O
século XX testemunhou o surgimento, a expansão e o fim do mais trágico
experimento da história humana: o socialismo.
O experimento resultou em significativas
perdas humanas,
destruição de economias
potencialmente ricas,
e colossais desastres ecológicos.
O experimento terminou, mas a devastação irá afetar as vidas e a saúde
das futuras gerações.
A
real tragédia deste experimento é que Ludwig von Mises e seus seguidores — que
estão entre as melhores mentes econômicas deste século — já haviam
explicitado a verdade sobre o socialismo ainda em 1920, mas seus alertas foram ignorados.
— Yuri Maltsev (1990).
O socialismo está morto tanto como ideologia quanto
como movimento político. Trata-se de um
exemplo de um deus que fracassou.
O socialismo é uma forma muito específica de opinião
econômica. Um socialista acredita que o
governo deve ser o proprietário dos meios de produção. É isso que o socialismo
sempre significou: controle estatal dos meios de
produção.
Quando Ludwig von Mises refutou o
socialismo em 1920, ele tinha em mente exatamente esse
enfoque econômico.
Eis o seu argumento comprovando que o socialismo é uma
impossibilidade prática: se o governo detém todos os bens de capital (máquinas,
ferramentas, instalações etc.) de uma economia, então não há um mercado para
esses bens. Não havendo mercado para
esses bens, não há uma correta formação de preços para eles. Sem preços, os planejadores não têm como
estabelecer o valor dessas ferramentas. Consequentemente,
não há como uma agência de planejamento central determinar quais são os custos
de produção dos bens de consumo mais demandados. Com efeito, não há sequer como determinar
quais os bens de consumo mais demandados. É necessário haver um livre mercado para que haja uma precificação dos
bens de consumo e dos bens de capital.
Em uma economia socialista, não há nenhum dos dois. Portanto, disse Mises, um
planejamento econômico socialista é inerentemente irracional.
Esse argumento de Mises foi ignorado pela vasta
maioria dos socialistas, e nunca foi levado a sério pelos keynesianos.
No entanto, quando a economia da União Soviética
entrou em colapso no final da década de 1980, ficou claro pelo menos para Robert
Heilbroner, professor de economia multimilionário e de
esquerda, que Mises estava certo. Ele
próprio admitiu isso em um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após
o Comunismo" (10 de setembro de 1990). Ele
literalmente disse a frase: "Mises
estava certo".
Ato contínuo, Heilbroner disse que os socialistas
teriam de mudar de tática, parando de acusar o capitalismo de ineficiência e
desperdício, e passar a acusá-lo de destruição ambiental. Consequentemente, deveriam ser criadas inúmeras
burocracias, regulamentações e leis com a explícita intenção de subverter
totalmente as características do capitalismo a ponto de fazer com que, segundo
os próprios socialistas, o novo arranjo social gerado não possa de modo algum
ser considerado capitalismo.
Adicionalmente, Heilbroner disse que o socialismo
era simplesmente uma ideologia morta.
No momento, não há virtualmente ninguém fora da
América Latina, da Coréia da Norte e do Zimbábue que abertamente argumente em
favor do socialismo clássico. Coréia do
Norte e Cuba oficialmente são economias comunistas. Como consequência, são assolados pela
miséria. Suas economias não têm
influência nenhuma no mundo. Ninguém
mentalmente são utiliza esses países como modelo econômico. O Zimbábue é gerido por uma tribo marxista, e
também ninguém quer imitá-lo.
Theodore
Dalrymple fez o seguinte, e preciso, comentário
sobre o marxismo africano:
Embora
os marxistas costumassem alegar que as deficiências da União Soviética nada
tinham a ver com o marxismo, o fato é que a humilhante dissolução de um regime
que sempre afirmou ser marxista representou um profundo e fatal golpe para a
ideologia.
Conheci
vários marxistas no norte da Nigéria.
Eles eram jovens e confusos, mas acreditavam em uma explicação vagamente
marxista para seu descontentamento. Eles
não eram militantes, exceto mentalmente.
