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A natureza da Matrix


 

No filme Matrix, uma pequena porcentagem da humanidade possui uma percepção diferente das demais, aquilo que as máquinas chamam de anomalia, e são essas pessoas que acabam chegando a Morfeu e se deparando com a escolha entre a pílula vermelha e a pílula azul. O que leva essas pessoas a percorrer este caminho é a necessidade que elas sentem de conhecer a verdade, é a pergunta que as impulsiona e é a pergunta que as leva até Morfeu. Na cena em que Morfeu oferece a pílula para Neo, o diálogo segue assim:

Neo: Não gosto de pensar que não controlo minha vida.

Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer. Vou te dizer por que está aqui. Você sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida inteira: há algo errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando?

Em nossa realidade, esta "anomalia" também só acomete um número reduzido de pessoas. São poucos os indivíduos que buscam a verdade, os questionadores que percebem que algo no mundo não está certo e vão atrás de respostas, não parando até encontrá-las. A maioria aceita passivamente qualquer coisa que lhes digam, por mais ilógica que possa ser. E existem muitas outras pessoas que ganham com a perpetuação da mentira e que fazem qualquer coisa para sustentá-la no inconsciente de todos.

Sempre fui um desses questionadores e acredito que a maioria dos que, de uma forma ou de outra, chegaram até este blog, possuem a mesma sensação que Neo — de que há algo errado no mundo — e que de alguma maneira associam a fonte dessa sensação ao aparato social de compulsão e coerção, o Estado. Infelizmente não existe nada como a pílula vermelha do filme, um comprimido capaz de libertar a mente das pessoas e fazê-las enxergar a realidade em questão de poucos minutos, fazendo-as acordar e ver onde realmente estão, olhar para o lado e ver seus irmãos humanos todos presos dentro da Matrix, acreditando que aquilo é o real. O nosso caminho é mais demorado, envolve muitos questionamentos, muita pesquisa e muita leitura, e cada pessoa acaba seguindo um caminho diferente.

Comecei a me aprofundar mais neste caminho do conhecimento alguns anos atrás, com o positivista igualitário Milton Friedman, que apesar de não seguir princípio ético algum e de utilizar uma teoria econômica completamente falaciosa, conseguiu chegar a algumas conclusões corretas, que podem ser confirmadas através da teoria econômica apropriada. Em Liberdade de escolher, Friedman utilizou de forma brilhante alguns exemplos empíricos históricos para desmoronar muitas mentiras propagadas pelos ideólogos do Estado, embora viesse a defender e inclusive trabalhar pessoalmente para implementar muitas outras. Ainda insatisfeito, segui meu rumo até trombar com Hayek e Mises, conhecendo a Escola Austríaca de economia. Ação Humana, o tratado econômico de Mises, foi decisivo neste meu caminho ao demonstrar cientificamente a invalidade de todas as medidas econômicas impostas pelos Estados (daí a importância do estudo da ciência econômica para se conseguir enxergar a verdade). Outros livros foram muito importantes, bem como diversos textos e artigos on-line, com destaque para o Mises Institute, Lew Rockwell e o blog de traduções Libertyzine, mas acredito que um livro em particular tenha sido a minha pílula vermelha, aquilo que me despertou para a realidade, o The Ethics of Liberty, de Murray Rothbard, e é um dos mais reveladores capítulos desse livro que eu apresento a quem não conhece, com o intuito de, se não for o suficiente para libertar definitivamente a mente, que sirva como mais um passo no caminho para a verdade. E, como Morfeu, é somente a verdade que Rothbard oferece. O diálogo anterior segue deste modo:

Neo: Da Matrix?

Morfeu: Você deseja saber o que ela é?

Neo: Sim.

Morfeu: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.

Neo: Que verdade?

Morfeu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, matrix_pill.jpgnasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para a sua mente.

