Que bom que o dia das eleições está chegando, pois ninguém
aguenta mais. Há vários relatos de que
as manifestações de apoio, ou contrárias, a um ou outro candidato geraram
discórdias e brigas entre várias pessoas que até então eram amigas de longa
data. É lamentável ver amizades sendo rompidas
por algo tão putrefato quanto a política.
As divergências políticas geram discussões, que geram
ofensas e xingamentos, que causam o fim de amizades e um rancor
contraproducente.
Mas por que esse clima de guerra? Afinal, a democracia não
é o supremo sistema que os brasileiros se orgulham de ter alcançado? Não
deveria estar tudo correndo pacificamente na plenitude democrática?
Muito pelo contrário: essas brigas que estamos
testemunhando é uma consequência direta e inexorável da democracia. Dado que o estado é um inerente gerador de
conflitos, o processo eleitoral democrático inevitavelmente transfere a
característica antissocial do estado para as pessoas — e essa característica
fica em maior evidência naqueles que mais se engajam na política.
Uma explicação concisa e precisa de como a horrível e
detestável democracia aflora estes sentimentos antissociais nas pessoas pode
ser encontrada neste
vídeo, que foi produzido para mostrar como a democracia é maravilhosa, o
que torna tudo ainda mais medonho:
Quatro jovens estão decidindo onde irão passar um feriado: na praia ou na serra. Três querem praia e uma quer serra. Sendo assim, a democracia impera e
fica decidido que os quatro devem ir para a praia.
No entanto, dado que intenção do vídeo é glorificar a
democracia, as implicações práticas daquilo que o vídeo realmente defende são
bem mais tenebrosas do que parecem à primeira vista. Se o cenário é a democracia, então, ao se transferir
essa decisão democrática (3 contra 1) para o estado, como era a intenção do
vídeo, os três jovens que venceram a eleição adquiriram o "direito" de coagir e
obrigar a garota que preferia a serra não só a ir para a praia como também a
pagar por todo o pacote da viagem com as opções que eles escolheram.
Não, ela não poderia ir sozinha para a serra e deixar que
os outros três fossem para a praia — afinal, "deu praia" na eleição. E era
para nós acharmos o vídeo sublime!
Adaptando o vídeo para as eleições atuais, imaginem que o
destino da viagem fosse escolhido por uma quinta pessoa, e fossem destinos que
ninguém quisesse ir, como Chernobyl e Sibéria. Se o seu eventual ódio ao frio
fosse maior do que seu medo de radiação, você iria transferir esse ódio para
todos aqueles que estivessem apoiando uma viagem a Sibéria, dado que você seria
obrigado a ir e a pagar pela viagem. Por
outro lado, se você soubesse que a radiação irá resultar em sequelas que no
longo prazo o levariam à morte, você iria bradar incessantemente contra os
eleitores de Chernobyl.
Mas essa adaptação ainda está muito aquém da realidade das
eleições, pois o que são alguns dias desagradáveis de viagem quando comparados a
anos com uma pessoa que você detesta tomando seu dinheiro e mandando em você?
E é isso que está em jogo nessas eleições. Sendo assim, é perfeitamente compreensível
que amigos briguem por conta de suas divergências políticas.
Todavia, nenhuma das partes tem razão. Embora você
certamente acredite que esteja do lado do bem (ou do menor mal) e tenha toda a convicção
de que sua escolha é a melhor (e você pode ter razão quanto a isso), a outra
parte pode ter objetivos e tendências diferentes da sua e pode pensar a mesma
coisa em relação à escolha dela. Na
disputa da viagem, fica claro que a melhor solução seria deixar cada um gastar
o seu próprio dinheiro livremente, escolhendo o destino que preferir, e ir
sozinho. Então, se você está tentando impor sua escolha sobre os outros, seja
essa escolha qual for, você está errado.
O que alegam os defensores da escolha da viagem "menor ruim"
é que, já que teremos de viajar de qualquer jeito, é preferível que nos
engajemos na campanha do destino "menos pior" para não termos que viajar para
um lugar pior ainda. "Você poderia estar na Sibéria, passando frio, mas ao
menos observando a bela natureza em vez de estar aqui no meio dessa radiação de
Chernobyl que irá nos matar em pouco tempo!"
E, desse modo, viagens e mais viagens vão sendo marcadas
para locais aonde quase ninguém quer ir, pois ninguém está defendendo a solução
correta.
É imperativo nos livrarmos dessa que é a mais perigosa das
superstições: a crença na
autoridade. As pessoas têm de
entender que uma
porcentagem numérica não confere
poder superior a ninguém, e que ninguém pode magicamente delegar direitos
que não possua. É vital que as pessoas comecem a pensar além da democracia.
Os libertários são os únicos que não querem impor à força
seu destino aos perdedores (e ausentes) de uma eleição. Os libertários são a
favor de que cada um escolha o seu destino, que cada um faça o que quiser com
seu próprio dinheiro e sua propriedade. Enquanto todos parecem estar inebriados
com o circo eleitoral e se ocupam de defender a viagem preferida (ou a que
menos desgostam), apenas os libertários seguem dizendo o que importa: não
queremos obrigar ninguém a viajar para onde não queiram.
Quem quiser ir para Chernobyl ou para a Sibéria, que vá, e
pague pela viagem. Aposto que ninguém está brigando por causa dos destinos que
os outros escolheram viajar nas próprias férias. Mas se há alguém querendo lhe
obrigar a ir passar uns dias em Chernobyl (ou na Sibéria), é óbvio que isso irá
gerar brigas.