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A verdadeira causa dos apagões

N. do T.: Agora que novos rumores a respeito de um novo apagão voltaram a atormentar o povo brasileiro, o texto a seguir — de julho de 2006 — mostra que a realidade americana também não é muito diferente da nossa; aliás, as semelhanças são incríveis. E o culpado é um só.

 

Às vezes (bem, freqüentemente) tudo o que você quer dizer é: acabem com o estado!

Considere isso uma explosão de raiva, do tipo que você sente quando a luz vai embora. E a onda de calor[1] — e a resposta dos serviços de utilidade pública — é a novidade que provoca isso.

Durante toda a última semana, muitas partes do bairro do Queens, Nova York, estavam sem eletricidade devido a uma falha do sistema gerador de energia, o que mergulhou a cidade na escuridão em meio a um sufocante calor por mais de uma semana.

Para muitos, foram Dez Dias de Inferno. Milhares ficaram sem ar-condicionado, luz, refrigeradores, conexões de internet, e, bem, sem a vida moderna, praticamente.

E vejam bem: ninguém sabe bem exatamente por que isso aconteceu. Tudo o que dizem é que o sistema ficou sobrecarregado. O que vai acontecer como resultado? Audiências, relatórios, reuniões, queixas, resoluções, reformas, e, nesse meio tempo, um outro apagão seguido de mais audiências, relatórios, reuniões, etc., sendo que toda essa papelada produzida será arquivada no mesmo imenso armazém onde todos os outros relatórios sobre apagões recentes estão.

O que os consumidores fazem a respeito? Eles seguem o noticiário e continuam pagando as contas para a mesma companhia que os deixou na mão. Eles não podem trocar. Eles não podem influenciar o processo de produção. Eles estão completamente impotentes.

Enquanto isso, do outro lado do país, os californianos estão tendo que agüentar apagões, ameaças de mais apagões, acusações políticas, e até mesmo mortes: 56 pessoas até agora. Tudo por causa de uma onda de calor, e tudo porque a estrutura da indústria não foi projetada para extremos.

Agora, se o mercado estivesse no comando, uma onda de calor não seria vista como um problema, mas como uma oportunidade. Empresários estariam se atropelando para satisfazer a demanda, assim como acontece em todos os outros setores que são controlados pelo mercado. As companhias de energia estariam rezando por ondas de calor!

Afinal, será que os fabricantes de sapatos vêem um aumento maciço na demanda por calçados como um problema? As redes de fast food vêem os glutões como uma terrível ameaça? Pelo contrário, esses são encarados como oportunidades de lucros.

Mas quem é que está encarregado de levar eletricidade aos moradores? Companhias de utilidade pública, que, no nosso dicionário, significa "estatal", "gerenciada pelo estado", sendo que algumas dão uma falsa idéia de que têm algum controle privado. Se você olhar a grade de distribuição de eletricidade em um mapa, verá que ela é organizada por região. Se você olhar a jurisdição da administração, verá que ela é organizada por fronteiras políticas.

Em outras palavras, o fornecimento de energia é organizado exatamente como um planejador central da velha escola planeja alguma coisa: não de acordo com a ciência econômica, mas de acordo com alguma idéia aprendida em um livro-texto que ensina como algo deve ser "organizado". E a coisa é "organizada" da mesma maneira que os soviéticos organizavam a produção de grãos ou o New Deal organizava a construção de pontes.

Toda a centralização e cartelização começou há aproximadamente um século, como Robert Bradley[2] mostra em Energy: The Master Resource, quando os líderes da indústria de energia obtiveram aquilo que ficou conhecido como acordo regulatório. Eles ganharam o privilégio da proteção contra a concorrência de mercado em troca de um controle de preços que se basearia em uma fórmula que leva em conta o custo da produção mais uma taxa fixa de lucro — fórmula essa que sobrevive até hoje.

E então os economistas se envolveram ex post e declararam que a energia elétrica é um "bem público", sob a crença de que a iniciativa privada não pode fornecer os elementos indispensáveis à vida.

O que os líderes dessa indústria receberam desse pacto com o diabo foi um certo nível de proteção cartelizada, do mesmo tipo que a coroa inglesa garantia ao chá ou que o governo dos EUA garante aos correios para entregas de primeira ordem. É um privilégio dado pelo governo — que os submete a regulamentações e, em compensação, imuniza as companhias contra falências. É ótimo para um punhado de produtores, mas nada bom para todo o resto.