Neste capítulo, Rothbard igualmente revela a verdade a seus leitores. E mostra porque uma verdade tão simples, a de que defender o Estado — qualquer Estado — é defender o crime, é tão difícil de ser enxergada. Explica porque uma maioria, que apesar de ser pacífica e obter sua riqueza através de trocas voluntárias, acaba defendendo ou sendo leniente ao parasitismo estatal em detrimento da sociedade livre. De certo que o livro completo seria mais consistente para desempenhar esta função (e pretendo concluir a tradução deste tratado ético), mas este capítulo pode vir a ser a pílula vermelha de mais alguém. Contudo, deixo a seguir a sequência do diálogo, com o alerta que Morfeu faz ao Neo:

Morfeu: Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.

 Clique (ou não clique) abaixo para acessar o capítulo :

red-pill1.jpg

 A natureza do Estado



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comentários (23)

  • Guilherme Roesler  10/04/2008 14:29
    Fernando, sinceramente, não acho interessante o uso de imagens de politicos nos posts. Parece que o texto versa sobre aspectos especificos da politica nacional, e não sobre teoria política. Esses politicos são efemeros, e a filosofia politica não. Dá a impressão de que o texto é uma critica ao Lula a Dilma, quando na realidade é uma crítica ao estado de uma forma geral. Abraços e parabens pela tradução. Guilherme
  • Roberto Chiocca  10/04/2008 15:38
    Excelente o texto, é isso mesmo ,e os caminhos que nos levam a encontrar a verdade podem não ser os mesmos, mas o motivo é um só, não nos conformamos com a falta de liberdade. Parabéns PS: diferente do Guilherme eu acho até bom colocar a imagem dos politicos atuais para demonstrar que a realidade da qual falamos não é uma realidade abstrata, ou remota, é a NOSSA realidade, vivemos ela todos os dias.
  • Eric  10/04/2008 21:59
    Parabéns pelo texto Fernando! Excelente comparação! Mas tenho que concordar com o Guilherme sobre as fotos dos políticos, pois se estamos tratando da natureza do Estado, não importa se o político seja JESUS CRSITO, ele continua sendo um criminoso, pelo simples fato de ser um político. É neste sentido que não é tão interessante colocar a foto do Lula por exemplo, já que é evidente que a natureza pessoal do Lula é ordinária, natureza esta que é irrelevante para a natureza de sua posição social, ou melhor, posição anti-social.
  • Fernando Chiocca  14/04/2008 21:31
    Obrigado. E agradeço também as críticas da imagem. Elas são totalmente cabíveis e importantes de estarem aí para envitar que incautos pensem que o artigo linkado se trata de mais uma inútil crítica ao governante atual, pois quem é ou deixa de ser o governante da vez é realmente irrelevante frente ao conteúdo do texto. O Lula e essa Vilma Não-Sei-Do-Que são insignificantes, mas o artigo trata deles TAMBÉM. A questão da imagem é difícil e vcs opinaram sobre qual imagem "não usar"; porém, qual eu deveria "usar"? O texto realmente não versa sobre aspectos específicos da politica nacional, e sim sobre teoria política, mas no próprio texto há exemplos de algumas específicas situações políticas. Deveria eu usar uma imagem de Nixon ou de um imperador chinês, presentes no texto, ou a imagem de uma pintura de algum Rei indeterminado? Qual imagem poderia representar a natureza da maior instituição criminosa? Achei a imagem particularmente interessante pelo feliz ângulo que colocou uma coroa na cabeça de cada um, pois, além de sugerir que o texto de teoria política está relacionado com a nossa realidade cotidiana, também remete a relação feita no capítulo entre a idêntica origem do poder dos monarcas absolutistas e dos presidentes(ou de qualquer outro líder de estado), que está baseado e é dependente da aceitação da mentira pela maioria, incapaz de enxergar a verdade. A mesma origem do poder da Matrix que, conforme o Arquiteto explica melhor no Reloaded, é totalmente dependente da aceitação da mentira pela maioria. "Plantações" inteiras de seres humanos foram perdidas pois eles não acreditavam na mentira mal elaborada de versões anteriores da Matrix (na melhor versão eles conseguiram enganar 99% dos humanos e manejaram o 1% restante com o programa Oráculo).
