No dia 19 de agosto de 1991, em meio ao processo de abertura política (glasnost) e reforma econômica (perestroika) iniciado por Mikhail Gorbachev, líderes soviéticos pertencentes à linha dura do Partido deram início a uma tentativa de golpe de estado político e militar.
Eles queriam revogar todo o processo de reformas e manter a ditadura comunista na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Foi a semana que abalou o mundo.
No dia 22 de agosto de
1991, eu estava no meio de uma eufórica multidão de dezenas de milhares de
pessoas aglomeradas em frente ao parlamento russo em Moscou, a capital da União
Soviética.
Elas celebravam o fracasso desta tentativa de golpe.
Quando os tanques foram enviados para capturar
Boris Yeltsin, eles foram persuadidos pelo povo a apontar suas armas para
o outro lado e a defender Yeltsin e o Parlamento russo.
O regime soviético havia governado a Rússia e as
outras 14
repúblicas da URSS por quase 75 anos, desde a Revolução Bolchevique em
novembro de 1917 liderada por Vladimir Lênin e por seu grupo comunista de
seguidores marxistas. Durante esses
quase três quartos de século, primeiro sob Lênin e especialmente sob Josef
Stalin e seus sucessores, historiadores
estimam que mais de 64 milhões de pessoas — inocentes, homens desarmados,
mulheres e crianças — morreram nas mãos do regime soviético, e tudo em nome da
construção de um "belo e brilhante futuro" para o socialismo.
Milhões de mortos
Calcula-se que apenas a coletivização forçada da
terra implantada por Stalin, no início dos anos 1930, tenha custado as vidas de
algo entre 9 e 12 milhões de camponeses russos e ucranianos, os quais morreram enquanto tentavam resistir ao confisco de suas propriedades agrícolas ou após
terem sido enviados (com suas mulheres e filhos) a fazendas coletivas estatais
para fazer trabalhos forçados [veja um relato, forte, do que foi feito com os ucranianos
aqui].
Alguns foram simplesmente assassinados a tiros;
outros foram torturados até a morte; já o restante foi enviado para campos de
concentração e de trabalho forçado na Sibéria ou na Ásia central Soviética, os
quais eram chamados de GULAG. Milhões foram lentamente esfaimados até a
morte por causa de uma inanição criada pelo governo com o intuito de forçar as
pessoas a se submeterem às ordens expedidas pelo comitê de planejamento central
de Stalin e seus partidários.
Outros milhões foram capturados, arrebanhados e
enviados para campos de trabalho forçado nas localidades mais isoladas da União
Soviética como parte do plano central de tentar desenvolver à força os setores
industrial e mineral dessas localidades.
Nas décadas de 1930 e 1940, o plano central de
Stalin incluía cotas estipulando o número de "inimigos do povo" que deveria ser
capturado e executado em cada cidade e vilarejo da União Soviética, para
servirem de exemplo e arrefecer eventuais impulsos de resistência. Adicionalmente, havia cotas também
estipulando quantos deveriam ser capturados e enviados para os GULAGs como
substitutos das pessoas que já haviam morrido de fome e frio enquanto
trabalhavam forçadamente nas vastas terras desoladas da Sibéria, do norte da
Rússia européia, e da Ásia Central.
Ao longo das décadas de 1960, 70 e 80, o regime
soviético foi sendo cada vez mais percebido como notoriamente corrupto,
estagnado e, finalmente, decrépito, sob uma sucessão de caquéticos líderes do
Partido Comunista que tinham como único propósito manter o poder e seus
privilégios especiais.
Em 1986, um homem muito mais jovial, Mikhail
Gorbachev, que havia ascendido por conta própria na hierarquia do Partido, foi
nomeado ao cargo máximo de Secretário Geral do Partido Comunista da URSS.
A tentativa de Gorbachev de salvar o socialismo
Gorbachev acreditava que a União Soviética havia
cometido vários erros no passado; mas ele não era um oponente do socialismo ou
de seus fundamentos marxistas-leninistas.
Ele queria apenas um novo "socialismo com uma face mais humana". Seu objetivo era uma ideologia comunista
"mais bondosa e mais gentil", por assim dizer.
