quinta-feira, 22 jul 2010
Este artigo pode ser visto como uma
continuação deste outro: A economia americana
continua em recessão - como previsto
Sob
vários aspectos, os números do desemprego americano são muito piores do que
aparentam [9,5% em junho]. Um fator que abrandou a realidade foi a escolha
do período para se fazer o censo [nos
EUA, é constitucionalmente obrigatório fazer o censo a cada 10 anos]. O governo contratou algo como 700.000
trabalhadores para coletar dados — pessoas essas que de outra forma teriam
enormes dificuldades em navegar em meio ao revolto mercado de trabalho. Elas aceitaram esses empregos porque eram
algo certo, pagavam decentemente, e não exigiam habilidades extraordinárias (qualquer
um pode tocar campainha e importunar as pessoas, perguntando sobre sua vida
pessoal).
Isso
inflou os números do mercado de trabalho por um tempo. Mas agora esses empregos estão chegando ao
fim — um evento extremamente atípico, dado que os empregos governamentais
normalmente são eternos. E todas essas
pessoas estão agora tendo de enfrentar a revigorante realidade de ter de
procurar emprego em uma economia destroçada pelo governo.
A
imprensa tem dedicado um grande espaço prestando tributos a essas pessoas e
seus trabalhos, e em seguida lamuriando-se sobre o destino delas, agora que
seus empregos estão desaparecendo. E
isso faz surgir algumas questões. Se
esses trabalhos são tão ótimos e imprescindíveis, por que eles deveriam ser
eliminados por completo? Com certeza há
alguma maneira de essas pessoas serem transferidas para outro tipo de serviço
financiado pelo governo. Desta forma —
poderíamos pensar —, as pessoas teriam empregos, todo o trabalho seria feito e
todos estariam em melhores condições.
Certo? Errado.
Um serviço censitário ordenado pelo governo não executa nenhuma função
de mercado, e os salários desses empregados são pagos pelos pagadores de
impostos, o que significa que esses trabalhos são na realidade destruidores de
riqueza. Eles retiram riqueza e
mão-de-obra do setor privado e as desperdiçam no setor público, o setor
devastador. Com efeito, podemos ir além
e dizer que eliminar esses empregos é na realidade um passo rumo à recuperação
econômica.
Considerando-se
a maneira como as falácias econômicas tornaram-se virais nos dias de hoje, é
necessário explicar a questão mais detalhadamente. O ponto principal de se criar empregos não
são apenas os empregos em si: é necessário que os empregos sejam produtivos e
economicamente viáveis.
Seria
possível, por exemplo, reduzir o desemprego a níveis mínimos simplesmente
impondo um retrocesso tecnológico.
Poderíamos abolir a indústria de transportes de carga e obrigar todas as
mercadorias a serem transportadas de carro, criando desta forma milhões de
novos postos de trabalho. Ou poderíamos
também abolir o automóvel e criar ainda mais empregos para pessoas que
transportariam mercadorias em suas costas.
Em
cada caso, o número de empregos criados iria superar amplamente o número de
empregos perdidos. Porém, será que
estaríamos mais ricos em consequência disso?
De forma alguma. Tudo isso
equivaleria a uma queda compulsória no padrão de vida de todos. Tais tipos de políticas violam a máxima de
Henry Hazlitt, que diz que parte do bom pensamento econômico consiste em ver o
que é bom não apenas para um grupo (os desempregados), mas para todos os grupos
da sociedade, e não apenas no curto prazo mas também no longo prazo.
O
objetivo dos empregos é fazer com que as pessoas trabalhem visando a fornecer
bens e serviços que são valorizados pelo mercado. Se não houver uma demanda guiada pelo
consumidor para as coisas que as pessoas estão produzindo, então seus empregos
nada mais são do que um desperdício, ocupações desnecessárias e
supérfluas. De nada adianta para a
sociedade se todos estiverem empregados construindo pirâmides, contrariamente
ao que Keynes certa vez disse. Seria
irracional gerir um negócio que emprega milhares de pessoas cuja única função é
quebrar celulares novos apenas para consertá-los em seguida, ou cavar buracos
para enchê-los novamente. E por que é
assim? Porque não há um motivo
economicamente racional para que essas tarefas existam.
É
claro que um empreendedor endinheirado pode criar um negócio que não sirva para
absolutamente nada, ou até mesmo algo que dê prejuízos contínuos e seja
socialmente ridículo. Porém, para
sustentar tal empreendimento, ele terá de seguir injetando dinheiro
continuamente por um período de tempo indefinido, até a bancarrota. Porém, no dia em que ele decidir parar de
continuar fazendo essa insanidade, os empregos ali irão desaparecer.
Obviamente,
nenhum empreendedor em seu perfeito juízo quer fazer tal insânia. Se você quiser criar e conservar empregos
economicamente irracionais, só existe uma maneira de fazer isso: pelo governo. O governo confisca dinheiro do setor privado
e o redistribui de várias e ineficientes maneiras, sem se preocupar com o
detalhe de se o emprego criado desta forma é realmente válido e necessário.
A
tributação e o endividamento necessários para financiar os empregos
governamentais são extraídos diretamente da verdadeira máquina de criação de
riqueza da economia. E isso não é válido
apenas para os empregos criados pelo censo, mas também para todos os empregos
do setor público, sejam eles na burocracia federal, no complexo militar ou no
setor educacional. Por essa razão, a
folha de pagamentos do setor público realmente deveria ser excluída das
estatísticas de emprego.
Uma
objeção que pode surgir é a de que alguns dos empregos públicos são realmente
necessários para o bem-estar econômico de longo prazo. Precisamos de uma sociedade educada —
poder-se-ia dizer —, e mesmo os resultados do censo são necessários para o planejamento
do setor privado. Porém, se isso for
verdade, não há por que imaginar que o setor privado não teria os incentivos
para fornecer ele próprio esses serviços.
E,
de fato, ele o faz. O setor privado cada
vez mais possui meios sofisticados para educar seus empregados e compensar os
produtos inferiores legados pelas escolas públicas. O mesmo é válido para os resultados do censo,
os quais são utilizados pelo estado para se informar sobre os cidadãos e poder
controlá-los melhor; o setor privado tem seus próprios métodos de avaliar as demandas
demográficas em relação às localidades de novas empresas e ao desenvolvimento
de novos produtos. Mesmo se houvesse
alguns empregos governamentais que de fato gerassem resultados produtivos,
estes poderiam ser realizados mediante lucros, e não por extorsão.
Enquanto
todos ficam obcecados com as aflições dos empregados do censo, há nos EUA uma
genuína calamidade ocorrendo no setor privado, o qual está sob ataque diário da
administração Obama. É por isso que os
últimos relatórios e estatísticas não mostram crescimento naquele mercado de
trabalho que mais interessa. Vemos
apenas um ínfimo aumento em relação ao número de empregos que havia há dez
anos, sendo que todos os empregos criados durante a época da expansão artificial
da economia já foram dizimados pela atual recessão.
É
isso que precisa de atenção, mas não por meio de programas governamentais. É necessário, ao contrário, uma total
ausência de programas governamentais, além de cortes acentuados nos impostos e
nas regulamentações de todos os tipos — e uniformemente, para tudo e
todos. É preciso que o governo permita
que haja reduções salariais em alguns setores, o que irá permitir que o emprego
possa crescer em outros setores. O
governo não pode planejar um crescimento genuíno dos empregos. Tudo o que ele pode fazer é sair do caminho e
deixar que isso aconteça.