quinta-feira, 12 nov 2015
Existem pessoas que sabem muito
sobre economia. Mas saber
muito
sobre economia não é o mesmo
que
entender de economia; não é o
mesmo que pensar como um economista.
Alguém que sabe muito sobre economia aprendeu muitos jargões econômicos (por exemplo,
"custo marginal") e todas as definições dos livros-textos (por exemplo, "Custo
marginal é o acréscimo ao custo total de produção gerado pela produção de uma
unidade adicional de um determinado bem").
Tal pessoa também memorizou as normalmente
intrincadas regras sobre como desenhar e deslocar várias "curvas", como as
curvas de oferta e demanda, as curvas de custo, e as curvas IS-LM. E, no mundo atual, tal pessoa normalmente
também é habilidosa em manusear e processar dados quantitativos por meio
daqueles programas de processamento de dados chamados de "técnicas
econométricas".
Saber como pensar produtivamente como um economista
é algo que pode ser, em muito, auxiliado pelo domínio de tais técnicas modernas;
no entanto, pensar como um economista envolve muito mais do que isso. Com efeito, dominar estas técnicas não é tão
essencial para ser um economista genuinamente bom como supõe o típico
economista de hoje.
Frequentemente, o domínio de técnicas superficiais,
como a supracitada, serve apenas para convencer aqueles que as dominam de que
entendem de economia. O lamentável
resultado disso é que tais pessoas se acomodam e não se dão ao trabalho de
realmente aprender a habilidade de fazer
análises econômicas adequadamente.
Imagine alguém que tenha memorizado cada página de
um livro de receitas culinárias mundialmente aclamado. Tal pessoa aprende todo o jargão culinário;
todas as fórmulas para todos os molhos, guarnições, condimentos e sopas; todas
as combinações apropriadas de temperos; todas as temperaturas de forno
recomendadas para cada prato específico.
Tal pessoa de fato domina todas as receitas e todas as informações
escritas no livro.
Mas o que essa pessoa realmente "aprende" com o
livro é que preparar refeições é um feito de 'nerds': siga mecânica e fielmente
as receitas dos 'melhores' livros de culinária e você será um excelente cozinheiro. Voilà! Preparar refeições gourmet é fácil; basta
você seguir as receitas!
Obviamente, o que esse memorizador do livro de
receitas culinárias jamais aprenderá é que ser um excelente cozinheiro requer,
acima de tudo, capacidade de discernimento, bom senso e criatividade para saber
quando se manter fiel a uma receita e quando tal receita é inadequada para os
convidados específicos de um determinado jantar.
O que esse memorizador jamais aprenderá é como criar
refeições deliciosas para as quais não há receitas já prontas. Em suma, esse memorizador, na melhor das
hipóteses, domina apenas aquilo que um chef experiente pode escrever em um
papel; este memorizador — uma atividade extremamente maçante — jamais
dominará a criativa arte da culinária.
Vários economistas são como este maçante memorizador
de receitas culinárias. Eles descarregam
seus jargões livremente sobre toda a humanidade; eles sabem, e podem recitar
impecavelmente, todas as últimas receitas (isto é, modelos). Eles são capazes de citar os criadores dessas
receitas (isto é, todos os teóricos econômicos que são a moda do momento). Eles sabem muito sobre economia.
Mas quando estes de fato tentam demonstrar algum conhecimento de economia, rapidamente se
torna claro que eles não sabem o que fazem.
Eles não são realmente economistas.
Eles consistentemente se esquecem de perguntar a mais importante dentre
todas as questões que um economista de verdade tem de fazer: "Em relação a quê?"
Eles se esquecem, por exemplo, de que custos e benefícios
monetários são apenas um subconjunto (e, muitas vezes, um pequeno subconjunto)
de todos os custos e benefícios; eles erroneamente partem do princípio de que
os custos e benefícios monetários representam todos os relevantes custos e benefícios.
Eles, na esmagadora maioria das vezes, levam ao pé
da letra as receitas que memorizaram: qualquer variação observada no mundo real
que seja incoerente com as receitas do livro de culinária (isto é, dos
livros-texto) representa, para tais economistas, a evidência suprema de que o
mundo real está deturpado.
O fato de que a realidade é muito mais rica em
detalhes; o fato de que a concorrência opera em muito mais margens
e sob as mais diversas maneiras do que aquelas incluídas nos modelos
formais desses economistas; o fato de que as pessoas, na condição de
consumidores e de produtores, são indescritivelmente mais criativas, espertas, intrépidas
e diversificadas do que os 'agentes' que povoam os modelos econômicos; o
fato de que maximizar coletivamente a renda monetária de algum grupo de pessoas
arbitrariamente definido (por exemplo, "trabalhadores pouco qualificados" ou "pessoas
de olhos azuis cujo sobrenome começa com a letra Z") é algo que não apenas é
sem sentido como também é normativamente dúbio — tais fatos são invisíveis para
a grande maioria dos economistas modernos.
Essa cegueira às mais importantes características da
realidade econômica é intensificada pela incapacidade do atual ensino de
economia em treinar jovens economistas a perguntarem, a sempre perguntarem, por quê.
- Você disse que o poder monopsônico —
poucas empresas para contratar muitos trabalhadores, o que dá às empresas poder
de determinar salários baixos — domina a realidade. Por que então empreendedores em busca do
lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros
possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que o crescimento econômico exaure os recursos naturais
de modo insustentável. Por que empreendedores em busca do lucro não estão entrando
nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo
que você diz ser dominante?
Tais perguntas podem ser infinitamente expandidas. Assim como saber muito sobre culinária não significa saber cozinhar bem, saber muito sobre economia não significa saber como
pensar criativa e claramente como um economista.