segunda-feira, 1 ago 2016
Ela foi de branco.
Ele foi de azul. Ela fala sobre
comunidade. Ele fala sobre si
próprio. Ela é fria e, em alguns
momentos, aprazível. Ele é malvadão e,
algumas vezes, muito engraçado. Ele diz
coisas "másculas". Ela fala sobre
direitos das mulheres.
E raras vezes na política americana dois candidatos
se odiaram com tanta intensidade. Ele
diz que ela é uma criminosa. Ela diz que
ele é um psicopata. Com isso, os
vindouros debates entre os dois serão uma mina de ouro global para as
transmissoras, podendo se igualar às Olimpíadas.
Sem dúvidas, haverá grandes doses de
entretenimento. Mas dificilmente haverá
algum esclarecimento. No final, já
sabemos a conclusão. A maior virtude
dela é que ela não é ele. E a melhor
qualidade dele é que ele não é ela.
Fora isso, no que diz respeito às políticas de
ambos, ou mesmo ao que ambos defendem, a diferença entre os dois é quase
imperceptível. Ambos vêem o estado como
a solução para todos os problemas da terra e ambos vêem a presidência como a
chave para conceder ainda mais poderes ao estado. O fabianismo é apenas um
gradiente das cores do fascismo. E o
oposto também é verdade.
Nem mesmo em assuntos específicos eles discordam
entre si. Ambos juraram preservar e
fortalecer o estado doméstico. Quanto à
política externa, ambos juraram fazer com que os EUA voltem a dominar o mundo:
ele, por meio do nacionalismo; ela, trabalhando em conjunto com aliados
europeus.
Houve uma época em que os Republicanos ao menos
fingiam defender alguma forma de liberalismo de mercado, por mais fraca que
fosse essa defesa. Eles ao menos
celebravam a livre iniciativa, falavam de liberdade e defendiam o livre
comércio em geral.
Hoje, no entanto, o novo líder do Partido
Republicano mudou isso. Tão logo
assegurou sua nomeação, Trump já concedeu várias entrevistas dizendo que pode
aumentar impostos, aumentar o salário mínimo e imprimir dinheiro o suficiente
para pagar os encargos da dívida pública em dólares baratos.
"Sob meu plano, os impostos irão diminuir. Porém, antes de isso ser negociado, eles irão
subir", disse
Trump. "Em minha opinião, os impostos
para os ricos subirão um pouco". (Após
uma enxurrada de protestos, ele alegou que estava dizendo que os impostos
subiriam após os cortes que ele
faria).
Quanto ao salário mínimo, ele age exatamente como
Obama, totalmente desinteressado nas forças de mercado, como se os salários que
as pessoas ganham pudessem ser determinados de maneira puramente arbitrária por
políticos. Disse
ele: "Eu acho que as pessoas devem ganhar mais... Não sei como você
consegue viver com US$ 7,25 a hora".
Agindo assim, Trump se mostra totalmente ignorante
em relação a como um valor mínimo estipulado pelo governo afeta exatamente os
trabalhadores menos qualificados e menos produtivos, mantendo-os fora do
mercado de trabalho.
Quanto à dívida nacional, ele diz que ela não pode
ser paga e não pode ser caloteada. Logo,
só
há uma solução: "imprimir dinheiro".
E o que dizer quanto ao protecionismo? Trump prometeu uma tarifa
de importação de 45% sobre todos os produtos chineses, e ameaçou retaliar
economicamente a Ford caso
esta abra mais fábricas no México.
Quanta mudança.
Essa torrente de idéias políticas impressionou até mesmo o site
esquerdista Vox, que publicou um artigo
sobre "as ideias econômicas de esquerda que Trump está adotando".
Sim,
já ouvimos isso antes
Enquanto isso, Hillary empurrou o Partido Democrata
para a mesma plataforma dos Republicanos sob George W. Bush. Os Democratas nem mais sequer fingem ser
contra guerras, contra um estado intrusivo na vida privada dos indivíduos, e
contra desperdícios.
Houve vários momentos estranhos na convenção
Democrata que indicou Hillary Clinton para concorrer à presidência pelo
Partido, mas houve um que se destacou. Ela
disse: "Se você acha que deveríamos dizer 'não' para acordos comerciais
injustos... que deveríamos confrontar a China... que deveríamos proteger nossos
trabalhadores das montadoras, das siderúrgicas e das demais empresas
americanas... junte-se a nós."
E ela prosseguiu dizendo: "E vocês não ouviram nada
disso na convenção de Donald Trump."
Só que, na verdade, ouvimos exatamente os mesmos
pontos de Trump, que disse
na convenção Republicana: "Nossos horríveis acordos comerciais com a China e
com vários outros países serão totalmente renegociados. Isso inclui renegociar o NAFTA e conseguir um
acordo muito melhor para a América — e simplesmente sairemos da reunião se não
conseguirmos o acordo que queremos."
Mas há mais.
Ela disse: "Se investirmos em infraestrutura agora,
não apenas iremos criar empregos hoje, como tambem estabeleceremos os
fundamentos para os empregos do futuro".