Se houvesse uma manifestação, eles talvez se juntassem a ela, mas não
matariam ninguém pela ideologia. Eles se
contentavam meramente em proferir palavras.
Com o colapso da União Soviética, surgiu um vácuo
ideológico para aquelas pessoas que buscavam uma explicação total para seu
descontentamento — pessoas que, graças à difusão cultural, eram provavelmente
mais numerosas e estavam mais desesperadas do que nunca. A única alternativa disponível, e uma muito
mais profunda do que o marxismo, era o islamismo fundamentalista. O islã prospera naqueles locais onde o
marxismo não mais possui grande influência.
O
principal inimigo é outro
Com o colapso do socialismo clássico ocorreu o
fortalecimento dos social-democratas.
Estes aceitam a existência de uma economia de
mercado e também aceitam a propriedade privada sobre a maior parte dos meios de
produção. Aceitam também que o mercado
precifique grande parte dos bens de consumo de uma economia.
Mas, assim como os socialistas, eles defendem políticas
redistributivistas. Assim com os
socialistas, eles defendem o confisco de uma fatia da renda dos indivíduos produtivos
da sociedade e sua subsequente distribuição para os não-produtivos. Assim como os socialistas, eles acreditam que
os burocratas do governo devem intervir no mercado e redistribuir riqueza. Eles não se importam se isso irá reduzir o
crescimento econômico. Eles são motivados pela inveja. Eles estão dispostos a ver uma economia
produzindo menos desde que isso satisfaça sua demanda por algo que seja semelhante
a uma igualdade econômica.
Mas há diferenças.
Ao passo que, para os socialistas clássicos, o
objetivo era a estatização dos meios de produção, a erradicação da classe
capitalista, e a tomada de poder pelo proletariado, os social-democratas
entenderam ser muito melhor um arranjo em que o estado mantém os capitalistas e
uma truncada economia de mercado sob total controle, regulando, tributando,
restringindo e submetendo todos os empreendedores às ordens do estado.
O objetivo social-democrata não é necessariamente a
"guerra de classes", mas sim um tipo de "harmonia de
classes", na qual os capitalistas e o mercado são forçados a trabalhar
arduamente para o bem da "sociedade" e do parasítico aparato
estatal. Os social-democratas, muito mais espertos que os socialistas,
entenderam que têm muito mais a ganhar caso permitam que os capitalistas continuem
produzindo e gerando riquezas, ficando os social-democratas com a tarefa de
confiscar uma fatia dessa riqueza e redistribuí-la para suas bases.
Politicamente, os socialistas clássicos queriam uma
ditadura do partido único, com todos os dissidentes sendo enviados para os
gulags. Já os social-democratas preferem uma ditadura "branda" —
aquilo que Herbert Marcuse, em outro contexto, rotulou de "tolerância
repressiva" —, com um sistema bipartidário em que ambos os partidos
concordam em relação a todas as questões fundamentais, discordando apenas
polidamente acerca de detalhes triviais — "a carga tributária deve ser de
37% ou de 36,2%?".
E há características de atuação ainda mais nefastas.
Ao mesmo tempo em que os social-democratas mantêm os
pequenos empresários sob restritos controles e regulamentações, eles fornecem
trânsito livre para os grandes empresários, os quais, em troca de propinas
e doações de campanha, usufruem a liberdade de fazer conluio com políticos e
burocratas e, com isso, auferirem grandes privilégios e favores. Políticos concedem a seus empresários
favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente
inalcançáveis em um livre mercado. Os privilégios mais comuns são
contratos privilegiados com o governo, restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos
subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras
criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de
concorrentes estrangeiros.
(E estamos aqui desconsiderando os privilégios
ilegais, como as fraudes em licitações e o superfaturamento em prol de
empreiteiras, cujas obras são pagas com dinheiro público).