Ele genuinamente acreditava que a União Soviética poderia ser salva e,
com ela, uma alternativa coletivista mais humana ao capitalismo ocidental.
Para alcançar esse objetivo, Gorbachev introduziu
duas agendas reformistas.
Primeiro, a perestroika,
uma série de mudanças economistas com o intuito de admitir os erros do pesado
planejamento central até então em voga. Os administradores das empresas
estatais deveriam ser mais cobrados e teriam de prestar contas; pequenos
empreendimentos privados passaram a ser permitidos; empresas soviéticas
poderiam participar de empreendimentos conjuntos com empresas ocidentais.
Flexibilidade e adaptação criariam uma nova e melhor economia socialista.
Segundo, a glasnost,
a "abertura" política, sob a qual as maluquices políticas do passado seriam
reconhecidas e as até então "páginas em branco" da história soviética —
especialmente "os crimes de Stalin" — seriam preenchidas. Uma maior honestidade histórica e política,
diziam eles, restauraria a moribunda ideologia soviética e renovaria o apoio
entusiástico do povo soviético pelo agora reformado e redesenhado brilhante
futuro socialista.
No entanto, com o tempo, os membros mais linha-dura
e "conservadores" da liderança soviética passaram a considerar tais reformas
como sendo a abertura de uma Caixa de Pandora, a qual permitira que forças
incontroláveis solapassem o sistema soviético.
Eles já haviam visto isso acontecer nos satélites do Império Soviético
no Leste Europeu. [Ver alguns
relatos aqui, aqui e aqui].
O início do fim no Leste Europeu
Em 1989, Gorbachev permaneceu inerte enquanto o
Muro Berlim, o símbolo do poder imperial soviético no coração da Europa, era derrubado pela população
e as "nações cativas" do Leste Europeu — Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia,
Hungria, Romênia e Bulgária —, as quais Stalin clamava serem suas e que foram
conquistadas pela força militar ao final da Segunda Guerra Mundial, começaram a
se libertar do controle comunista e da dominação soviética.
Os membros da linha-dura soviética estavam agora
convencidos de que um novo tratado político que Gorbachev pretendia assinar com
Boris Yeltsin — presidente da República Socialista Federativa Soviética da
Rússia — e Nursultan
Nazarbayev — presidente da República Socialista Soviética do
Cazaquistão — significaria o fim da própria União Soviética.
As pequenas repúblicas bálticas da Estônia, Letônia
e Lituânia já estavam reafirmando a independência nacional que haviam perdido
em 1939-1940, como resultado da divisão do Leste Europeu acordada por Stalin e
Hitler. Em janeiro de 1991, violentas e
homicidas intervenções militares soviéticas na Lituânia
(veja um vídeo) e na Letônia não foram
capazes de esmagar os crescentes protestos anti-soviéticos naqueles países.
Métodos militares também foram empregados, sem sucesso, para tentar manter sob
controle as repúblicas soviéticas da Geórgia e do Azerbaijão.
Conspiradores comunistas pelo poderio soviético
No dia 18 de agosto de 1991, os conspiradores da
linha-dura tentaram persuadir Gorbachev a cancelar seus planos de fazer acordos
políticos com a Federação Russa e com o Cazaquistão Soviético. Ao se recusar, Gorbachev foi mantido à força
em sua dacha (as casas de veraneio do
alto escalão da burocracia soviética) na Criméia, ao norte do Mar Negro, na
qual passava férias.
No início da manhã do dia 19 de agosto, os
conspiradores emitiram uma declaração anunciando que estavam tomando o controle
do governo soviético. Um plano para
capturar, e possivelmente assassinar, Boris Yeltsin havia fracassado. Yeltsin conseguiu enganar os sequestradores
ao sair de sua casa nos arredores de Moscou e chegou em segurança ao prédio do
Parlamento Russo. Unidades militares
leais aos conspiradores da linha-dura cercaram e sitiaram a cidade com tanques
em todas as pontes que levavam a Moscou e em todas as grandes vias que davam
acesso ao centro de Moscou. Tanques também cercaram o Parlamento Russo.
