A memória dos brasileiros é curta,
já diz o ditado. Para tentar refrescar
esta memória, pretendo resgatar alguns dados sobre o importante setor
siderúrgico brasileiro. Impressiona a
capacidade com que a esquerda finge não ter defendido as idéias que defendeu e,
pior ainda, até se apropria do sucesso alheio como se fosse obra sua. Como os mesmos argumentos usados contra a
privatização das siderúrgicas são hoje usados contra outros setores, trazer à
tona estes dados será de extrema valia ao debate.
A década de 1970 viu o nascimento de
inúmeras estatais sob o regime militar. Em
1973, alguns ministros propuseram a Médici a criação de uma holding do setor
siderúrgico. No documento que assinaram,
a meta de 20 milhões de toneladas de aço a serem produzidas no país passava a
ser vista como insuficiente para atender o crescimento. A criação da Siderbrás foi autorizada em
setembro de 1973 para atender a demanda. Duas décadas depois, o país não havia
acrescentado uma tonelada extra de aço à sua produção. Na verdade, as 20 milhões de toneladas
consideradas insuficientes nesta época permaneciam sendo a produção nacional de
1990, enquanto a Siderbrás se encontrava falida.
Aqui vale uma pausa para tratar de
um mito bastante difundido. Muitos
defensores do estado como empresário alegam que, sem seus esforços iniciais,
sequer haveria empresas produtoras para serem privatizadas depois. Eles alegam que os capitalistas não teriam
feito os pesados investimentos necessários. A falácia fica evidente quando pensamos que o
setor siderúrgico americano, para ficar num exemplo, não nasceu do governo, mas
do setor privado. Além dele, as
ferrovias e vários outros setores intensivos em capital nasceram de mãos
privadas. Mesmo no Brasil, o mega-investidor
americano Percival Farquhar, cujo império rivalizava apenas com o de Matarazzo
ou Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, tinha a pretensão de transformar uma
enorme área no Ruhr brasileiro. O grande
obstáculo para este empreendimento foi justamente o governo, que chegou a
confiscar seus ativos.
Voltando para a caótica situação do
setor no começo da década de 1990, as estimativas de um diretor do BNDES eram que,
de 1985 a 1989, a siderurgia brasileira havia consumido US$ 10,4 bilhões da
União, sem acrescentar um grama sequer à produção de aço. Que eficiência! Esse gigantesco ralo de recursos públicos
tinha que ser tampado, e as privatizações eram o único meio viável. Mas, quando chegara o momento da primeira
venda, da Usiminas, um grupo de opositores barulhentos e violentos tentou
impedir o leilão. O grupo era formado
por entidades como CUT, CGT, MR-8, PT, PCdoB, PDT e UNE. Estas seriam as figuras carimbadas que em
todos os leilões mais importantes fariam manifestos, muitas vezes violentos,
buscando preservar as estatais deficitárias.
Não obstante, a venda da Usiminas
foi um sucesso, e teve ágio de 14,3% sobre o preço mínimo estabelecido. Poderia ter sido bem maior, não fossem as
incertezas geradas justamente pela esquerda no processo, especialmente
afugentando os estrangeiros. Mais de 80
pessoas ficaram feridas, sendo 52 policiais atingidos por pedras ou artefatos
similares. O deputado federal Vivaldo
Barbosa, do PDT de Brizola, celebrou a reduzida participação de estrangeiros no
leilão. Para os dinossauros da esquerda,
a entrada de capital estrangeiro para investir no país representava uma enorme
ameaça. Talvez por isso a Coréia do
Norte ou Cuba sejam tão "ricas", protegidas desta maldição terrível. Já Cingapura...
Em seguida, vieram os leilões de
empresas como Acesita, Cosipa, CST e finalmente a CSN. Esta foi alvo de dezenas de ações judiciais
para tentar barrar o leilão, a maioria impetrada por sindicatos. Já os empregados dessas empresas compreenderam
os benefícios da privatização, ao menos para aqueles dispostos a trabalhar de
fato, e muitos aderiram por meio de clubes de investimento, tornando-se
acionistas das novas empresas privadas. Enquanto
isso, figuras como Lindberg Farias, atualmente eleito como senador pelo PT do
Rio, tentavam angariar adeptos para seus protestos contra a privatização. O então presidente do PT, Luís Inácio Lula da
Silva, condenou a privatização da Acesita como um "equívoco do presidente
Itamar".
Do outro lado da batalha, o grupo
Gerdau foi um dos grandes vitoriosos do processo de desestatização, e hoje é
uma respeitada multinacional brasileira, uma gigante do setor. É importante destacar quem era quem nesta
guerra das privatizações, para deixar claro quem eram aqueles que lutavam pelo
progresso do país, por uma economia moderna, competitiva e dinâmica, e quem
eram aqueles que desejavam preservar o status quo, as tetas estatais para os
políticos e seus apaniguados. A história
não pode ser alterada ao bel prazer dos governantes atuais, apesar da torcida
que estes fazem pela amnésia popular. Já
pensou se os eleitores todos lembrarem que Lula e seu PT foram totalmente
contra o Plano Real, criando diversas barreiras para impedir sua aprovação?
Se a produção brasileira de aço
tinha permanecido estável de 1970 a 1990, girando em torno de 20 milhões de
toneladas, já em 2004, livre das amarras estatais, o setor produziu quase 33
milhões de toneladas. Trata-se de um
incremento de 65% em 14 anos! Mas isso
não era tudo. O setor, que é altamente
poluente, tornara-se bem mais limpo sob o controle privado. Em uma sentença judicial de 2005 contra a
CSN, a juíza declarou: "Cumpre salientar o fato notório de que, alguns anos
após a privatização, a CSN sob nova administração, passou a adotar uma política
de gestão ambiental de vanguarda, bem como a investir seriamente em processos
industriais mais limpos e eficientes". Entretanto,
a melhoria toda não foi suficiente para livrar a empresa da condenação, que
veio por conta de sua fase estatal.
Como se pode ver em mais este caso
do setor siderúrgico, não existem argumentos sérios ou convincentes para ser
contrário às privatizações. Todos saem
ganhando, à exceção dos mesmos grupos de sempre, que costumam se opor à venda
das estatais por motivos ideológicos, corporativistas ou fisiológicos. Em outras palavras, aqueles que querem manter
privilégios à custa do povo, ainda que, para tanto, tenham que abusar da
retórica nacionalista. Vale lembrar que
o setor siderúrgico era considerado extremamente "estratégico". Será que as ameaças fantasmas se concretizaram
com as privatizações? Pois é, mas a
mesma turma de antes repete hoje os mesmos "argumentos" contra a privatização
de outros setores, ignorando os fatos históricos. Se o povo tivesse mais memória, a esquerda
estaria perdida!
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Leia também:
Sobre as privatizações
(Parte 1)
Sobre as privatizações
(final)