Em seu estupendo livro A Lei, Frédéric Bastiat
escreveu:
O
estatismo, assim como as velhas ideias que o originaram, não consegue fazer uma
distinção entre governo e sociedade. Consequentemente, cada vez que nos opomos
a uma atividade desempenhada pelo governo, os estatistas concluem que nos
opomos por completo à existência desta atividade.
Se
desaprovamos a educação pública, os estatistas dizem que nos opomos a qualquer tipo
de educação. Se desaprovamos o protecionismo, eles dizem que somos contra a indústria
nacional. Se desaprovamos uma religião oficializada pelo estado, eles dizem que
somos contra todas as religiões. Se desaprovamos o igualitarismo imposto pelo
estado, eles concluem que somos contrários a um tratamento igualitário para
todos. E assim por diante. Os estatistas ainda irão nos acusar de não querermos
que as pessoas se alimentem, pois não queremos que a agricultura seja
estatizada.
Bastiat morreu em 1850, o que mostra o quão antigo é
esse tipo de argumento retórico. O pior é que, apesar de suas evidentes falácias,
tal "raciocínio" ainda é extremamente utilizado. E o que é ainda pior: há muitos
que o levam o sério.
Eis alguns exemplos modernos:
Se você é contra o governo impor um salário mínimo,
você é contra os pobres.
Se você é contra obrigar empresas a pagar licença-maternidade,
você é contra as famílias.
Se você é contra a saúde pública, você
é a favor de os pobres morrerem nas ruas, doentes e sem acesso a serviços médicos.
Se você é contra tarifas de importação e
restrições ao livre
comércio, você é contra os trabalhadores industriais terem empregos a altos
salários.
Se você é contra regulamentações estatais,
você é a favor de as pessoas serem fraudadas, envenenadas e assassinadas
indiscriminadamente por empresas.
Se você é contra o governo conceder créditos subsidiados com o
dinheiro de impostos, você é a favor de recessões.
Se você é contra a educação estatal, você é
contra a educação dos pobres.
Se você é contra intervenções militares
externas, você é contra a paz mundial e a favor de ditadores sanguinários.
Se você é contra a "guerra às drogas", você é
a favor do vício, da devassidão e da destruição causada pelas drogas.
Se você é contra a regulamentação de profissões
e as licenças ocupacionais, você é a favor de açougueiros se passarem por
médicos e de homicidas construírem prédios e pontes.
Se você é contra o estado gerir a Previdência,
você é a favor que os velhinhos morram no abandono.
Se você é contra a democracia, você
é a favor de ditaduras.
Se você é contra agências reguladoras,
você é a favor de empresas prestarem maus serviços e cobrarem caro por isso (opa, espere!).
E funciona também na direção oposta, com falácias idênticas.
Se você é a favor da desestatização do casamento
(inclusive o homossexual), você é contra a família tradicional.
Se você é a favor da descriminalização da prostituição,
você é contra a moral e os bons costumes.
Se você é a favor da redução de impostos sobre
os mais ricos, você é contra a igualdade.
A lista pode ser ampliada indefinidamente, com falácias
à esquerda e à direita.