Com o
lançamento do "livro" intitulado Historiadores
Pela Democracia, escrito pela elite de
pensadores de esquerda da área de história do país, o termo 'ultraliberal'
voltou a ser usado para denominar o movimento liberal/libertário do país, do
qual este Instituto é apontado como parte.
Embora tenha
sido claramente empregado no sentido pejorativo, a pergunta é válida: seria
mesmo uma má ideia utilizarmos o termo 'ultraliberal' para nos descrever?
Para responder
a isso, retornemos às origens.
Existem
duas formas de interpretar o termo 'liberal'. Nos países anglo-saxões, principalmente
depois do New Deal, o
termo foi apossado
pela esquerda, e perdeu completamente qualquer sentido ou conexão com o
liberalismo clássico.
No resto
do mundo, inclusive na Europa
continental, o termo 'liberal' continua sendo empregado como a evolução
natural do liberalismo clássico, adaptado ao estado de bem-estar social
vigente na Europa.
Mas o que
aconteceu com aqueles que elaboraram e avançaram os ideais e a filosofia do
liberalismo clássico na direção da genuína liberdade? Eles ficaram conhecidos,
primeiramente nos EUA, como libertários.
Essa mudança ficou consolidada com o histórico texto da década de 1950 escrito
por Dean Russel: Quem
são os libertários?
O
problema para nós se inicia na chegada desse termo ao Brasil, ocorrida na
década passada. Ao contrário do que ocorria no resto do mundo, especialmente
nos EUA, em nosso país já existia uma corrente
ideológica e política que se descrevia como libertária, e ela era exatamente
o oposto do que os defensores da liberdade acreditam.
Por essas
razões, pessoas mais velhas podem se assustar ao ouvirem o termo libertário,
inclusive associando a grupos
radicais que promoviam milícias armadas no país durante a ditadura.
Em Portugal,
o termo libertário era, na década de 1950, a forma como os
comunistas se denominavam em algumas situações. Não foi diferente no
resto da América Latina.
As opções
tradicionais, liberal e libertário, começam assim a ficarem prejudicas.
Se utilizarmos
o termo 'liberal', ou prejudicamos nossa comunicação com nossos colegas
anglo-saxões, ou nos associamos a uma corrente muito distinta que existe na
Europa continental.
Se utilizarmos
o termo 'libertário' (além de não ser sonoramente agradável), podemos ser
confundidos com nossos opositores comunistas.
O termo 'liberal
clássico' também não é adequado, uma vez que representou um movimento
específico de séculos passados, do qual se originaram diversas correntes
políticas atuais (com exceção das socialistas), incluindo o conservadorismo americano e
britânico.
Assim
sendo, a pergunta não é mais por que adotar o termo 'ultraliberal'. Mas sim,
por que não o adotar? O termo já é usado
até em Portugal.
Poderíamos
inclusive usar as quatro subcategorias que Walter
Block propõe para
diferenciar aqueles que lutam pela liberdade no mundo atual:
- Anarco-capitalistas: a corrente mais radical do
ultraliberalismo, associada em grande parte à obra de Murray Rothbard, que
descreve uma sociedade em que o estado não mais exista, de onde toda a ordem
moral surge do conceito de autopropriedade. Também são expoentes desse
pensamento as figuras de Hans-Hermann
Hoppe (do lado austríaco) e David Friedman (do lado chicaguista).
- Minarquistas e objetivistas: são aqueles que acreditam que o estado
tem um papel, mas de maneira muito restrita, somente no que concerne a
segurança e justiça. Nesta categoria encontramos o pensamento de Ayn Rand e Robert Nozick, em sua
obra clássica Anarquia, Estado e Utopia
(obra descrita pelo austríaco Peter Boetke como fundamental para entendermos
o processo de liberdade).
- Constitucionalistas
norte-americanos: são
a definição mais próxima do que existe hoje do termo liberalismo clássico. Por
causa do documento produzido à época, que refletia exatamente o que se
acreditava na filosofia, são defensores devotos da Constituição
Norte-Americana. O exemplo mais clássico é a figura de Ron Paul.
- Neoliberais: apesar da polêmica porém histórica
definição, atribui-se
o termo neoliberalismo às políticas de Milton Friedman e, em muito menor
escala, a Friedrich Hayek (deste principalmente em relação à sua exposição na
obra Lei, Legislação e Liberdade).
Neoliberais acreditam que existe um espaço consideravelmente maior para o
governo do que o resto dos ultraliberais, mas ainda menor do que gostaria um
social-democrata. Neoliberais, ao acreditarem existir "intervenções capazes
de aprimorar o mercado", podem ser descritos
como defensores de uma mistura de social-democracia, keynesianismo e alguma
liberdade de mercado em termos microeconômicos. Um neoliberal defenderia
políticas social-democratas usando o mercado, e não o governo. Em vez de
escolas públicas, tem-se o voucher.
A luta à
frente será árdua, porém, sabendo quem somos, descobriremos aonde vamos. Ultraliberais,
ao ataque!