Em troca desses privilégios (legais e ilegais), os
grandes empresários beneficiados lotam os cofres de políticos e burocratas com
amplas doações de campanha e propinas.
Ou seja, neste arranjo social-democrata, quem
realmente arca com a fatura são os pequenos empresários e os assalariados que
trabalham nessas pequenas empresas.
Economicamente, os social-democratas são keynesianos. Mas é um grande erro dizer que o
keynesianismo é socialista. O keynesianismo
claramente não é socialista. O keynesianismo
defende as características básicas do capitalismo. Sempre defendeu. O próprio Keynes poderia ser considerado um
defensor do capitalismo. Ele acreditava
que, para aditivar a economia, o estado deveria intervir no mercado aumentando
seus gastos. Para isso, ele defendia que
o estado ou criasse dinheiro do nada ou pegasse dinheiro emprestado dos
capitalistas. Keynes queria que o estado
saísse comprando bens e serviços para estimular a economia. Ele queria ver uma expansão do capitalismo,
mas ele acreditava que os déficits orçamentários do governo e a inflação monetária
do banco central seria a melhor maneira de restabelecer a produtividade econômica
do capitalismo durante uma recessão.
Na prática, o keynesianismo é uma política que
beneficia grandes empresários. Sempre
que o governo aumenta os gastos públicos e incorre em déficits orçamentários, ele
aumenta os lucros de alguns empresários privilegiados (ou ineficientes) à custa
dos pagadores de impostos.
Como explicado aqui, se o governo disser que irá gastar mais
com assistencialismo, os bancos irão financiar o déficit e os pagadores de
impostos ficarão com os juros. Se o governo disser que irá gastar mais
com saúde, além dos bancos, as empresas do ramo médico — desde as grandes
fornecedoras de equipamentos caros aos mais simples vendedores de luvas de
borracha — também irão lucrar mais. Se o governo disser que irá gastar mais com obras e investimentos públicos, além dos bancos, todas as empreiteiras selecionadas serão beneficiadas.
Quando o governo decide "estimular" a
economia por meio de mais gastos, ele pode fazer duas coisas: ou ele pode contratar
uma empresa privada para fazer alguma obra de infraestrutura, ou ele pode executar
seus dispêndios por meio de alguma estatal, o que inevitavelmente também gerará
toda uma série de lucros privados, não apenas em prol de seus empregados, mas
também e principalmente em prol de empreiteiras, fornecedores, clientes etc.
Reconheça o inimigo
Social-democratas são keynesianos e são defensores
do estado assistencialista e do capitalismo de estado. Eles defendem regulação da economia, impostos
sobre todo o setor produtivo e privilégios para grandes empresas. Isso custa caro em termos de impostos e regulamentações
para os pequenos empresários.
Eles querem dirigir o sistema capitalista da mesma
maneira que os fascistas
da década de 1930.
Eles defendem que os meios de produção sejam
propriedade privada, mas querem especificar aos proprietários o que eles podem
e o que eles não podem fazer com seu capital.
Eles querem dirigir a produtividade do capitalismo.
Em troca disso, concedem favores e privilégios aos
grandes empresários.
Eles, a princípio, não defendem estatização dos
meios de produção (isso é um fetiche marxista).
Eles apenas querem ter o porrete para dirigir o sistema produtivo, mas não
querem a responsabilidade por ter feito isso.
Eles estão satisfeitos em ter um sistema corporativo
produtivo o suficiente para beneficiar o governo com grandes receitas. Eles gostam dessa galinha dos ovos de
ouro. Parasitas não querem matar seus
hospedeiros.
Já o socialismo é, por definição, uma filosofia econômica
na qual o hospedeiro é morto. A esquerda
atual é majoritariamente composta por parasitas, idealistas e bon vivants, e não por comunistas linha
dura. A esquerda atual quer manter os
ovos de ouro fluindo para seus cofres.
O keynesianismo, a social-democracia e o conluio
entre políticos keynesianos e grandes empresários são os inimigos atuais.
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