  • André Luiz de Freitas Paranhos  15/04/2008 11:38
    Fantástica analogia Fernando. O Brasil não possue Ministérios da Educação e Cultura por acaso, foram criados pela ditadura militar para controlar o pensamento dos estudantes, agora esses ministérios são usados pela esquerda com a mesma finalidade: Criar um mundo virtual dentro do real e nos fazer crer que o mundo em que vivemos é o único possível de ser vivido. Façamos uma análise das diretrizes educacionais do MEC e das inúmeras secretarias de educação do país para verificarmos que não estamos tão longes da obra "1984" de Orwel. CHEGA DE MINISTÉRIOS DA VERDADE!
  • Helio Beltrao  30/05/2008 14:06
    Não há nada mais gratificante que tomar a pílula vermelha, e rasgar a fantasia da Matrix na qual vivemos! O "me engana que eu gosto" e o fetiche de ser liderado por terceiros é o modus operandi padrão dos que deixam a racionalidade e a individualidade esvair-se.
  • Stephen Austra-Beck  05/06/2008 16:52
    Eu apreciei muito este artigo, Fernando. O artigo e posterior discussão em resposta trouxe à mente que este von Mises tinha escrito: "Para os partidos de interesses especiais, todas as questões políticas parecem exclusivamente como problemas de táctica política. Seu objetivo final é fixado por eles desde o início. O seu objectivo é o de obter, à custa do resto da população, o máximo de vantagens e privilégios para os grupos que representam. partido a plataforma é destinado para disfarçar esse objectivo e dar-lhe uma certa aparência de justificação, mas em nenhuma circunstância a anunciar-lo publicamente como a meta de partido político. Os membros do partido , Em qualquer caso, saber qual é a sua meta, pois eles não precisam de ter que explicar a eles. Como muito do que deveria ser resultante para o mundo é, no entanto, uma questão meramente tácticas ". Ludwig von Mises: - Liberalismo
  • Fernando Chiocca  16/06/2008 22:57
    Encontrei um web site que faz uma analogia como a minha. Interessante. http://www.neolibertarian.com/about_us.html
  • HERALDO DUARTE  12/07/2008 13:14
    Meio Ambiente: Na captura de Morfeu, durante inrterrogatorio, o Agente digital biosintético, ele declara que não pertencemos a especie de mamiferos humanos, pois estes individuos não detroem seu proprio habitat até que não haja recuperação deixando sempre espaço para resiliência, migrando, achei esta observação interessante do autor.
  • Fernando Chiocca  19/08/2009 13:38
    Take the Red Pill\n\nby Thomas E. Woods, Jr.\n \nhttp://www.lewrockwell.com/woods/woods90.html
  • Fernando Chiocca  18/08/2010 16:58
  • Candido Leonel T. Rezende  15/09/2012 11:11
    Esse filme fala sobre os sistemas de significação, que no conceito de Jean Baudrillard são sistemas falsos de visualização, causado pelo consumismo ou não consumo. A muito tempo atrás eu li "À sombra das maiorias silenciosas" do Jean Baudrillard, veja o que ele escreve:

    [...]A massa absorve toda a energia social, mas não a refrata mais. Absorve todos os
    signos e todos os sentidos, mas não os repercute. Absorve todas as mensagens e as digere.
    Ela dá a todas as questões que lhe são postas uma resposta tautológica e circular. Nunca
    participa. Perpassada pelos fluxos e pelos testes, ela se comporta como massa, se limita a ser
    boa condutora dos fluxos, mas de todos os fluxos, boa condutora da informação, mas de
    qualquer informação, boa condutora de normas, mas de todas as normas; com isso, se limita a
    remeter o social à sua transparência absoluta, a só dar lugar aos efeitos do social e do poder,
    constelações flutuantes em torno desse núcleo imperceptível.[...]

