segunda-feira, 26 out 2015
O desejo de "ser como a Suécia" está ubiquamente presente
nos debates políticos de quase todas as democracias do mundo, das mais pobres
às mais ricas. Não é incomum ver
autoproclamados "democratas socialistas" dizendo ter o objetivo de copiar o "bem-sucedido
modelo sueco de bem-estar social".
O mais interessante nisso tudo é perceber que tais
pessoas olham para um país rico como a Suécia e automaticamente concluem que o
alto padrão de vida daquele país não tem nada a ver com seu passado de laissez-faire, com uma baixa
dívida pública, com sua independência monetária, com a ausência
de um salário mínimo estipulado pelo governo, com uma robusta
proteção dos direitos de propriedade, com um Banco Central equilibrado, com
baixas
alíquotas de imposto de renda para pessoa jurídica, e até mesmo com as graduais
adoções de privatização no sistema de saúde, no sistema previdenciário, e
na educação.
Ao contrário, tais pessoas olham para a Suécia e, não
apenas ignoram estes fatos, como ainda naturalmente pressupõem que o alto padrão
de vida da população sueca é produto de sua alta carga tributária e
de suas mundialmente
desconhecidas empresas estatais.
Imagine se LeBron
James [astro da NBA] começasse a fumar.
Qualquer sucesso que ele continuasse apresentando nas quadras seria apesar desse hábito destrutivo e não por
causa dele. O êxito econômico sueco
ocorreu apesar de sua alta carga
tributária sobre pessoas físicas, e não por causa dela.
Dado que a Suécia sempre é citada por progressistas
como o paraíso na terra e o modelo a ser seguido, este artigo irá se concentrar
apenas neste país. Uma (extremamente)
breve história deste fascinante país pode nos ajudar a entender melhor o atual
alto padrão de vida da Suécia e as várias maneiras nas quais o "socialismo"
sueco impôs um desnecessário limite sobre a produtividade do país.
Suécia:
da pobreza lancinante à prosperidade inesperada por meio do capitalismo
laissez-faire
Duzentos e cinquenta anos atrás, a área que hoje é
conhecida como "Suécia" era apenas uma tundra congelada e habitada por uma
massa de camponeses esfomeados. Suas
vidas eram rigidamente controladas por uma série de reis, aristocratas e outros
homens artificialmente respeitados. Como
explicou o premiado escritor sueco Johan Norberg, neste excelente
tratado sobre a história da Suécia, foi necessário o surgimento de uma série
de indivíduos empreendedores e de mentalidade liberal-clássica para arrancar o
controle das elites e colocar a Suécia no caminho da prosperidade.
Poderosos que ditavam quem poderia e quem não poderia
receber licenças profissionais, um opressivo sistema de guildas corporativas
que proibia a liberdade de associação e o livre empreendedorismo, e uma litania
de onerosas regulações sobre as liberdades comerciais e de empreendimento —
tudo isso foi ou dramaticamente reduzido ou simplesmente abolido.
No século entre 1850 e 1950, a população dobrou e a
renda real dos suecos decuplicou. Não obstante
a quase não-existência de um estado assistencialista ou de qualquer grande
controle estatal sobre os setores da economia, em
1950 a Suécia já era a quarta nação mais rica do mundo. O extraordinário crescimento da Suécia
durante aquele século rivalizou até mesmo com o dos EUA — e o fato de a Suécia
não ter participado de nenhuma das duas grandes guerras, o que deixou sua
infraestrutura intacta e não destruiu sua economia, sem dúvida ajudou bastante.
Com efeito, a formação de capital e a criação de
riqueza se mostraram tão abundantes na Suécia durante a depressão global de
1930, que até mesmo os social-democratas do governo da época praticaram uma
forma de "negligência salutar" para garantir que a prosperidade
continuaria.
Como em qualquer outro país, o impressionante
estoque de capital da Suécia foi construído por empreendedores operando em um
sistema de livre mercado.
(Tudo isso foi relatado em detalhes neste
livro bem como neste excelente
tratado).
O
experimento sueco com o "socialismo nórdico" é relativamente recente e tem se
mostrado desastroso para o crescimento econômico
Nas décadas seguintes a este impressionante
crescimento econômico, aconteceu aquilo que parece inevitável: grandes empresários
em busca de proteção do governo contra a concorrência se aliaram a políticos ambiciosos
e a líderes sindicais para forçar o governo a adotar políticas socialistas. As décadas de 1970 e 1980 viram um estado
assistencialista crescendo descontroladamente, ampliando enormemente suas áreas
de intervenção.
Vários novos benefícios governamentais foram
criados; leis trabalhistas extremamente rígidas foram introduzidas; setores
estagnados da economia passaram a receber amplos subsídios do governo; as
alíquotas de impostos sofreram aumentos drásticos, sendo que algumas alíquotas
marginais chegaram a ultrapassar os 100%.
Com o tempo, os gastos do governo mais do que
duplicaram, e os impostos sobre determinados setores da economia foram dobrados
e até mesmo triplicados.