Ele disse: "Vamos construir as ruas, as
autoestradas, as pontes, os túneis, os aeroportos, e as ferrovias do amanhã. Isso, por sua vez, irá criar milhões de empregos".
Ela disse: "Se você acredita que o salário mínimo
deve ser o suficiente para sustentar uma família e que ninguém trabalhando em
horário integral deve criar seus filhos na pobreza — junte-se a nós".
Exatamente no mesmo dia, Trump concedeu
uma entrevista à Fox News na qual reagiu energicamente à sugestão de que não
aumentaria o salário mínimo. "Você tem
de ajudar as pessoas, e eu sei que não é muito republicano dizer isso, mas você
tem de ajudar as pessoas.... Eu diria que [um salário mínimo de] US$ 10 a hora
é um salário ideal; mas sabendo que alguém como eu trará de volta aos EUA
vários empregos, as pessoas não permanecerão nessa categoria de US$ 10 a hora
por muito tempo".
Quanto à licença maternidade paga, Hillary sempre
defendeu a medida, gostosamente alheia ao fato de que tal política foi
originalmente criada como
uma medida eugênica para diminuir — e, por fim, eliminar — a participação
das mulheres na força de trabalho, o que seria um choque para as
feministas.
Mas será que Trump também é a favor? De acordo com sua filha Ivanka, a resposta é sim:
"Sendo eu mãe de três crianças pequenas, sei bem como é difícil trabalhar e ao
mesmo tempo criar uma família, e também sei que sou mais afortunada que a
maioria das pessoas. As famílias
americanas precisam de um alívio.
Políticas que permitam que mulheres com crianças prosperem não deveriam
ser novidades. Elas deveriam ser a
norma".
Indiferentes
Tentar separar minuciosamente as diferenças políticas
de ambos é uma completa perda de tempo, pois nenhum deles mantém alguma posição
baseada em princípio. Ambos adotam um
decrépito pragmatismo estatizante com a presunção de que, se há algo de errado
com o mundo, o governo pode consertar. O nome de quem comandará o conserto pode variar, mas a fonte do conserto sempre
será a mesma.
Ao menos já está ficando aparente, e com cada vez
mais intensidade, que a diferença entre ela e ele se resume a apenas uma briga
entre duas facções dentro de um mesmo e único partido. Antigamente, já era comum — especialmente
entre os libertários — dizer que não havia diferença nenhuma entre
republicanos e democratas. No entanto,
ainda assim sabíamos que havia uma hipérbole nessa afirmação. Ao menos retoricamente, um dos lados fazia
gestos de boa vontade em prol do liberalismo clássico.
Agora, isso se evaporou completamente. E a mudança não foi só do lado dos
Republicanos. Hillary não disse uma
única palavra em prol das liberdades civis.
Trump também não.
Trump faz sucesso entre seus entusiastas porque se
promove como alguém contrário ao establishment. Mas se você acredita que ser
anti-establishment é o mesmo que ser anti-governo, você está terrivelmente
enganado. Para Trump, anti-establishment
significa — e sempre significou — apenas que as pessoas erradas estão no
comando do governo. Portanto, Trump é
apenas um populista no sentido clássico termo.
Ele desdenha o politicamente correto (esta, sim, uma
novidade muito bem-vinda na política), posicionou-se corretamente contra o
desarmamento e diz coisas sensatas contra a ideia de aquecimento global causado
pelo homem. Ele também diz se opor à
esquerda, algo que faz com que um observador ingênuo possa interpretar como
sendo uma oposição aos poderes do governo — o que, como demonstrado acima, não
é o caso de Trump.
O despotismo pode vir em vários sabores e
embalagens. Pode vir da direita e pode
vir da esquerda. Opor-se a um e defender
o outro não é o mesmo que defender a liberdade.
O fato é que a perna direita e a perna esquerda do
estatismo dançam em um balé demoníaco.
Um lado ganha o controle e estimula o ressentimento do outro lado. Este outro lado reage, reassume o controle
após algum tempo e incita uma guerra contra seus inimigos políticos. A população fica dividida. Tudo
se torna uma briga por poder, mas cada lado tem interesse em adquirir cada vez
mais poderes.
Por isso, as coisas tornam-se mais claras quando
você começa a pensar em esquerda e direita como facções dentro de um mesmo
partido único. Ambos podem dizer coisas
sensatas a respeito de algumas coisas, mas nenhum defende a liberdade como
solução para os problemas econômicos e sociais.
Com esse cenário, é fácil perder as esperanças. Mas, não obstante tudo o que Trump ou Hillary
dizem, os libertários jamais podem esmorecer em sua batalha, pois sabemos que a
liberdade continua sendo a única esperança e a única solução para o mundo. A liberdade não é de direita ou de esquerda, não
é vermelha, azul, marrom ou verde. Ela tem
luz própria, uma luz brilhante que permanece acesa não importa quão espessa
seja a névoa criada pela política.
E isso nunca foi tão evidente quanto nos dias
atuais.