Os produtos da Apple sempre foram bonitos. Ainda que
você não seja fã da empresa, não há como negar que a Apple utiliza materiais de
primeira para criar produtos vistosos e duráveis. E isso vale para praticamente
tudo que a empresa faz, com uma única e gritante exceção: os cabos do
carregador.
Hoje, já é de conhecimento geral que os cabos da
Apple começam a se
desintegrar após seis meses de uso contínuo. E isso tem sido uma constante,
para qualquer que seja o produto — MacBook, iPhones, iPads e adaptadores.
E sempre foi assim ao longo das várias gerações destes produtos.
Meu primeiro iPhone, ainda da primeira geração,
tinha um cabo que sucumbiu em 2009. Já o cabo do meu iPhone 6 também se
desintegrou menos de um ano depois que o adquiri.
Esse fenômeno criou toda uma indústria paralela de
cabos substitutos para os produtos da Apple, bem como uma indústria especializada
em vender produtos que impedem os cabos da Apple de se desintegrarem (digite no
Google "Sugru"
ou "Apple
cable protectors"). De alguma forma, esses fabricantes paralelos de
acessórios Apple não têm problemas para fazer
cabos muito mais duráveis que os da própria Apple. Com efeito, já há websites que
fornecem guias de compra para cabos substitutos de iPhone que não apenas são
bonitos como também muito mais duráveis do que os originais.
Como minha família sempre foi consumidora da Apple,
com vários MacBooks, iPads e iPhones, nós chegamos a um ponto em que já substituímos
todos os cabos originais da Apple por cabos alternativos, os quais vêm se
mantendo em condições impecáveis até hoje.
O que nos leva à pergunta derradeira: por que a
Apple não utiliza seus bilhões de dólares para criar um simples cabo que não irá
se despedaçar?
Várias explicações já foram dadas para a aparente
incompetência da Apple no ramo da fabricação de cabos, mas uma se destaca:
o Greenpeace. Em 2009, por meio de uma campanha mundial chamada Green My
Apple ("Torne meu Apple mais verde"), o Greenpeace pressionou a Apple e
conseguiu fazer a empresa remover o
PVC dos seus cabos. PVC é um policloreto de vinil
— ou apenas vinil — e é o terceiro polímero plástico mais popular do
mundo.
Desde então, a Apple, na seção "Ambiente" de seu
website, se gaba de que todos os seus produtos são livres de PVC.
Já os cabos das empresas especializadas em vender acessórios
substitutos explicitamente
contêm PVC
em sua composição.
Não sou engenheiro químico ou ambiental, então não
posso dizer com exatidão se a decisão da Apple é cientificamente sensata. O que
realmente sei é que o PVC é um dos produtos químicos mais comuns do mundo. Nos
EUA, ele é usado em 66% dos encanamentos que fornecem água potável, na maioria
dos isolamentos em cabos elétricos, em roupas impermeabilizadas, nos pavimentos
de vinil e em luvas médicas. Em outras palavras, não se trata de algo mortiferamente
tóxico.
Como no caso de qualquer outro plástico, eu obviamente
não sugeriria sua ingestão ou mesmo inalar sua fumaça no caso de um eventual
incêndio; fora isso, ele é seguro.
Sendo assim, por que o Greenpeace se opunha ao uso
de PVC pela Apple? Seu site não é claro quanto a isso; ele faz apenas algumas
referências vagas a "plásticos
venenosos" e 'dificuldade de descarte'. Houve uma época em que acreditávamos
que plásticos como o PVC permaneceriam no meio ambiente por milhares de anos,
mas desde então já aprendemos que há bactérias e fungos que efetivamente se
alimentam de PVC para o jantar. No passado, estabilizadores à base de chumbo eram
utilizados na fabricação do PVC, mas as substituições adequadas já estão bem estabelecidas e amplamente utilizadas.
O que a Apple conseguiu ao ceder ao Greenpeace e banir o PVC? Sua
reputação de fazer acessórios de qualidade foi arruinada. Pior: bilhões de
cabos de Apple quebrados já foram prematuramente enviados para o aterro
sanitário. E os bilhões de cabos substitutos também serão
enviados para aterros sanitários quando os aparelhos que eles carregam se tornarem
obsoletos.
Embora a Apple não mais utilize PVC em seus cabos, milhões
de pessoas agora utilizam cabos substitutos (e baratos) da China, que podem
usar produtos químicos tóxicos como chumbo, arsênio, mercúrio e retardadores de chama
à base de bromo. Na mais benéfica das hipóteses, um cabo substituto de alta
qualidade conterá PVC, o que não só anula totalmente o esforço do Greenpeace e
da Apple, como ainda duplica o volume total de cabos que serão descartados no
futuro.
No final, o único que ganhou com a abolição do PVC
pela Apple foi o Greenpeace e sua sensação de auto-satisfação. Já os
consumidores, a reputação da Apple e o próprio ambiente ficaram em pior situação.
Em 2007, Steve Jobs falou abertamente sobre a
campanha do Greenpeace contra a Apple. Disse ele:
Penso
que sua organização fala muito sobre princípios bonitos, mas se baseia muito
pouco em fatos. [...] Vocês dão importância excessiva a esses princípios venerados
e importância escassa à ciência e à engenharia. Seria de grande valia para o
mundo se sua organização contratasse mais engenheiros e realmente dialogasse
mais abertamente com empresas para descobrir o que elas estão realmente
fazendo, e não apenas ficar falando platitudes com linguagens floridas.