Mas Yeltsin rapidamente conseguiu aglutinar o povo
de Moscou a seu favor, fazendo também com que a população russa em geral defendesse
a Rússia contra a tentativa de golpe de estado dos comunistas linha-dura. Pessoas de todo o mundo testemunharam Yeltsin
subindo em um tanque do exército em frente ao Parlamento e fazendo um discurso
pedindo aos moscovitas que resistissem a qualquer tentativa de retorno aos dias
negros do regime comunista.
À época, a mídia ocidental fez muito barulho em relação
ao mau planejamento da tentativa de golpe que durou 72 horas, de 19 de agosto a
21 de agosto. A mídia mundial se
concentrou no — e zombou o — nervosismo e confusão demonstrados por alguns
dos líderes do golpe durante uma conferência de imprensa.
Os conspiradores foram ridicularizados por
seu comportamento cômico e trapalhão ao perderem a chance de sequestrar Yeltsin
e de postergar sua tomada do prédio do Parlamento Russo; ou mesmo por deixarem
abertas as linhas telefônicas internacionais e por não terem nem sequer tentado
obstruir as transmissões feitas in loco
pelas televisões estrangeiras, as quais relatavam para todo o mundo, e ao vivo,
os eventos que estavam ocorrendo em toda a União Soviética.
Os perigos de a linha-dura ter vencido
Independentemente do pobre planejamento dos líderes
do golpe, o fato é que, se eles fossem bem-sucedidos, as consequências poderiam
ser catastróficas. Tenho comigo até hoje
uma fotocópia do mandado de prisão que havia sido preparado para ser impingido
em toda a região de Moscou e que fora assinado pelo comandante militar, o
marechal Kalinin.
O mandado concedia aos militares e ao KGB a
autoridade para prender absolutamente qualquer pessoa. O mandado tinha um "preencha a lacuna", no
qual o nome da vítima, qualquer vítima, seria escrito na hora. Quase 500.000 desses mandados de prisão já
haviam sido expedidos. Em outras
palavras, em torno de meio milhão de pessoas poderiam ter sido presas apenas em
Moscou.
No dia anterior ao início do golpe, o KGB havia
recebido um carregamento de 250.000 pares de algemas. Posteriormente, a imprensa russa noticiou que
alguns dos campos de concentração da Sibéria haviam sido reabertos. Se o golpe houvesse sido bem-sucedido,
possivelmente de três a quatro milhões de pessoas em toda a União Soviética
seriam enviadas novamente aos GULAGs.
Outro documento publicado pela imprensa russa após
o fracasso da tentativa de golpe detalhava instruções para as autoridades
militares em várias regiões do país. As
ordens eram para começar a apertar ainda mais a vigilância sobre o povo nas
áreas sob sua jurisdição, vigiando todas as palavras, movimentos e ações de
cada indivíduo. Os estrangeiros deveriam
ser seguidos e vigiados com ainda mais atenção.
E relatórios deveriam ser enviados aos líderes do golpe em Moscou a cada
quatro horas.
Com efeito, quando o golpe estava em progresso, o
KGB começou uma série de batidas para fechar todos os empreendimentos
comerciais moscovitas feitos em parceria com empresas ocidentais, acusando-as
de ser um "ninho de espiões", e aprisionando alguns dos participantes russos
desses empreendimentos.
Uma calma surreal escondia todo o medo
Durante a tentativa de golpe, Moscou apresentava
uma qualidade surreal, a qual percebi enquanto caminhava pelas várias partes do
centro da cidade.
Nas ruas de toda a
cidade, parecia que nada estava acontecendo — exceto pelo enxame de tanques soviéticos
estrategicamente posicionados no centro das interseções de avenidas e nas
pontes cruzando o rio Moscou. Os taxis passavam pelas avenidas à procura de
passageiros; a população parecia manter a rotina, indo para e voltando do
trabalho, ou esperando nas longas e rotineiras filas pela ração diária distribuída
pelo governo; e os motoristas, como de costume, faziam filas nos postos de
gasolina controlados pelo governo.
Mesmo
estando em um carro alugado e com placas claramente estrangeiras, em momento
algum fui parado enquanto dirigia pelo centro de Moscou.
Os únicos sinais perceptíveis naqueles dias extraordinários
eram os olhares mais assustados e sombrios do que o habitual nos rostos da população;
e o fato de que nos centros de distribuição de comida as pessoas se aglomeravam
em volta dos rádios após já terem comprado seus alimentos.
