segunda-feira, 11 dez 2017
Após
o Bitcoin ter ultrapassado o marco dos US$ 15.000 [neste
exato momento, um Bitcoin vale R$
55.000], a mídia financeira convencional finalmente começou a se dar conta
de que esse negócio realmente é importante.
Os
veículos estão alvoroçados e atabalhoados, tentando entender o significado de
tudo isso. Alguns reforçaram a aposta na velha tese de que tudo não passa de um
embuste; outros apenas desprezam o fenômeno dizendo que ele nada mais é do que
uma bolha (com efeito, todos os modelos financeiros sugerem que uma correção de
preços é necessária). Alguns medalhões, como Joseph Stiglitz, já exigiram
que o Bitcoin seja banido, como se fosse possível banir um protocolo
matemático.
As
confusões abundam. Tendo acompanhado o desenvolvimento desta tecnologia desde
2010, eis os dez pontos que considero mais importantes sobre o Bitcoin e todo o
setor de criptoativos.
1. Não foi inventado pelo governo
Desde
a antiguidade, alega-se que o dinheiro pertence à esfera do governo, o qual não
só deve salvaguardar a moeda, como também deve criá-la, impingi-la sobre todos
e gerenciá-la.
Sempre
se acreditou que o dinheiro foi criado pelo estado. Com efeito, no final do
século XIX, toda uma escola de pensamento econômico foi criada em torno dessa
ideia: a Teoria
Estatal da Moeda. Este tratado escrito por Georg Friedrich Knapp
surgiu em 1905 (com tradução para o inglês em 1924) e ajudou a fortalecer a noção
de que todo o dinheiro de um país (à época, o ouro) não só pertence ao âmbito
do governo, como também deve ser colocado sob o estrito controle de um Banco
Central.
Mas
Carl Menger já havia
explicado que não era
assim. A moeda boa sempre surgiu das transações livres feitas pelos
indivíduos e do empreendedorismo. Foi isso o que ocorreu ao longo da
história humana. Foi só depois que os governos se apossaram delas,
efetivamente as estatizando.
E
o Bitcoin mostra que Menger estava certo e que os defensores da teoria estatal
da moeda estavam errados.
2. Não foi inventado pela academia
O
protocolo do Bitcoin foi criado por um programador anônimo, o
qual o enviou para uma pequena lista de email. Dali, o protocolo se difundiu.
Os
economistas acadêmicos — para não mencionar os cientistas políticos e os
sociólogos — ficaram totalmente de fora do arranjo.
Isso
é fascinante porque a hierarquia intelectual convencional sempre coloca a
academia no topo e todo o resto do populacho abaixo. Diz-se que os diplomados e
Ph.Ds determinam o curso da história e, como consequência, todo o resto da
humanidade se beneficia disso — como se as idéias seguissem uma estrutura de produção
pré-determinada, de cima para baixo.
A
falácia dessa teoria foi explicitada pelo surgimento do capitalismo, quando os
praticantes, e não os teóricos, começaram a implantar
todas as boas idéias. E então o contra-ataque intelectual veio no século
XX: os especialistas — keynesianos, fascistas, socialistas, comunistas e
nazistas — é que deveriam gerenciar a sociedade. Deu no que deu.
Hoje,
de novo, estamos (re)descobrindo esse antigo fenômeno, o qual continua
fascinante: as melhores idéias vêm daqueles que fazem o trabalho prático.
3. Nem tudo é sobre o Bitcoin
De
certa forma, os astronômicos retornos trazidos pela criptomoeda acabam
distraindo e desviando a atenção da real genialidade tecnológica que está na
base da criação: o livro-contábil — ou livro de registros — chamado Blockchain.
Todas
as transações feitas no mundo inteiro com a moeda estão registradas ali. Toda
vez que uma transação é feita, um novo código é gerado e adicionado ao código
preexistente do Bitcoin, tornando impossível sua falsificação. Para um
hacker roubar um bitcoin, ele precisaria hackear todos os computadores da rede
ao mesmo tempo.
Essa
tecnologia gerou um setor financeiro tão grande quanto o próprio Bitcoin, com
milhares de aplicações, incluindo todas as formas de contrato. O Blockchain
pode até mesmo levar a uma reviravolta na relação entre o indivíduo e o estado.
O
detalhe mais importante a ser entendido sobre a tecnologia é este: trata-se da
melhor maneira até hoje já inventada para documentar e impingir reivindicações de títulos
de propriedade. Em outras palavras, trata-se de uma tecnologia de registros
de títulos de propriedade que conta com um livro-contábil praticamente imutável
— uma vez efetuado o registro, é computacionalmente impraticável revertê-lo.
Se
você não entende o significado dessa afirmação, lamento, mas você não entende o
valor dessa tecnologia.
4. As velhas regulamentações não
funcionarão
Essa
tecnologia é completamente nova, ao passo que todo o atual aparato financeiro e
regulatório depende de uma tecnologia mais antiga, a qual deve ser manuseada
impositivamente para funcionar de uma determinada maneira. Apenas alterar as
regulações vigentes para adaptá-las a essa nova tecnologia é algo que
simplesmente não tem como funcionar. Irá apenas criar bagunça e confusão,
desacelerando o progresso, mas jamais o impedindo.
Burocracias
estabelecidas e grupos de interesse contrários a essa tecnologia irão brigar e
espernear, mas nada pode deter essa revolução, a qual é digital e sem
fronteiras, o que a torna impossível de ser controlada.