Existem muitos custos. Os consumidores não estão no comando. Eles são cortejados apenas por razões políticas, mas não são a preocupação principal do processo de produção. O desenvolvimento empreendedorial é obstruído. Nosso sistema atual de fornecimento elétrico parou no tempo. Enquanto isso, setores que fornecem DSL (Digital Subscriber Line) e outras formas de serviços de internet e telecomunicações se expandem e melhoram dia a dia — não com resultados perfeitos, mas ao menos com o desejo de servir bem o consumidor.

Mercados não nos denunciam por nosso "consumismo" e "cobiça"; ao contrário, essas características são provocadas e encorajadas. Aliás, não é exatamente por isso que os mercados são denunciados? Eles estimulam os consumidores a gastar, gastar, gastar, consumir, consumir, consumir. Bem, pense nessa alternativa. Ela existe agora mesmo com o fornecimento de eletricidade. Estamos sendo censurados por não querer viver dentro de casas que atingem 32º e dormir sobre poças de suor.

Tenho certeza de que os consumidores de Nova York e da Califórnia iriam adorar um cenário no qual as companhias de energia estivessem implorando por seus negócios e encorajando todos a diminuir o termostato até o ponto mais frio. A concorrência traria redução de preços, inovações, e uma variedade de serviços ainda maior — a mesma situação que encontramos na indústria de informática.

O que estamos aprendendo nessa nossa época é que nenhum setor essencial à vida pode ser confiado ao estado. O setor energético é importante demais para a nossa vida para ser administrado por uma burocracia que não tem os incentivos econômicos para fornecer bons serviços à população. Como ele deve ser organizado não podemos dizer de antemão: isso deve ser deixado para o mercado. Qualquer que seja o resultado, pode apostar que a grade de distribuição naquele mapa não seria como é hoje, e tampouco sua administração dependeria dos caprichos de uma jurisdição política.

O que nós precisamos hoje é de uma total, radical, completa e inflexível desregulamentação e privatização. Precisamos de concorrência. Isso não significa que precisamos de duas ou mais companhias servindo cada mercado (apesar de que isso era comum até os anos 1960). O que queremos é a ausência de barreiras legais para se entrar no mercado. Se o mercado é servido por uma única companhia, tudo bem. A concorrência existe a partir do momento que o estado não proíbe outras companhias de fazer sua tentativa.

Quão importante é esse assunto? Crucial. O desenvolvimento contínuo da civilização depende totalmente do fornecimento de eletricidade e de outras formas de energia. Mas o que deveria ser uma grande prioridade política, nem se encontra na agenda. Alguns acham que apagões contínuos energy.jpge coisas do gênero levarão a uma mudança no tratamento da questão. Veremos.

Apenas pense nesse princípio geral: quando algum bem ou serviço está em alta demanda, e é economicamente viável fornecê-lo àqueles que o estão demandando, mas isso não está sendo feito de uma maneira que seja consistente com o bem-estar do consumidor, pode apostar que o estado está envolvido. Tire o estado da jogada, e você verá a aurora de uma era sem o temor de apagões.

Deixe-me acrescentar isso: muitas pessoas querem evitar o tópico da energia porque é técnico, amplo, e parece muito especializado. Mas o livro de Robert Bradley (Energy: The Ultimate Resource) explica tudo o que você precisa saber, de uma perspectiva histórica, econômica e política; e ele o faz de uma maneira totalmente compreensível. Você tem que ter um conhecimento funcional desses temas para poder se comunicar de maneira efetiva sobre esse tópico. Então compre o livro Energy: The Ultimate Resource. Serão os melhores $15 dólares que você gastará nesse verão.



[1] No caso brasileiro, a falta de chuva. [N. do T.]

[2] Presidente do Institute for Energy Research e pesquisador sênior da Universidade de Houston. [N. do T.]


autor

Lew Rockwell
é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.