No entanto, a aparência de quase normalidade não era
capaz de esconder o fato de que o futuro do país estava por um fio.
Os russos se arriscaram pela liberdade
Durante os três dias daquela semana decisiva, russos
de todas as profissões tiveram de se perguntar qual preço eles estavam
dispostos a pagar pela liberdade. E milhares
concluíram que arriscar a própria vida para impedir um retorno do despotismo comunista
era um preço que estavam dispostos a pagar.
Esses milhares apareceram em frente ao Parlamento
Russo em resposta ao chamado de Boris Yeltsin. Eles formaram barricadas improvisadas, e se prepararam para oferecer a
si próprios como escudos humanos desarmados contra tanques e tropas soviéticas. Minha futura mulher Anna e eu estávamos entre
aqueles defensores da liberdade que permaneceram em vigília durante todos
aqueles três dias praticamente de frente para os canhões dos tanques soviéticos.
Dentre aqueles milhares, três grupos se destacavam
mais por terem escolhido lutar pela liberdade.
Primeiro, os jovens em final de adolescência e
início de seus vinte anos, os quais estavam vivendo em um ambiente um pouco
mais livre durante os últimos seis anos desde que Gorbachev havia assumido o
poder, e que não queriam viver sob o terror e a tirania que seus pais haviam
vivenciado no passado.
Segundo, os novos
empreendedores russos, que temiam que aquela ainda nascente liberdade econômica
que lhes havia permitido iniciar pequenos empreendimentos privados fosse
esmagada pela volta da linha-dura comunista.
E terceiro, os veteranos da guerra soviética no Afeganistão, que haviam
sido recrutados à força para servir ao imperialismo soviético e que agora
estavam decididos a impedir seu retorno.
A falência do sistema soviético foi demonstrada não
apenas pela coragem daqueles milhares de indivíduos defendendo o Parlamento
Russo, mas também pela não disposição dos militares soviéticos de obedecer às
ordens dos líderes do golpe.
É verdade que apenas um punhado de unidades militares
de fato passou imediatamente para o lado de Yeltsin em Moscou. Mas centenas de babushkas — avós — russas
foram para cima dos jovens soldados que manejavam os tanques soviéticos e os
confrontaram perguntando: "Vocês vão atirar em suas mães, em seus pais, em sua
avó? Nós somos cidadãos do seu próprio povo."
O ato final do golpe veio quando essas unidades
militares se recusaram a obedecer às ordens da linha-dura comunista de sitiar e
tomar o prédio do Parlamento Russo, o que possivelmente teria custado centenas
de milhares de vidas.
Liberdade! Liberdade! Liberdade!
Naquela clara e quente tarde de quinta-feira, 22 de
agosto de 1991, a enorme massa de seres humanos que havia se juntado em uma
grande praça atrás do Parlamento Russo permaneceu ali ouvindo Boris Yeltsin
lhes dizer que aquela área seria agora conhecida como a Praça da Liberdade
Russa. A multidão então respondeu em
uníssono: Svaboda! Svaboda! Svaboda! — "Liberdade! Liberdade! Liberdade!".
Uma enorme bandeira da Rússia pré-comunista, com
suas cores branca, azul e vermelha, cobriu toda a frente do prédio do
parlamento. A multidão olhou para cima e
viu a bandeira vermelha soviética, com a foice e o martelo amarelos no canto
superior esquerdo, sendo baixado no mastro em cima do Parlamento, com as cores
da Rússia sendo elevadas pela primeira vez em seu lugar. E de novo as pessoas gritaram: "Liberdade! Liberdade! Liberdade!"
Não muito longe do prédio do Parlamento em Moscou,
naquele mesmo dia, uma enorme multidão se aglomerou na Praça Lubyanka, no
quartel-general do KGB.
Com a ajuda de
um grande guindaste, os moscovitas arrancaram e derrubaram a estátua de Felix Dzerzhinsky,
o fundador da polícia secreta soviética, que ficava perto da entrada do prédio do
KGB. (Veja no vídeo a partir dos 16 segundos de vídeo).