Ainda em 1970, a OCDE classificava a Suécia como
o quarto país mais rico do mundo. No entanto, no ano 2000, a Suécia já havia
despencado para a 14ª posição. Em um
artigo (infelizmente disponível apenas em sueco)
publicado em 2009 no periódico Ekonomisk
Debatt, da Associação de Economia Sueca, os economistas Bjuggren e
Johansson, do Ratio Institute,
mostraram a triste verdade. Baseando-se em dados públicos divulgados pela
agência governamental Estatísticas
Suecas ("SCB" em sueco, um acrônimo para Bureau Central de
Estatísticas) e utilizando um novo sistema de classificação para designar o
tipo de propriedade das empresas, eles descobriram que não houve absolutamente
nenhum emprego criado no setor privado de 1950 a 2005.
Sim, você leu corretamente: não houve nenhum aumento
líquido no número de empregos no setor privado na Suécia durante um período de
55 anos. Em outras palavras, em um período que começou cinco anos após o
fim da Segunda Guerra Mundial, a economia sueca ficou completamente estagnada.
O socialismo nórdico congelou no tempo um povo que
outrora era empreendedor
e próspero. Com algumas poucas exceções,
as grandes empresas suecas têm muito poucos incentivos para inovar (e elas não inovaram),
e várias empresas sobrevivem hoje exclusivamente graças a contratos de
fornecimento para o governo, contratos esses cujos valores são impossíveis de
serem corretamente determinados sem um sistema de livre mercado capaz de
estabelecer preços para bens e serviços.
A Suécia conseguiu viver confortavelmente por décadas
apesar de suas políticas "socialistas" somente porque um grande estoque de
capital e riqueza já havia sido criado nas décadas anteriores por seus
laboriosos empreendedores. Primeiro a Suécia
enriqueceu e acumulou muito capital (e tal tarefa foi auxiliada por uma
continuamente austera política monetária, que fez com que a Suécia jamais
conhecesse um período prolongado de alta inflação de preços). Depois, só depois de ter enriquecido, é que o
país começou a implantar seu sistema de bem-estar social no final da década de
1960.
No entanto, o consumo deste capital acumulado está
erodindo a riqueza da Suécia.
[N. do E.: para que uma economia que faz uso maciço de
políticas assistencialistas continue crescendo, sua produtividade tem de ser
muito alta. E para a produtividade ser
alta, seu capital acumulado já tem de ser muito alto. Apenas um alto grau de capital acumulado pode
permitir uma alta produtividade. Ou seja, o país tem de já ser muito rico.
Apenas um país que já enriqueceu e já acumulou o
capital necessário (e já alcançou a produtividade suficiente) pode se dar ao
luxo de adotar abrangentes políticas assistencialistas por um longo período de
tempo. Assistencialismo é algo que só
pode funcionar — e, ainda assim, por tempo determinado — em sociedades que já
enriqueceram e já alcançaram altos níveis de produtividade. Não dá para redistribuir aquilo que não foi
criado. Adotar um modelo sueco em um
país sudanês não daria muito certo...]
Em 2007, o professor Mark J. Perry, da George Mason
University demonstrou que, se a Suécia se tornasse o 51º estado americano, ela
seria o
estado mais pobre em termos de desemprego e renda familiar média. Sim, seria mais pobre até mesmo do que o Mississipi. Com efeito, o atual estado assistencialista
da Suécia suprime a renda das famílias de modo tão efetivo, que um
estudo de 2012 descobriu que os americanos que moram na Suécia vivenciam
praticamente a mesma taxa de desemprego dos suecos, mas ganham, em média, 53%
mais em termos anuais.
Nos anos recentes, o país começou, ainda que de
maneira lenta, a privatizar fatias de seus setores socializados, como saúde,
previdência e educação. Ano passado, a
revista Reason mostrou
que o uso de planos de saúde privados estão explodindo em um país em que
pacientes de câncer podem
ter de esperar mais de um ano para receber tratamento no sistema de saúde estatal. E essa tendência só faz crescer. A Suécia, adicionalmente, começou a
terceirizar a educação para fornecedores privados e, com isso, vivenciou não apenas
uma redução dos custos mas também um aumento na satisfação dos pais e no aprendizado
dos alunos.
Social-democratas
aprenderam as lições erradas do modelo nórdico
Políticos que prometem copiar o modelo sueco são tão
entusiasmados com o regime, que praticamente não prometem apenas iates para os
mendigos. O grande problema dessa gente
é que eles realmente não entendem de economia.
Como Ludwig von Mises já havia demonstrado, o socialismo não é uma
teoria econômica; o socialismo é uma teoria sobre redistribuição.
Somente um sistema de livre mercado e de livres transações
comerciais pode coordenar empreendedores e seus recursos de maneira a criar
bens e serviços que de fato satisfaçam os desejos e as necessidades dos
consumidores. Socialistas não participam
desse processo de criação de riqueza; eles simplesmente aparecem quando tudo já
foi efetuado e exigem os créditos pela proeza.
A Suécia vem praticando essa forma de socialismo parasítico sobre sua
riqueza acumulada e, com isso, vem significativamente afetando a produtividade
de seus cidadãos.
As políticas do "socialismo nórdico" vêm
restringindo o crescimento sueco por décadas.
A ideia de que é possível implantar um socialismo nórdico em qualquer
país sem destruir a mobilidade da mão-de-obra, sem tributar o capital até sua aniquilação,
e sem paralisar completamente a inovação é uma ilusão total.
A Suécia está lentamente retornando às suas
produtivas raízes capitalistas. Seus pretensos
imitadores deveriam querer imitar isso também.
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Leia
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Suécia
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corrompeu a Suécia
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