    [...]Esse silêncio é insuportável. Ela é a incógnita da equação política, a incógnita que
    anula todas as equações políticas. Todo o mundo a interroga, mas nunca enquanto silêncio,
    sempre para fazê-la falar. Ora, a força de inércia das massas é insondável: literalmente
    nenhuma sondagem a fará aparecer, pois elas existem para eclipsá-la. Silêncio que balança o
    político e o social na hiper-realidade que conhecemos. Porque se o político procura captar as
    massas numa câmara de eco e de simulação social (os meios de comunicação, a informação),
    em compensação são as massas que se tornam a câmara de eco e de simulação gigantesca do
    social. Nunca houve manipulação. A partida foi jogada pelos dois, com as mesmas armas, e
    ninguém hoje poderia dizer quem a venceu: a simulação exercida pelo poder sobre as massas
    ou a simulação inversa, dirigida pelas massas ao poder que nelas se afunda.[...]

    Faz muito tempo que li, mas parece que ele faz algum tipo de ligação com "A Sociedade do espetáculo" do Guy Debord, só que com uma abordagem mais descontrutivista ou uma critic ao descontrutivismo.

    Por favor me corrijam se eu estiver errado.
  • Erick V.  09/12/2012 15:19
    Deveria haver também um link com uma "pílula azul", levando direto ao blog do Paulo Henrique Amorim.
  • Fabiano  31/03/2014 21:50
    Obrigado, Fernando. Alguns anos depois e o livro está lá disponível para download! Este livro foi (e ainda é) muito importante para mim.
    Grande abraço!
  • rafael  31/03/2014 23:59
    Bons livros são as pilulas vermelhas.
    Não tem outro jeito...a verdade aparece!


    Comecei a fazer isso com as pessoas ao meu redor,meus irmãos principalmente, numa abordadagem bem tranquila. Sempre indico alguma leitura, um video, um artigo bem fundamentado. Mas quem decide são eles...é maximo que podemos fazer!

    Muito obrigado Bruno....



  • Pedro H S Pereira  01/04/2014 04:03
    Eu já tomei a pilula vermelha.

    Eu sei de TODA a VERDADE ela é muito maior e pior do que você pode imaginar.
    Mas sim, temos escolha, temos uma saída.

    Procuro pessoas como você.
    Me responda por e-mail que te mando o material.

    Fraterno Abraço.
  • Ludmilla Veloso  01/04/2014 21:38
    Tem que ler a revolta de atlas e fountainhead.
  • Fernando Chiocca  21/05/2014 16:23
    Daniel Sanchez, editor do mises.org também escreveu hoje um artigo igual esse meu:

    Rothbard's Red Pill
    Waking up to the nature of the State
  • Gustavo Torres  21/05/2014 19:49
    Sempre disse isso para amigos que entram em contato com o libertarianismo (ou os que eu mesmo converto, haha).
    Uma vez que você entende a lógica (ou falta de) do Estado, sua "legitimidade" e "necessidade", não há volta.

  • Alicia Jaramillo   02/07/2015 19:03
    Se há uma ciência peliclas ficção que eu gosto é Matrix, agora eu estou vendo películas en HBO Matrix Reloaded poderia aproveitar a minha favorita. Sem dúvida, a próxima em 2016 será incrível.
  • Thiago Gonçalves Ledo  11/09/2015 00:18
    Prezados,
    gostaria de saber em mais detalhes os motivos de suas críticas a Milton Friedman.

    Hoje em dia ele é minha principal referência.
    Talvez eu esteja passando pelo mesmo processo que você descreveu.

    Obrigado.
  • Claudinei Alves moreira  12/12/2022 00:18
    Vendo aqui comentários de 2009! O escritor do meu ponto de vista é um visionário e viu algo muito a frente do seu tempo! É basicamente o que vivemos hoje! Parabéns pela analogia!


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