Em um pequeno parque em frente à sede do KGB, em um
esquina em que hoje há um pequeno monumento em homenagem às vítimas dos campos
de trabalho forçado soviéticos, uma manifestação anti-comunista se formou. Um jovem vestindo um uniforme militar da
velha Rússia czarista queimou uma bandeira soviética, sob aplausos e louvores
da multidão.
O pesadelo de 75 anos de terror e tirania comunista
estava chegando ao fim. O povo da Rússia
ansiava por liberdade, e se deleitava com a alegria desse prospecto.
A URSS foi, em termos geográficos, o maior império
da história. Somente o componente russo possuía 11 fusos horários. Por
meio de seus países satélites, a URSS se estendia até a Europa Ocidental. No
ano de seu colapso, este império existia há mais de 70 anos. Ele possuía o
mais amplo e completo sistema de controle sobre atividades, ideias e
pensamentos da história da humanidade. Nenhuma grande sociedade jamais chegou a
ter aparato semelhante.
No entanto, em apenas uma semana, sem nenhum
derramamento de sangue, os líderes da URSS simplesmente
abandonaram este esquema. Nada semelhante a isso jamais havia ocorrido
anteriormente.
Aqueles que vivenciaram aqueles dias de 1991 jamais
apreciaram corretamente a magnitude do evento. Talvez porque não tenha havido
derramamento de sangue. Não houve praticamente nenhum aviso. De 1946
a 1991, o Ocidente foi envolvido em uma grande competição entre os dois
sistemas. E então, sem nenhum alarde, a competição acabou. O fim do
império pegou os russos de surpresa. Também pegou os ocidentais de
surpresa.
Confira um bom resumo daqueles dias:
A esperança da liberdade e a realidade pós-comunista
A morte do Partido Comunista e do sistema soviético
foi, sem dúvida, o um dos mais monumentais e grandiosos eventos da
história. Que o regime tenha se
esfacelado com uma relativamente pequena quantidade de sangue derramado durante
aquelas decisivas 72 horas da tentativa de golpe perpetrada pela linha-dura
comunista é algo relativamente milagroso.
Os últimos vinte e cinco anos não foram do jeito
que os vários defensores da liberdade na Rússia haviam esperado. Com efeito, a Rússia pós-comunista incorreu
em várias trapalhadas econômicas, políticas e geopolíticas.
Primeiro, não reformaram sua moeda, a qual
vivenciou uma nociva hiperinflação entre 1992 e 1994, culminando em uma severa
crise financeira em 1998, a qual abriu caminho para a volta de figuras políticas
autoritárias em 1999, ano em que Vladimir Putin chegou ao poder.
Segundo, em vez de desestatizar da maneira
correta, embarcaram em um programa de "privatização" contraditório, mal
organizado e inerentemente corrupto, o qual consistia apenas em transferir
empresas estatais para as mãos de magnatas russos que haviam enriquecido
durante o comunismo exatamente em decorrência de suas conexões com o governo e
o KGB (veja os relatos aqui).
Terceiro, o país se envolveu em duas sangrentas e
destrutivas guerras ao tentar evitar a separação da Chechênia.
Quarto, a corrupção em todos os níveis do governo é
endêmica, difusa e mundialmente conhecida.
Quinto, os mercados são controlados pelo estado e
manipulados por políticos, assim como as decisões de investimento, o comércio e
a mídia.
Sexto, assassinatos e aprisionamento de oponentes políticos
do regime são corriqueiros;
Sétimo, há uma significativa nostalgia entre várias
pessoas pelo retorno do país ao status de "grande poder militar mundial" e pela
volta da "mão firme" da era stalinista.
Oitavo, as recentes aventuras militares de Putin na
Criméia, na Ucrânia e na Síria.
Não obstante, para aqueles — dentre os quais me
incluo — que tiveram a sorte de estar em Moscou em agosto de 1991, permanece
em nossas mentes como um momento histórico inesquecível o momento em que o
primeiro e mais longevo dentre os estados totalitários do século XX caiu de
joelhos.
A União Soviética desapareceria em definitivo do
mapa político mundial no dia 24 de dezembro de 1991, com a fragmentação e a independência
formal das 15 repúblicas soviéticas que formavam a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas.
O pesadelo soviético do "socialismo na prática"
havia terminado.