Ademais,
regulações, por si sós, não têm poder para reverter tendências. Você realmente
acredita que se o governo houvesse banido, por exemplo, a eletricidade, o motor
de combustão interna, os computadores e os aviões, tais invenções teriam sido
interrompidas e jamais existiriam? Governos são apenas um aborrecimento; nunca
são os autores da história.
5. O dinheiro será concorrencial
Várias
pessoas vêem os atuais acontecimentos como uma batalha entre o dólar e o
Bitcoin. Isso é extremamente simplista e reducionista. A verdadeira batalha é
entre o dinheiro estatal monopolizado pelo governo e um recém-criado sistema concorrencial.
Essa concorrência se dá entre criptomoedas e criptoativos.
As
pessoas querem saber quem será o vencedor. Mas isso também é um pensamento
típico do mundo velho. O processo concorrencial nunca irá acabar. Eventuais
vitórias serão temporárias, e um novo desafiante surgirá e ganhará os
holofotes. Este é um novo mundo. Nenhuma pessoa viva sabe como ocorrerá tudo
isso, pois a moeda estatal sempre foi protegida pelo estado das pressões de
mercado. Especificamente os americanos terão de se acostumar a um mundo em que
o dólar não mais será rei.
6. O sistema bancário e o crédito
irão mudar
Toda
a instituição do Banco Central se baseia na ideia de um monopólio monetário,
o qual, por consequência, permite o total controle sobre a macroeconomia.
Já
a criptomoeda não precisa se tornar o mais usado dos ativos para destruir toda
essa presunção. Tudo o que ela precisa fazer é apenas destruir o monopólio. E,
com um valor de mercado de meio trilhão de dólares, isso pode até já ter
acontecido.
Ademais,
o sistema de redes distribuídas unificou a moeda e os sistemas de pagamento,
abolindo a necessidade de haver atravessadores (sistema bancário).
Consequentemente, sistemas antiquados de processamento e compensação de
transações financeiras (bancos e Banco Central) irão se tornar obsoletos, assim
como a atual
maneira como se concede crédito. Novos entrantes estão surgindo
diariamente.
7. Os desbancarizados também têm direitos
Estima-se
que o número de pessoas que não possuem conta em banco — os desbancarizados —
seja de dois bilhões. Mas tal número certamente está
subestimado. Pense em todo o mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento,
mas não se limite a isso.
Onde
vivo (Atlanta, EUA), os desbancarizados estão por todos os cantos, e eles são
desbancarizados por uma variedade de razões. Alguns temem intrusões em sua
privacidade. Outros possuem estilos de vida e fontes de renda que não são
enquadrados como convencionais. Alguns têm profissões atípicas e intermitentes.
E outros são jovens demais. Talvez seja uma tradição familiar. Ou então eles
temem ser capturados pelo sistema. E isso tudo em uma cidade grande no país
mais rico do mundo. Já em países mais pobres, os pobres não têm conta em banco
simplesmente por serem considerados não-qualificados pelo próprio sistema
bancário.
Qualquer
que seja o motivo da desbancarização, é inquestionável que tais pessoas ainda
assim têm direitos econômicos, e a tecnologia Blockchain lhes dá uma opção.
Pela primeira vez na história, essas pessoas podem transacionar digitalmente
sem depender do sistema bancário.
Estas
são as pessoas que irão estimular o empreendedorismo neste setor.
8. Ninguém estará no comando
A
tecnologia Blockchain não possui um ponto único de
falha. Também não possui uma capacidade de controle abrangente e universal.
Embora os intermediadores financeiros não sejam completamente removidos do
arranjo, eles não são essenciais. Os sistemas do passado, regulados pelo
governo, se degeneraram em cartéis (como sempre ocorre);
os sistemas do futuro serão cada vez mais descentralizados, com uma contínua e
irreversível desintermediação.
Qualquer
um que almeje o controle total irá diariamente vivenciar ilusões despedaçadas.
Isso vale tanto para grandes conglomerados financeiros quanto para governos. O fundamento
lógico das políticas tradicionais está arraigado na presunção de que uma visão única
deve ser imposta sobre todos. Já o futuro descentralizado estará arraigado na
realidade de que haverá disrupturas contínuas. Nenhuma ideologia pode parar isso.
9. É um modelo para tudo
O
Bitcoin não diz respeito apenas ao Bitcoin. É algo muito maior. Acima de tudo,
é sobre a liberdade humana. Seres humanos não foram feitos para viver
enjaulados em arranjos construídos artificialmente por governos, utilizando apenas
os meios de troca e os sistemas permitidos pelo governo. O objetivo da vida
humana sempre foi o de encontrar um caminho para a liberdade.
Governos
e seus lacaios sempre escarneceram e tripudiaram de toda esta revolução, desde
2009 até hoje. Não há como um pássaro fugir, disseram eles.
Agora
já é tarde demais.
10. Ninguém sabe o futuro
Ninguém
poderia ter antecipado que isso ocorreria. Ninguém é capaz de saber exatamente
o que irá ocorrer mais à frente. O futuro será na base da contribuição colaborativa.
Este
aparente caos irá se encaminhar espontaneamente para a ordem harmoniosa,
maciçamente aprimorando a vida na terra.
Exatamente
como tem de ser.