  • Roberto Chiocca  11/11/2009 15:21
    Este artigo será sempre atual até aprendermos que O setor energético é importante demais para a nossa vida para ser administrado por uma burocracia que não tem os incentivos econômicos para fornecer bons serviços à população.
  • Bruno  11/11/2009 15:50
    É melhor deixar na sensata administração privada da Enron não é Roberto?\n\nO problema real é site de economistas terem comportamento de Fla-Flu é tudo quanto é assunto que escapa da economia.
  • Roberto Chiocca  11/11/2009 16:07
    Bruno, sobre a Enron leia:"O colapso da Enron" escrito por Ron Paul http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=28
  • Luis Almeida  11/11/2009 16:39
    Hahahahaha.\nÉ, o assunto monopólio escapa da economia! Este Bruno é um gênio!\nUma pena os níveis dos comentários aqui..
  • Bla  11/11/2009 17:15
    Bruno comete um erro comum cometido por socialistas, se há uma empresa "privada" com monopolio e privilegios dados pelo governo, isso é uma demonstração da total falha do livre mercado, logo deve haver uma intervenção do mesmo governo que forneceu a essa empresa o monopolios e os privilegios, se ele pode nos salvar.
  • Bla  11/11/2009 17:15
    *só ele pode nos salvar.
  • Leandro  12/11/2009 00:18
    Ótima desenterrada! E a coisa nada mudou de lá pra cá - tanto nos EUA quanto no Brasil.
  • Caio Augusto  12/11/2009 15:30
    Ótimo texto! E eu não consigo ver diferenças entre o sistema de lá e o daqui.
  • Alexandre - Turvo-SC  20/01/2012 21:19
    Leandro, em algum lugar do mundo, o setor é totalmente livre ou mais livre que aqui??
  • Leandro  20/01/2012 22:25
    Em qualquer país do norte o setor é mais livre que o daqui, Alexandre. Tenha a bondade de ver mais detalhes neste artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=637

    Abraços!
  • Alexandre M. R. Filho  24/01/2012 10:20
    Obrigado, Leandro!\r
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  • Nairon  28/07/2012 06:16
    O tal do governo devia se chamar "desgoverno", porque é somente isso que ele causa em qualquer lugar que toca: CAOS GENERALIZADO.\r
    Ótimo texto! Pensando em imprimir todos os artigos do IMB porém como indivíduo que conhece a TACE, devo primeiro poupar e planejar meu futuro.
  • Amarilio Adolfo da Silva de Souza  22/06/2013 23:48
    Para o povo é mais cômodo pensar que o governo resolverá seus problemas, mesmo que este já tenha dado mostras grotescas de ineficiência e desperdício.
  • Emerson Luis, um Psicologo  27/08/2013 15:02
    "Estatize o Saara e em cinco anos faltará areia no deserto"

    * * *
  • anônimo  26/06/2014 13:47
    A iniciativa privada teria capital, incentivos e recursos para investir em energia elétrica? Se não, qual seria a solução?
  • Thiago  20/01/2015 18:55
    Esse artigo tem que ser publicado novamente.

    É possível privatizar a produção sem a distribuição? Imagino que seja tecnicamente divicil de mais de uma opção de distribuição, nenhum empresário se interessaria nisso, procede? Como poderia optar por comprar uma energia de A ou B que utilizariam a mesma linha?
  • André   20/01/2015 19:18
    Explicado em detalhes práticos e técnicos aqui/

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=646
  • Bruno Soares  20/01/2015 20:33
    Não sei quanto a viabilidade técnica, mas não imagino que seja muito complicado a utilização de geradores / "superbaterias" como alternativa à rede elétrica para as casas residenciais.
    Exemplo: Gás Encanado e Gás Envasado. Um "disk entregas" / contrato.
  • Erick Skrabe  28/01/2015 15:32
    Eu acredito que a grande questão é "como permitir novas idéias no mercado ?" e a resposta é livre mercado.

    Nós temos células solares cada vez mais baratas e recentemente o designer Philippe Starck inventou um gerador eólico doméstico. Talvez pudéssemos ter linhas de distribuição independentes ou entrega de butijões de hidrogênio ou mesmo baterias de etanol (que estão sendo testadas em celulares). Eu não sei qual solução é a melhor, eu sei qual é a pior: monopólio estatal.
  • Rafael Ristow  13/02/2015 19:43
    O livro citado pelo autor do artigo Lew Rockwell está disponível gratuitamente aqui: instituteforenergyresearch.org/analysis/energy-the-master-resource/

    Ele abriu!

    Eu trabalho em uma empresa de transmissão de energia, e fico pasmo com o cada vez mais crescente controle do Estado sobre o setor.
    O pequeno empreendedor (não o caso da empresa que trabalho) que deseja investir no setor elétrico sofreria tanto que nem inicia.

    A inovação é praticamente nula porque os burocratas da ANEEL, EPE e ONS que dizem o que deve ser instalado e onde. Eu gosto de pesquisar novos padrões de linha e torres, mas meu gerente diz que não adianta nada (e com razão), porque o governo não aceitaria os novos padrões.

    O pior é que a grande maioria dos meus colegas acha que deveria ter MAIS governo no setor...
  • RichardD  15/09/2015 14:18
    Nunca foi tão atual. heuheuhe
  • Leon V%C3%83%C2%ADtor Marques Matos  27/12/2016 16:39
    Parabens


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