segundo maior mercado depois dos EUA. No
geral, as vendas na América Latina caíram
22% em relação ao mesmo período do ano passado, majoritariamente por causa da
debilidade da economia brasileira. Para
o segundo semestre de 2015, o conglomerado prevê que a demanda cairá
aproximadamente 15% em relação ao mesmo período do ano passado.
6)
A Caterpillar
obtém aproximadamente 5% de suas receitas com o Brasil. A empresa relatou que as vendas na América
Latina caíram
26%, majoritariamente por causa do acentuado enfraquecimento do setor da
construção civil no país.
De
óleo de cozinhar a pneus, passando por cerveja, eletrodomésticos e equipamentos
de construção: tudo caiu. E a queda foi
de dois dígitos.
E
essas são apenas empresas americanas. A
Embraer, a gigante aérea brasileira, reduziu
na semana passada seus prospectos para este ano, citando a desvalorização do
real e uma quantidade menor de contratos.
Aonde
tudo isso vai parar? Por ora, a
incerteza é a única constante. Em
específico, as investigações de corrupção podem reduzir investimentos — algo
de que o Brasil é extremamente carente — à medida que os empresários vão se
tornando paralisados de medo, preocupados com projetos que podem ser
subitamente cancelados caso os donos das empreiteiras sejam condenados por
corrupção.
A
batalha entre aqueles que defendem uma austeridade e aqueles a favor de mais
gastos públicos também está se desenrolando no país, com resultados
imprevisíveis.
É possível piorar? Sim, e já piorou. Ano que vem, o Rio de Janeiro irá sediar as
Olimpíadas. Mas, segunda uma reportagem
da Associated Press, que ganhou repercussão internacional: "Os atletas que vão
competir nos Jogos Olímpicos de 2016 terão que nadar e velejar em águas tão
contaminadas por fezes humanas, que se arriscarão a contrair alguma doença e
não poder concluir as provas".
Yuck.
Deu até para ouvir o som dos burocratas desmaiando no Rio.
Mas
o mercado não está ruim para todos. Embora muitos investidores estrangeiros
estejam evitando completamente o Brasil, a ProShares UltraShort MSCI Brazil,
especializada em fazer vendas a descoberto e lucrar com um declínio das ações
brasileiras, está vivenciando um forte aumento em seus negócios à medida que as
notícias ruins oriundas do Brasil se multiplicam.